terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Cidadão de Bem

Chego cedo a um órgão publico para providenciar um documento necessário a qualquer cidadão comum. Como homem prevenido, faço um agendamento e preparo uma mala com a pequena lista de 172 documentos originais acompanhados de suas cópias autenticadas e registradas. Além disso, preencho também o simples formulário de 784 campos de informações pessoais de fundamental importância. Coisas do tipo: Qual o nome do seu melhor amigo quando completou oito anos de idade. Via crucis inicial cumprida, estou eu diante do Sr. Servidor Público. Na primeira triagem, uma gentil senhora com cara de preguiça olha meus documentos, confere meu agendamento e me dá uma senha. Olho para o salão e me espanto com a quantidade de pessoas que já esperam sentadas, e olha que estamos por volta das 8:00 a.m. Faço então a pergunta fatal: “Sra., qual é o prazo estimado de espera?”. Fecho os olhos com medo da resposta que me abate como um soco na boca do estômago! “- entre duas e quatro horas”, me responde a moça! Perplexo e acometido de um pré ataque de síndrome do pânico, penso em perguntar novamente para confirmar, mas me deu um medo tão grande da resposta mudar para algo tipo: sente e espere sem reclamar Sr.! Resolvi resignar-me e caminhar até a combalida cadeira que me esperava no canto do salão.
 
 No caminho para a cadeira, sou abordado por um gentil Sr., que muito comovido com minha perplexidade, se aproxima solidário, comentando o quanto é absurdo o tempo de espera, o tamanho da fila e etc.. O rapaz muito solícito me convida para um café, sob a alegação de que tenho mesmo que fazer algo para matar o tempo. Aceitei o convite e nos encaminhamos a um engordurado balcão de cantina de escola de 1960.

Depois de dez minutos conversando amenidades, o rapaz revela o real motivo de sua abordagem. Olha o pequeno papel em minha mão, com a senha No. 158 e revela seu maquiavélico plano.

“Sr. essa sua senha vai demorar né”? Estão chamando o numero 13 ainda! Aceno com a cabeça, resignado, dou um suspiro de conformismo e ele aproveita para seguir com seu discurso: Eu tenho aqui  no meu bolso a senha nº. QUARENTA, mas posso trocar pela sua. Vai custar apenas R$ 50,00! E O Sr. pode ficar tranquilo que trabalho aqui com isso há mais de dez anos. Todos me conhecem. Pode ir que é quente!!!

Achei aquilo o cumulo do absurdo! Como poderia aquilo estar acontecendo? Imagina se algum cidadão de bem, honesto e honrado aceitaria participar de um esquema desses?

Desrespeitar quem chegou primeiro e furar a fila pagando uma propina de R$ 50,00!!??? Revoltante!!!

Peguei minha cadeira no fundo da sala, abri o notebook e comecei a narrar essa história. De tão indignado que fiquei, resolvi desabafar e avaliar o comportamento social costumeiro no Brasil.

Nosso povo é assim mesmo. Parece que não se enquadra na sociedade. É comum ver um cidadão indignado frente a uma noticia do JN, onde são apreendidos objetos contrabandeados do Paraguai, da China, entrando no país ilegalmente sem recolher impostos. É um absurdo!!

Esse mesmo cidadão, porém, acha correto ir a Miami e voltar com a mala cheia de equipamentos, relógios remédios, eletrônicos, celulares e etc., e passar pela alfândega sem os declarar.

Comum também é acharmos um escárnio quando no mesmo noticiário, ouvimos que são desviados materiais de hospitais públicos, de escolas. Queremos a forca para os envolvidos. Prisão perpétua!!!

O mesmo indignado do parágrafo anterior, acha normal levar para casa uma caneta do trabalho, uma agenda, assim como também acha normal usar o telefone da empresa para ligações particulares.

Indignamo-nos todos quando vemos que estelionatários falsificam documentos, criam empresas fantasmas para praticar golpes e outros delitos. Esses então são marginais! Ladrões safados! Cadeia neles.

O Cidadão fica revoltado ao ver que ruas e casas são inundadas por causa do lixo que entope bueiros e galerias. Depois do almoço ele compra um picolé Chicabom e joga o papel no chão da calçada, dizendo que é para garantir o emprego do gari!

