terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Capitulo 44 – Um domingo pra lá de cinzento

A noite não foi das mais tranquilas, acordei algumas vezes. Dizem que quando estamos muito cansados, o sono é ruim e não recupera cem por cento as energias. Só sei que só dormi pra valer mesmo depois das três da manhã. Levantei as nove e vi que o domingo era cinzento e sem sol. Fico meio macambúzio quando não tem sol, principalmente no fim de semana e no único dia de folga que tenho direito.  Se eu fosse um super herói seria o super homem pois renovo minhas energias com a luz e a força do sol. Me faz bem para a alma e para a mente.

Como não tinha jeito de mudar o tempo, resolvi ir assim mesmo fazer minha caminhada na Lagoa para depois almoçar na casa de Lara, com quem mal havia falado nos dois últimos dias. Venci os 7,5 km com facilidade, mas sem o mesmo prazer de outros dias. Até brinquei um pouco de analisar os passantes, mas não estava muito inspirado e com dificuldade de concentração, pensando na viagem de segunda feira com Lucas. Confesso que sou daqueles que não gosta muito de ficar fora do RJ, muito menos passar a semana em Brasília. A turma que habita o plano piloto não me empolga muito, fico o tempo todo preocupado com minha carteira.

Até me diverti um pouco quando passei pelas amigas cajazeiras que já contei aqui antes. A mais falante e que eu obviamente não me lembrava o nome, logo me reconheceu e sorridente logo puxou assunto. Com um pouco de conversa e esforço o nome surgiu em minha mente, Úrsula!! Eu sabia que agradaria as moças a lembrança de ao menos um dos nomes. Assim que tive oportunidade chamei a líder pelo nome e ela me deu um belo sorriso e logo em seguida reparou em minha aliança e fez o comentário que levantou meu astral: “Ahh, está noivo!! Eu bem que comentei com as meninas, um rapaz tão simpático e bonitão solteiro? Isso não dura muito, logo uma esperta vai laçar ele”, comentou com as amigas, rindo bastante, minha fã sexagenária. Eu sorri também, agradeci pelo elogio e falei um pouco do casamento e prometi que mandaria o convite por e-mail (eu e minhas promessas malucas). Anotei num papel o email de Úrsula, conversei mais alguns minutos e segui meu rumo, para a casa de meus futuros sogros.

Cheguei por volta de onze e pouco suado e com a mochila de roupa para me trocar. Cumprimentei à todos e fui direto tomar um banho. Cheiroso e renovado fui para a sala de estar onde a família Oliveira Telles me aguardava.
Lara estava com uma expressão pouco confortável e isso me deixou intrigado. Não quis perguntar nada ali pois estavam todos na sala e logo Dr Oswaldo me puxou para um papo de negócios. Comentei que estava indo a Brasília tratar de assuntos da construtora e ele muito gentil como sempre, me deu o cartão de uma pessoa e sentenciou: “Não deixe de procurá-lo, será de grande utilidade conversar com ele e se tiver algum problema ele é um ótimo recurso solucionador. Ninguém anda tão bem pela aquela cidade como esse sujeito. Amanhã mesmo, bem cedinho eu avisarei que meu genro irá procurá-lo. Ele é um velho amigo, tratará você muito bem.  Brasília não têm mistério, só armadilhas. Você é esperto, vai aprender muito nesses quatro dias. Escute Lucas,ele não tem nada de bobo, e pelo que estou vendo, está te preparando da mesma forma que foi preparado. Garoto bom esse meu aluno. Não tive filho homem, mas Lucas foi um belo pupilo. Agora você é o da vez. Já aquele merda, prefiro nem citar o nome. Preferiu ficar voando naquela empresa falida e ainda vive criando problemas para minha filha!

Lara olhou com reprovação para o pai na hora que ele fez tal comentário e eu continuei sem entender direito o que estava se passando. Dr. Oswaldo mudou o rumo da conversa assim que Lara lançou sobre ele seu olhar de reprovação e passou a falar de política, economia e coisas afins. Logo o almoço foi servido, um delicioso risoto de fungui de comer gemendo, como dizem na gíria. Lá ninguém gemeu, mas elogiaram repetidas vezes o dom da cozinheira antiga na casa.

Depois do almoço, que foi acompanhado de um delicioso vinho francês, tomamos um cálice de Vinho do Porto e degustamos uma mousse de maracujá de sobremesa. Eu estava realizado, gastronomicamente falando, e fomos tirar o soninho da tarde. Lara estava estranhamente calada, mas a moleza de depois do almoço era tão grande que preferi nem tocar no assunto. Acolhi minha amada em meu peito e dormi por umas duas horas fechado no quarto escuro com o maravilhoso ar condicionado ligado.

Quando acordei, percebi que Lara já estava acordada, na verdade nem posso garantir que ela  tenha dormido. Acariciei seus cabelos e falei: 

- O que você tem meu amor? Tenho notado você tensa e calada há alguns dias. Tá chateada com alguma coisa? Ta aborrecida comigo?

Lara recostou na cama, respirou fundo e começou: 
- Não é com você não meu amor, é apenas uma situação chata. Eu preciso resolver algumas coisas. Você sabe que fui casada não é?

