quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

O tempo, a vidraça e a pedra

Não há nada mais poderoso e cruel na vida do que o tempo. Esse substantivo de apenas duas silabas, é ao mesmo tempo pequeno e infinito, rápido e lento, acalanto ou remédio amargo.

O Homem vive uma interminável busca pela melhor forma de controla-lo, ou de administrá-lo, como se isso fosse possível.

O tempo é um animal selvagem, indomável e indomesticável. Não permite rédeas, nem amarras. Quanto mais corremos atrás dele, mas ele nos escorre pelos dedos como areia.

Pode ser nosso aliado, quando perdemos alguém que amamos por exemplo, o seu passar, vai amenizando aquela dor infinita, que pensamos nunca ter fim. E o querido tempo vai lentamente e sabiamente transformando em saudade, e aprendemos a lidar com ela.

O tempo também é amigo, quando algo nos fere muito. Com sua placidez ele ameniza, faz com que dia a dia as magoas caiam no esquecimento, até que cicatrizem e sejam apenas lembranças distantes, as quais as vezes até damos risadas ao lembrar.

Ele é amigo daqueles que menos se preocupam com ele. É amigo dos inocentes, das crianças. Acho que o tempo gosta especialmente daqueles que não pensam nele. Crianças brincam, sorriem, e vivem como quem não sabe o que os espera no tempo futuro, e na verdade essa talvez seja a grande sabedoria. O tempo nos ensina que não adianta tentarmos controlar esse seu pedaço, chamado futuro. 

Acho que essa personalidade do tempo foi criada para tornar a vida mais difícil, para fazer do homem, prisioneiro da filha do futuro, a ansiedade.

Esses dois juntos podem acabar com qualquer alegria, mesmo que a gente saiba que preocupar-se com algo que não aconteceu é das maiores tolices que podemos cometer.

Tem um tempo que tambem pode ser doce e amargo, o tal "passado". Podemos ter doces lembranças, mas é preciso cuidado para não vivermos lá, ele impede que vivamos o tempo presente, o único que existe de verdade.

Numa conversa distante, lá do início dos anos 90, eu , jovem, cheio de saúde, de sonhos e incertezas, busquei abrigo nos ouvidos de meu velho avô. Desabafei com ele minhas angustias, ansiedades, incertezas com o futuro... Ele, do alto de seus setenta e poucos anos, após me ouvir atenciosamente, me disse uma das frases mais sabias, que guardo com muito carinho.

“Meu filho, a vida só é ruim para quem não pode esperar”.

Ele tinha setenta anos, pela lógica, muito menos tempo para planos e realizações, e aquela frase, naquele dia, tirou um enorme peso dos meus ombros. Até hoje eu a uso quando tenho angustias, mesmo sabendo que já não tenho o mesmo tempo da década de noventa.

O tempo se encarrega de colocar muitas coisas e verdades em seu devido lugar. Muitas vezes faz justiça de forma cruel, dolorida, mas o tempo nunca se furta a uma tarefa: Ensinar. O tempo ensina a todos aqueles que estão abertos a aprender. É como um pai implacável na missão de ensinar seus filhos. Podemos aprender por bem ou por mal. No final a escolha é nossa.

Todos estamos numa fila invisível, a caminho do fim, com uma senha nas mãos. Não sabemos qual o nosso número. Nem a nossa hora.

Seja amigo do tempo, use-o como uma criança, que sorri e se diverte, sem medo do amanhã.

Não seja escravo, nem do tempo  nem de ninguém.

E para terminar, uma conversa que ouvi outro dia entre uma pedra e uma vidraça:
Vinha caminhando a dona pedra, muito sorridente feliz e contente quando avistou uma vidraça e se atirou contra ela, com força.

A pobre vidraça se espatifou, a pedra olhou triunfal para a vidraça e se espantou.

A vidraça não chorava, pelo contrário, olhava para pedra com olhar de piedade.

“Por que me olha assim? Não tenha pena de mim, estou aqui inteira e acabei de te despedaçar! ”

A Vidraça sorriu e com voz serena respondeu:

“Não nasci vidraça. Fui uma grande rocha, o tempo me transformou em pedra, depois em areia, e em seguida no que eu era até te encontrar...”


Um grande abraço a todos.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

As Gaiolas

Conversava outro dia com um velho sábio. Daqueles que dominam a arte da magia. Tipo um mago, capaz de coisas inimagináveis para um ser humano comum como eu.

Como de habito, procurava encontrar em sua sabedoria,   respostas para as angustias que costumeiramente assolam a sociedade moderna.