E esse cidadão indignado, assim que acaba de ler a notícia, sai todo perfumado e bem vestido, com sua namorada malhada e vai ao cinema, pagar meia entrada com uma carteirinha falsa da UNE. Ele só tem 40 anos e está cursando o segundo período de filosofia. É profundo conhecedor de Sócrates, aquele camisa oito do Corinthians e da Seleção de 82.

O cidadão se revolta ao saber que na construção dos estádios da copa as obras são superfaturadas. Diz que todos deveriam ir para a cadeira elétrica.

No dia seguinte, pede ao fornecedor de sua empresa privada para dar 10% por fora, se ele fechar a contratação da proposta em questão.

Assim é o brasileiro em sua grande maioria. Acha um absurdo quando vê na TV ou nos jornais casos de corrupção, estelionato, desvio de verba e impunidade. Mas é incapaz de mudar sua própria atitude. É Incapaz de enxergar que cada cidadão é agente da mudança, começando a mudar por si mesmo. Só há solução se cada um de nós mudarmos nossa essência.

Estou indignado, revoltado. Sentado na minha cadeira, esperando minha vez e desabafando aqui nessa crônica revoltosa.

Graças a Deus não sou como esses hipócritas. Não jogo lixo no chão e nem tenho carteira de estudante. Nunca aceitei presentes de fornecedores!! Nunca furei uma fila! Temos que liderar um movimento contra a hipocrisia! Dignidade já!!

Preciso encerrar a crônica e desligar o notebook, acabei de ouvir alguém chamar o número QUARENTA! Minha vez. Como é bom ser um cidadão digno e honesto!


Até breve

 

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O amor que eu espero...


Conversava hoje despretensiosamente com  uma amiga, quando me vi contando uma história, e essa história que eu contei me fez vir para o teclado, escrever sobre o amor que eu espero.

O amor que espero é incompatível com o mundo moderno. Ele não tem pressa, nunca está atrasado.Não é egoísta, nem egocêntrico, não precisa de um tempo pro seu “eu” interior. Não perde a paciência, não perde o ônibus, não pega engarrafamento, não fica sem bateria nem sem sinal. O amor que eu espero não tem 3G, nem wi fi, pois ele é de carne e osso. É o amor do toque, da troca de olhares, do perfume da pele. É de fazer correr um arrepio na coluna só em  lembrar. Amor de dar frio na barriga ao chegar a hora de encontrar. Amor que espera, que compreende, que consola. Amor que ri junto e chora abraçado. Amor que sente saudade, que sente dor, que suspira. Amor que sonha, que olha o por do sol sem pressa, que sente a brisa do mar no rosto e torce para o tempo nunca passar. Amor que ouve musica romântica, dos anos 90, 80, 60, 50... que ouve musica de amor, seja de que tempo for. Amor que vê aquela marca do tempo na face e sabe que ali esta escrito um pedaço de  uma história de vida

Amor que não se cansa, que não se envaidece. Amor que se doa, que acolhe. Que da bronca, carinho, afago, colo. Amor que chora em silencio, e ri sozinho ao reler um bilhete, um email, ou ao olhar uma foto, ou simplesmente ri ao ter uma lembrança, e esse riso se mistura com uma lágrima de alegria. Alegria tão forte que chega a doer o peito. Amor que perde noites, que nina no colo a criança que ainda mama no peito, fruto e resultado maior desse amor.

Eu espero um amor assim que transborde, que seja atemporal, que seja pleno, intenso, único e eterno, cúmplice, que tire o fôlego e que de a paz.

Espero um amor daqueles que paga o sorvete da namorada  e fica a pé para volta para casa sem o dinheiro da passagem. Que mesmo assim dorme sozinho sobre a marquise da padaria, esperando o primeiro coletivo da manhã em 1969.

Eu espero um amor igual ao que eu conheci dentro de casa, e que guardo dentro de mim, para dar a quem fizer com que ele saia de meu peito, para ser vivido em sua plenitude, pelo resto dos dias da minha vida. Alguém  a quem o simples fato de eu ver sorrir, me faça o mais feliz dos homens...Um amor igual ao que eu tenho para dar!
 

terça-feira, 3 de setembro de 2013

A Linha do Amor


Estava eu aqui a contemplar o belo por do sol no horizonte e me veio a memória a lembrança de Francisco. Um jovem as voltas de completar trinta anos de vida. Um Brasileiro médio, que se não se destacava pelo porte atlético ou por feições finas das ascendências arianas, era muito querido pelo olhar atencioso, amável e respeitoso que dispensava a todos aqueles que com ele conviveram.