- Sei sim, com o maluco do Gil que está no Dubai não é?. - Respondi eu sem alcançar  ou imaginar que não era tudo tão simples

- “Pois é. Com ele sim, mas deixa eu contar para você entender. Gil não está mais em Dubai. Voltou ao Brasil tem uns dois meses, quando viu nossa foto no jornal ele me ligou para perguntar quem era você e coisa e tal. Eu cortei logo a palhaçada dele, não dei assunto, mas temos um problema. Queremos nos casar e para isso preciso do divórcio. Falei com ele sobre o assunto e ele está querendo dificultar. Cismou que não quer fazer em comum acordo. Mandei o advogado entrar com processo assim mesmo e sexta ele me ligou dizendo que quer conversar comigo sobre isso. Pediu que fosse falar com ele quarta feira e isso me deixa aborrecida.

A narrativa de Lara caiu como uma granada sem pino no meu colo. Eu fiquei alguns minutos sem saber direito o que pensar daquela situação. Lara continuava minha noiva, falando em casamento e etc, mas só de saber que ela ia se encontrar com o ex marido e pior, que havia tratado o assunto pelas minhas costas me deixou muito chateado, incomodado. Lara não tinha motivos para omitir nada de mim. Tínhamos uma relação transparente, tranqüila. Por que motivo ela hesitou tanto para me contar o que estava acontecendo? Fiquei calado por alguns minutos, até que Lara disse que eu não tinha com o que me preocupar, ela havia guardado o assunto para si para não me preocupar e garantiu que esse era o único motivo de não ter me contado.

Passei o resto da tarde com Lara, e fingi não estar muito incomodado. Por dentro eu estava muito incomodado, tão incomodado que saí cedo da casa de Lara com a desculpa de fazer as malas e dormir cedo, pois o vôo era às sete da manhã de segunda. Fui para casa pensando na vida. Eu acabava de ter a primeira decepção com Lara, a mulher a quem depois de longo inverno, eu abria meu coração. Percebi que sentia um mix de ciúmes e medo de perder aquela mulher, sentia também medo de desestruturar tudo que eu estava construindo. Perder Lara agora poderia ser um revés arrasador e deixar feridas difíceis de cicatrizar. Logo agora, que demorei tanto a confiar novamente no amor e em uma mulher, estava de frente para um fantasma que poderia tranquilamente se transformar em carne e osso.

Minha cabeça pensou mil coisas. E se Lara tivesse uma recaída ao encontrá-lo? Ele que a deixou, e ela sentiu muito por isso. Quem sabe reacendesse a paixão dentro dela? Eles eram casados ainda, ao menos no papel! Gil era bonito, e conhecia bem a minha noiva, poderia tentar reconquistá-la, seduzi-la. Minha cabeça viajou tanto que quase errei o caminho de casa.
Cheguei, arrumei a mala em dez minutos, arrumei o despertador e tomei dois comprimidos de Lexotan para tentar dopar os fantasmas que faziam minha cabeça girar.

O despertador tocou cinco horas da manhã. A noite passou em um piscar de olhos. O dia ainda mal amanhecia e eu estava acordando, mas meus pesadelos estavam apenas começando. Maldita rádio que eu escolhi para me despertar...

"Vem,
Você bem sabe que aqui é o seu lugar
E, sem você, consigo apenas compreender
Que sua ausência faz a noite se alongar
Vem,
Há tanta coisa que eu preciso lhe dizer
Quando o desejo que me queima se acalmar
Preciso de você para viver
É noite, amor
E o frio entrou no quarto que foi seu e meu
Pela janela aberta onde eu me debrucei
Na espera inútil e você não apareceu
Você já me esqueceu
E eu não vejo um jeito de fazer você lembrar
De tantas vezes que eu ouvi você dizer
Que eu era tudo pra você"

6 comentários:

Cláudia Otoni disse...

As maiores decepções acontecem quando criamos expectativas demais nas atitudes dos outros né!?
O ser humano é definitivamente imprevisível.
Há quem prefira confiar até que prove o contrário...
Normalmente são as pessoas que tem o melhor coração e consequentemente se desiludem e sofrem mais!
É difícil conviver com as diferenças...
O que pra um é cuidado, pro outro pode ser excesso.
A grandiosidade da relação, Sr Herculano, "é aprender a gostar de tudo o que há de pior no outro, porque amar o que é bom é no máximo simples".
Pense nisso!

Lennon Pereira disse...

Amar significa aceitar o outro como ele é, e aceitar com qualidades e defeitos. Eles estão apaixonados, o tempo dirá se isso será um amor duradouro... beijo e mais uma vez obrigado com o carinho com meu livro.

Cristiane disse...

Herculano,nova crise de insegurança?As pessoas ficam juntas mas não deixam de ser uma pessoa individualmente, com seus problemas pessoais, seus fantasmas, seu eu. O fato da Lara não ter comentado não é motifo para tantos grilos.O problema já era dela antes de vc aparecer e cabe a ela resolver.Comunicar a vc, legal, mas daí a ter que ser vc o primeiro a saber e opinar vai uma distância muito grande.Volte correndo para a Ester, pois a melhora não foi tão grande como parecia.

Mônica Pereira disse...

Querido Lennon,
Espero que Herculano não de defeito de novo! Estava indo tão bem...
Torço muito por ele e pela Lara!!
Beijos

Lennon Pereira disse...

Oi Cristiane! Herculano passa por momentos dificeis, Crises são inevitáveis. Acho que todos passamso por elas em momentos da vida... Obrigado pelo carinho e pelos comentários sempre pertinentes e inteligentes. Vem aí os últimos capítulos! beijo

Lennon Pereira disse...

oi Querida Monica! super beijo de obrigado! Bom saber que vc é da torcida da Lara. Tem uma turma aí que acha ela um achata... coisas da vida! beijo