Ansiedades, medos, falta de tempo. Desejos que não conseguimos realizar, a culpa eterna de não atender as expectativas. São muitas expectativas colocadas sobre nossos ombros.

Queremos atender as expectativas dos nossos pais, dos professores, dos chefes, dos clientes, dos amigos, da esposa/marido, dos filhos e por aí vai... segunda algumas religiões, temos que atender até as expectativas de Deus, como se um ser supremo precisasse de algum sacrifício de nossa parte para se alegrar ou se realizar...

Uma busca incessante por respostas e certezas, que em tese nos dariam sensação de tranquilidade e paz.

Ele ouviu atentamente meu desabafo, em silencio, mas com ar de atenção, de quem se preocupava.
Quando terminei ele me manou olhar o horizonte e pensar em algo que me fizesse bem, ou feliz naquele momento.

Avistei então uma belo pássaro, a voar na imensidão do céu azul, fechei os olhos e disse:
Gostaria de poder voar, como aquele pássaro, longe de tudo, contemplando a criação, a natureza. Tenho certeza que nada o aflige nesse momento.

Foi aí que veio sua reposta, naquele tom sereno e firme:

“Para voar, é preciso a coragem de enfrentar o terror do vazio. Observe o voo de um pássaro e veja que é só no vazio que o voo acontece.

O vazio é o espaço da liberdade e a ausência de certezas, exatamente o que você teme: não ter certezas. Por isso você troca o voo por gaiolas, as gaiolas são o lugar onde moram as certezas
É um engano pensar que a os homens seriam  livres se pudessem voar, ou que eles não são livres porque alguém ou alguma coisa os engaiolou.

É engano achar que voariam se as portas estivessem abertas. A verdade é o oposto. Não há carcereiros. Em geral preferem as gaiolas aos voos. 

Constroem as gaiolas  que os aprisionam. ”

Que possamos abrir nossas gaiolas e voarmos livremente na liberdade de não termos certezas.

Viva a vida, cada dia é dadiva e não volta. Não sabemos o estoque de tempo que temos, portanto faça bom uso do seu.



Lennon Pereira

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Será Karma, ou apenas pouca sorte?

Não tenho aqui nenhuma intenção em defender a Fé de nenhuma corrente religiosa, o intuito é apenas discorrer sobre pensamentos aleatórios, que transitam por meus neurônios nos momentos que passo a fazer minhas corridas diárias pela orla do Rio de Janeiro.


Entre um buraco, uma facada ou um pivete, volta e meia consigo desligar os pensamentos e nessas horas me passam coisas as vezes um tanto estapafúrdias pela cabeça.

Outro dia, após conversar com amigos sobre as diferenças abissais entre a qualidade de vida entre o Brasil e os EUA, me ocorreu um termo interessante de comparação: Por que nascemos num país de atraso, corrupção, impunidade, violência, descaso, desrespeito com o povo, políticos ladrões, miséria, educação e saúde falidos, falta de expectativas, impostos absurdos e tudo mais que conhecemos, enquanto um sujeito nasce num pais como os EUA?

O que faz um cidadão livre de pecado, nascer num país desenvolvido, rico, com qualidade de vida, boas escolas, Segurança, Avanço tecnológico, direitos dos cidadãos assegurados e etc etc etc, enquanto eu e você nascemos nesse lixo subdesenvolvido?

Não encontrei respostas na ciência, me vali então da justificativa dos Espiritas:

Só pode ser uma coisa, a Terra é o centro do movimento de purificação do ser humano. Aqueles de pior carma nascem no Brasil (ou em outros lixos como Venezuela, Haiti, Congo, Nigéria e etc).

Conforme vamos evoluindo, vamos progredindo, até que um dia todos nós reencarnaremos falando inglês, comemorando 04 de Julho e comendo Perú de Ação de Graças!

Aqueles que maldizem o Império, são por natureza espíritos do Mal,  liderados por Lúcifer, e querem que nossas Almas fiquem o máximo de tempo em infernos como Brasil, Venezuela, Cuba e etc...

Vou me comportar muito bem, para na próxima vinda, quem sabe eu possa estar com menos dívidas e já apareça na Itália,  Portugal ou Espanha! Até no Chile eu to aceitando, comparados ao Brasil, é ante sala do Paraíso.

Há quem acredite que estamos mudando. Alguns  grandes empresários como Marcelinho Odebrecht, sendo presos, algo antes impensado, e agora o encarceramento do cara de pau máximo, Sr Sérgio Cabral,  sua esposa e comparsas.