Tinha sempre tempo para parar para ouvir quem estivesse disposto a contar algo. Seja o que quer que estivesse fazendo, por mais importante que fosse o compromisso, Chico sempre parava para ouvir. Dizia ele que aprendera com um escritor do século XVII um de seus lemas de vida: “Quem anda muito depressa não tem tempo de admirar as janelas de Deus”. Nunca entendi muito bem o que isso queria dizer, mas a verdade era que ele parava e dava real atenção, ouvia com os ouvidos, os olhos e com o coração.  Com essa característica, Chico passou a ser aquele a quem todos procuravam quando precisavam de um ombro amigo, de um conselho ou apenas um desabafo.

Muitos amigos, muito querido, Chico guardava sempre um mistério no olhar. Sempre achei que ele tinha um olhar que no fundo no fundo era triste, um “q” de nostálgico, ou algo assim.

Apesar de ótimo ouvinte, Chico era pouco falante. Paradoxalmente, ouvia com afinco a todos mas raramente se ouvia Chico falando de si mesmo, contando sobre alguma conquista, alguma incerteza, um medo, uma frustração. Muitos diziam que era o jeito dele, que as pessoas são assim e etc. Outros chegavam a comentar que Chico fazia isso de charme e que gostava de ter em torno de si uma aura de mistério, de nostalgia.

Disse-me uma vez uma amiga psicóloga, que não há nada melhor para atrair as mulheres do que um olhar tristonho. Segundo ela, as mulheres não resistem a missão de consolar um coração sofrido. Talvez seja verdade, talvez mais uma lenda urbana. De certo que esse não era o objetivo do nosso amigo. Raramente o via com namoradas. Flertava com uma ou outra, mas mergulhar mesmo era algo que não fazia parte de sua cartilha.

Acabamos ficando muito amigos. Sabe se lá por que motivo, Chico resolveu que comigo se abriria, algumas vezes em momentos mais agudos, sentávamos na mesa do bar, ou a beira da praia para falar sobre a vida, filosofar, ou apenas viajar nos pensamentos.

E foi num dia desses, sentados na pedra do Arpoador que eu entendi qual era a verdadeira história de nosso amigo, e o motivo daquela tristeza no fundo de seu olhar.

Chico apontou a linha onde o céu se encontra com o mar e  disse: - “Olha lá meu amigo, a famosa linha do horizonte. Bela, encantadora, misteriosa, admirada, decantada em verso e prosa por poetas, cantores  e compositores. A linha do horizonte é como o amor. Se você perguntar, todos sabem dizer o que é, onde fica, desfilam seus encantos e belezas, mas jamais alguém algum dia pôde toca-la, ou mesmo provar que ela é real. Existe e pronto, podemos sentir,  e isso nos satisfaz. Uma vez aqui nessa pedra, a única mulher que amei na vida me disse que nosso amor nunca acabaria e que quando estávamos juntos era como se pudéssemos estar fisicamente ali na linha do horizonte .

 Meses depois adoeceu misteriosamente e morreu. Antes de partir, olhou para mim e com as últimas forças, disse que seu amor por mim seria eterno. Quando partisse, estaria me esperando um dia, na linha do horizonte que tanto nos inspirou, paisagem que tanto amávamos. Naquele dia prometi a mim e a ela que guardaria nosso amor para toda a eternidade, e que estaria a flertá-la, cortejá-la e reafirmar meu amor,  toda vez que meus olhos se perdessem no horizonte.”

Chico falou e eu aprendi. Seu olhar não era tristonho nem misterioso. Era apenas um olhar saudoso, de quem conheceu o amor de forma tão plena e arrebatadora, que o fez viver em paz, apenas esperando o dia onde ele e sua amada voltariam a se sentar para namorar, dessa vez não sobre a pedra, mas sobre a linha do amor, eterno...

