Não há nada mais poderoso e cruel na vida do que o tempo.
Esse substantivo de apenas duas silabas, é ao mesmo tempo pequeno e infinito, rápido
e lento, acalanto ou remédio amargo.
O Homem vive uma interminável busca pela melhor forma de
controla-lo, ou de administrá-lo, como se isso fosse possível.
O tempo é um animal selvagem, indomável e indomesticável. Não
permite rédeas, nem amarras. Quanto mais corremos atrás dele, mas ele nos
escorre pelos dedos como areia.
Pode ser nosso aliado, quando perdemos alguém que amamos por
exemplo, o seu passar, vai amenizando aquela dor infinita, que pensamos nunca
ter fim. E o querido tempo vai lentamente e sabiamente transformando em
saudade, e aprendemos a lidar com ela.
O tempo também é amigo, quando algo nos fere muito. Com sua
placidez ele ameniza, faz com que dia a dia as magoas caiam no esquecimento,
até que cicatrizem e sejam apenas lembranças distantes, as quais as vezes até
damos risadas ao lembrar.
Ele é amigo daqueles que menos se preocupam com ele. É amigo
dos inocentes, das crianças. Acho que o tempo gosta especialmente daqueles que
não pensam nele. Crianças brincam, sorriem, e vivem como quem não sabe o que os
espera no tempo futuro, e na verdade essa talvez seja a grande sabedoria. O tempo
nos ensina que não adianta tentarmos controlar esse seu pedaço, chamado futuro.
Acho que essa personalidade do tempo foi criada para tornar a vida mais difícil, para fazer do homem, prisioneiro da filha do futuro, a ansiedade.
Esses dois juntos podem acabar com qualquer alegria, mesmo
que a gente saiba que preocupar-se com algo que não aconteceu é das maiores
tolices que podemos cometer.
Tem um tempo que tambem pode ser doce e amargo, o tal "passado". Podemos ter doces lembranças, mas é preciso cuidado para não vivermos lá, ele impede que vivamos o tempo presente, o único que existe de verdade.
Numa conversa distante, lá do início dos anos 90, eu ,
jovem, cheio de saúde, de sonhos e incertezas, busquei abrigo nos ouvidos de
meu velho avô. Desabafei com ele minhas angustias, ansiedades, incertezas com o
futuro... Ele, do alto de seus setenta e poucos anos, após me ouvir
atenciosamente, me disse uma das frases mais sabias, que guardo com muito
carinho.
“Meu filho, a vida só é ruim para quem não pode esperar”.
Ele tinha setenta anos, pela lógica, muito menos tempo para
planos e realizações, e aquela frase, naquele dia, tirou um enorme peso dos
meus ombros. Até hoje eu a uso quando tenho angustias, mesmo sabendo que já não
tenho o mesmo tempo da década de noventa.
O tempo se encarrega de colocar muitas coisas e verdades em
seu devido lugar. Muitas vezes faz justiça de forma cruel, dolorida, mas o
tempo nunca se furta a uma tarefa: Ensinar. O tempo ensina a todos aqueles que
estão abertos a aprender. É como um pai implacável na missão de ensinar seus
filhos. Podemos aprender por bem ou por mal. No final a escolha é nossa.
Todos estamos numa fila invisível, a caminho do fim, com uma
senha nas mãos. Não sabemos qual o nosso número. Nem a nossa hora.
Seja amigo do tempo, use-o como uma criança, que sorri e se
diverte, sem medo do amanhã.
Não seja escravo, nem do tempo nem de ninguém.
E para terminar, uma conversa que ouvi outro dia entre uma
pedra e uma vidraça:
Vinha caminhando a dona pedra, muito sorridente feliz e
contente quando avistou uma vidraça e se atirou contra ela, com força.
A pobre vidraça se espatifou, a pedra olhou triunfal para a
vidraça e se espantou.
A vidraça não chorava, pelo contrário, olhava para pedra com
olhar de piedade.
“Por que me olha assim? Não tenha pena de mim, estou aqui
inteira e acabei de te despedaçar! ”
A Vidraça sorriu e com voz serena respondeu:
“Não nasci vidraça. Fui uma grande rocha, o tempo me
transformou em pedra, depois em areia, e em seguida no que eu era até te
encontrar...”
Um grande abraço a todos.