Os caras tinham tanta certeza da impunidade, que não se intimidavam em ostentar patrimônio totalmente incoerente com suas receitas. Não resolve, mas já é um começo, uma luz no fim do túnel. Começando a faxina agora, talvez sejamos um pouco melhores la pelo ano 3050, geração de meus bisnetos...

De qualquer forma, já quero ir garantindo meu quinhão na próxima encarnação, por isso, despeço-me com um “Deus Salve a América”, e peço que perdoe meus pecados cármicos de brasileiro, não nascido em berço esplendido, de sobrenome Calheiros, Maia, Sarney (o verdadeiro imortal!!)...

Sou Silva descendente de Pernambucanos!!! mas nenhum familiar meu perdeu o dedo mindinho. Que azar... ou sorte... odeio Bangú.

Opa, um buraco, dos males o menor, quem sabe ganho 15 dias de licença??


Abraços

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Você tem filhos?

Se você tem, vai entender muitas coisas que vou dizer nas próximas linhas, se você não tem, vale ao menos conhecer o tipo de emoção que essas criaturas causam em nossas corridas e estressantes vidas.
Hoje pela manhã, após trinta dias de férias acordei com uma estranha sensação. 

Passei as férias dormindo e acordando na companhia do meu pequeno bebe, de apenas 1 ano e 6 meses.

Foi estranho levantar me arrumar e sair sem ouvir aquele chorinho de quando ele acorda, sem receber seu sorriso matinal, aquele abraço sonolento e gostoso e poder encher aquele pequenino com muitos beijos.

Depois de pronto para sair, entrei silenciosamente em seu quarto, ele dormia aquele sono profundo, lindo. Me despedi com a mão sobre sua cabeça fazendo uma oração, pedindo a Deus benção e proteção.

A sensação que tive ao sair de casa, foi semelhante a sensação do primeiro dia de aula, quando ainda criança. Um frio na barriga, uma falta algo, ansiedade.

O primeiro dia de aula para mim quando criança, sempre foi um misto de ansiedade, tristeza pelo fim dos dias sem compromisso e também a alegria de rever os amigos. Típico da infância, quando estamos nos acostumando a lidar com as emoções. Temos a falsa impressão que um dia isso será possível.

Foi no caminho para o trabalho que me vieram esses pensamentos. Fiquei me perguntando o que aquilo representava. Coração apertado por deixar meu filho antes dele acordar e poder me ver. Na verdade eu que precisava daquele sorriso para me dar força, paz e segurança.

Pois é, é isso que os filhos fazem com a gente. Os filhos nos fazem ter muita responsabilidade, também nos fazem novamente crianças. Um filho rejuvenesce, desperta emoções adormecidas e outras desconhecidas. Dá coragem, determinação, força, medos, incertezas e também medos, mas da acima de tudo muito,  muito amor, um amor inexplicável até sentirmos na pele o que ele é. Nada que eu escreva aqui fará com que você entenda, a não ser que também seja pai ou mãe.

Nessa hora me perguntei como eu pude esperar 42 anos para ter João Guilherme. Em um ano e meio eu vivi mais experiências inexplicavelmente maravilhosas do que no resto da minha vida.
Filhos são a renovação da vida, são a nossa maior aventura, nossa melhor obra e são também a melhor forma de entendermos o amor que nossos pais sentiram e sentem por nós durante a vida.
O amor que João Guilherme trouxe a minha vida e de minha maravilhosa esposa é o maior presente de Deus. 

Esse amor muda a forma de ver o mundo, muda prioridades, muda sentimentos.

Agradeço imensamente ao meu filho por tudo de bom que trouxe a minha vida, aproveito também para agradecer aos meus pais por todo amor que eles sempre sentiram por mim. Hoje eu tenho a medida desse sentimento, e posso ser ainda mais agradecido e compreensivo. A paternidade nos faz cometer acertos e erros, mas todos eles têm a mesma motivação, querer sempre o melhor possível para os filhos. Não há outra motivação na vida dos pais.

A vida não avisa, não manda recado. Um dia estamos aqui e em outro somos lembrança, saudade, memórias.

Esse texto foi a forma de eternizar para João Guilherme tudo que ele representa em minha vida e o quanto infinito é o amor  e o bem querer que tenho por você meu filho.

Hoje você pode sentir, mas ainda não tem discernimento para guardar na memória.

Pretendo lhe dizer isso muitas vezes na vida, mas assim, eu faço um tipo de seguro contra imprevistos.

Te amo, que Deus nos dê muitos anos juntos. Você é o que de melhor há em mim.

Seu Pai.
Lennon Pereira