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O caderno

Estava eu com meus botões pensando e buscando inspiração para escrever minha querida crônica semanal, pois sei que ela é ansiosamente aguardada pelos meus fiéis e incansáveis leitores: meu pai e minha dinda (já que mamãe não está mais no plano que permite acesso aos computadores). Confesso que estava sem o menor tesão ou inspiração, devido ao medíocre nível técnico do futebol apresentado no último fim de semana pelos times do Campeonato Brasileiro. Foi quando, num determinado momento, me dei conta da música que tocava no rádio do meu carro. Era o corinthiano Toquinho, entoando, acompanhado de seu fino e inconfundível violão, os versos da música “O Caderno” de autoria do genial tricolor Chico Buarque:
“Sou eu que vou seguir você do primeiro rabisco até o bê-a-bá…”
Parei para pensar naquela dupla e em suas composições ou suas tabelinhas. Imediatamente me lembrei de diversas outras duplas, que fizeram semelhante sucesso de raro talento e beleza. Vieram-me à mente, imediatamente, Tom Jobim (também tricolor) e Vinicius, Carlos Lyra e Baden Powel, Caetano e Gil, Roberto e Erasmo, Lennon e McCartney, Simon e Garfunkel, Elis e Jair Rodrigues, João Bosco e Aldir Blanc e os comparei com os talentos contemporâneos na esfera futebolística.
Nessa hora listei rapidamente: Pelé e Coutinho, Tostão e Dirceu, Rivelino e Gil, Didi e Garrincha, Assis e Washington, Zico e Nunes, Sócrates e Zenon, Falcão e Carpegiani, Tato e Branco e, já na década de noventa, Bebeto e Romário.
Comparei mentalmente as listas e comecei a pensar no que elas representavam para seus tempos e estilos de arte. Sim, futebol é uma arte, muito mais do que uma competição ou um simples jogo.
Comecei, a partir desse momento, a entender minha falta de vontade em escrever sobre a última rodada. Nada de arte havia ali. Muito pouco de arte se vê no futebol de hoje, no mundo de hoje.
O Futebol atual é brindado com pequenos lampejos de genialidade e beleza. Basta analisar os destaques do campeonato: Seedorf, Alex, Zé Roberto, Juninho, Deco (o de 2012)… Todos beirando a casa dos quarenta anos de idade. Entre os jovens, muito ímpeto, correria e pouco talento, pouca inspiração.
A vida imita a arte e a arte imita o futebol. Temos na música também um show de lixo e mediocridade. É sertanejo universitário, Anita, Naldo e seus genéricos, até o tão preservado Samba, de mestres como Cartola, Silas e Didi, hoje desfila pelas avenidas com sambas patrocinados que chegam ao cúmulo de falar do trânsito, de raça de cavalo e da importância da imigração dos Guiné Bissauenses para a formação do Samba no Brasil. Até mesmo Vercilo já tem seu genérico.
As crianças da minha geração assistiam na TV a especiais compostos por Tom Jobim e Vinicius (Arca de Noé), Chico, Toquinho (Casa de Brinquedo), entre outros. As de hoje imitam o show das poderosas e dançam as Empreguetes.
Os craques de setenta viram Zizinho, Nilton Santos, Garrincha e Didi. Os de 80 e 90 viram Pelé, Gerson, Rivelino, Zico, Sócrates, Falcão… E aí fica minha pergunta: Onde nos perdemos? Em que momento nós perdemos a mão? Como esse processo de bundalização e de democratização da mediocridade se instaurou? Como não percebemos? Por que não fizemos nada para evitar? E depois dessas perguntas, vem a pior e mais assustadora de todas: o que será do futuro das crianças de hoje? Que artistas serão? Que craques surgirão? Que cidadãos estamos formando para o futuro?
Preferi parar por aqui, pois estava ficando mais deprimido com meus pensamentos do que com a rodada do fim de semana.
Despeço-me daqueles que conseguiram chegar até aqui e peço que a providência divina nos afaste de tão sombrio destino.
Uma vitrola, por favor, que preciso ouvir meus vinís!!
Que Deus abençoe!
Até a próxima!
 

terça-feira, 13 de agosto de 2013

A Vida continua!

Peço aos meus amigos e leitores, e principalmente ao meu querido editor Paulo Andel, desculpas pela temporária ausência.
Muitos de vocês acompanharam pelas minhas ultimas crônicas, a luta, o drama familiar vivido por esse humilde cronista.
Assim como a Copa vencida pelo Brasil, a nossa luta chegou também ao fim.
As 22h40min do dia 23 de Junho de 2013, nossa guerreira teve seu ultimo lance nos gramados da vida terrena. Após 65 anos de batalha, pendurou as chuteiras, os refletores se apagaram e veio o apito final. Suas forças foram vencidas, extenuada por uma luta de 43 dias de UTI. Como todo grande craque, lutou bravamente, até o último minuto, ultimo suspiro, ultimo pulsar.
Deixou seu clube órfão e em luto, como fazem os grandes craques, como fazem os insubstituíveis, os indispensáveis. De sua trajetória de glórias e títulos, cabe listar alguns, pois todos eles eu seria incapaz de relatar.
Um clube orgulhoso e vencedor. Um casamento celebrado aos 23 anos de vida, que seguiu a ordem divina: “…o que Deus uniu, não separe o homem… amando se e respeitando-se na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença… até que a morte os separe”.
Quarenta e dois anos depois, deixa o Presidente sem sua primeira dama. Quarenta e dois anos, nos tempos de hoje, merece sim uma honraria especial. Só com muito amor, amor verdadeiro, duas pessoas totalmente diferentes, dividem a vida juntos por tanto tempo. Com respeito, carinho, amizade, amor, companheirismo, abdicação, paciência, abnegação e dedicação, além da benção e o apoio de Deus. O primeiro órfão enlutado é o presidente do clube, o viúvo, meu pai, que caminha dia a dia ao nosso lado em busca de consolo. Uma vida inteira juntos. É como reaprender a viver a partir de agora.
Além desse, ela carrega mais dois maravilhosos e gloriosos títulos. Deixa dois filhos, um homem e uma mulher, ambos criados. Adultos, educados, orientados e formados com muito amor e dedicação. Sim, nossa craque formou dois filhos, amigos, unidos, amorosos que sempre respeitaram as leis, pai e mãe, os mais velhos. Criou cidadãos conscientes e preparados para o mundo.
Deu a nós: Amor, educação, instrução, carinho e muitos, mas muitos anos de sua vida. Seu orgulho e sua vitória estavam em nos ver bem criados, em nos ver sorrir, em nos ver felizes.
A dor de seus filhos era a defesa adversária mais implacável, e fazia com que ela se tornasse um Pelé, um Messi! Sempre pronta para estraçalhar seus zagueiros. Não havia linha dura que e vencesse, intimidasse ou impedisse.
Agora enfrentaremos sozinhos, sem nossa maior protetora e defensora. A vida fica mais difícil para nós.
Carrega também o glorioso titulo de avó venturosa e providente, que deixou seu lar e seu “Presidente” por uns meses, pois sua neta nasceu em outra cidade, e ela com sua experiência e sabedoria de muitos campeonatos, foi para junto de sua filha nesse momento. Por lá ficou alguns meses, como se jogasse no exterior, para ajudar a um de seus queridos.
Em São Paulo, passou os primeiros meses de vida de sua neta Mariana, que hoje, com 6 anos, nos brindou com um alento de que a vida se renova, e nos consolou ao saber da despedida da vovó com as seguintes palavras: “Eu entendo o que vocês estão sentindo… mas ela está melhor agora lá no céu, com Deus, e Jesus vai recebe-la com muito amor e carinho…”
A vida é assim! Perdemos o grande e maior craque da companhia. Nessa hora, olhamos para as divisões de base e enxergamos o milagre da vida! O milagre da renovação, da continuidade.
É a grande prova de que a saudade, lembrança, a gratidão, o reconhecimento e o amor serão eternos.
Grandes craques nunca são esquecidos, mas graças a Deus, a vida continua e se renova.
No dia de seu embarque definitivo, muitos fãs, travestidos de amigos, estiveram ao nosso lado, para a despedida e para a última homenagem.
A força dessa “torcida”, foi fundamental para que dor e tristeza se transformassem em consolo e esperança de dias melhores.
A vida é assim, todo campeonato se acaba, todo craque um dia se aposenta. Ficam as glórias, a lembrança, a saudade, as imagens, gravadas em mídias ou nas mentes e nos corações.
O clube se reúne. É hora de hastear a bandeira a meio mastro, em respeito, em luto, em memória.
Não abandonaremos o campeonato da vida, aos poucos retornamos aos treinos, aos jogos e à novos títulos.
Aos que estiveram conosco nessa empreitada meu muito obrigado em nota oficial, em nome do clube. Certos de que um dia, jogaremos todos juntos novamente nos gramados celestes, onde as luzes nunca se apagam, não há contusões e nem mais apito final.
Muito obrigado à minha querida mãe Maria Célia, a quem agradeço por ter me gerado, me dado a luz, amor, educação e carinho. Se hoje não sou melhor, é porque não ouvi todos os seus conselhos.
Fica essa homenagem.
Te amo

Quando a Luz se apaga

O quem vem depois? Depois que os olhos dela se fecharam para sempre, que seu corpo parou de respirar e seu coração parou de bater?

Depois resta a vida a ser vivida de uma forma desconhecida, sem o maior porto seguro, sem o colo ...derradeiro onde todas as lagrimas podem ser derramadas sem medo, de onde sempre viria uma palavra ou um gesto de carinho e consolo, conforto, amor .

Encarar o mundo sem o ninho, sem o olhar materno. Saber que nos momentos de derrota não poderemos contar com aquela que sempre nos acolherá de braços e coração abertos, e que os momentos de vitória não serão jamais plenos, pois não poderemos com ela compartilhar e receber seu terno e amoroso sorriso.


A vida agora é mais cruel, não permite mais erros, não há mais a certeza do apoio incondicional. Na verdade não há mais o calor do amoroso colo materno, não há mais onde descansar plenamente.


Não há mais onde recostar a cabeça o corpo cansados para receber aquele conselho que acalma, que alivia e que encoraja. Simplesmente não há mais o amor de mãe. As lágrimas não tem mais fim, nem hora para chegar, uma lembrança, uma música, uma fotografia ou um momento qualquer. Não as controlo mais, elas agora correm para o infinito. O colo de mãe era a represa, onde o rio acalmava e se tornava um grande, belo e lindo lago da aguas calmas e limpas. 


Os dias seguem as horas passam, o sol nasce e se recolhe. Tudo parece estar igual, mas tudo está diferente. A magia se perdeu. Hoje entendo o significado da palavra órfão. Hoje me compadeço mais de todos que por isso já passaram, até mais do que daqueles que nunca sentirão essa dor. 


Quem nunca teve mãe, não sabe a dor que é não ter mais. 

Talvez esses sejam mais amados por Deus por nunca terem que sentir tamanha dor, tamanha tristeza, tamanha ausência, infinita saudade. 


Depois dessa experiência, o medo é algo que deixa de existir. Digo que hoje o medo passou a se chamar indiferença. Tanto faz. Nem o Sol ilumina tanto e nem a noite é tão escura. 


E os momentos de maior alegria, são igualmente os momentos mais tristes. 

Ouço em todos os cantos que vai passar. Peço desculpas para dizer que não acredito, e para rezar para que eu esteja errado.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Meu Herói, Meu Algoz. Reflexões de um eterno romântico


A você, meu herói, dedico a crônica do hoje. Tu que tantas vezes me fez vibrar o coração de alegria. Que em momentos me fez esquecer as dores, o medo, as incertezas. Me fez superar a dor de uma perda quase irreparável, com uma espetacular noite de quinta feira, 23 de julho de 1987. Vinha eu de um velório no Caju.  Velório de uma criança de 4 anos, que durante sua pouca estadia entre nós, espalhou alegria, carisma, vontade de viver, e acima de tudo um amor que jamais esqueceremos. Nesse dia cheguei em casa de luto, triste, olhos cansados de chorar. Estava eu aos quatorze anos recém completados em 19/07 do mesmo ano. Acabara eu de lidar de perto com o fim da vida. A morte, antes algo distante e coisa de filmes e novelas, se fazia presente em minha vida. Uma dor nunca antes experimentada. Um sofrimento que parecia que jamais ia terminar. Lembro me como se fosse hoje. Chegando em casa já ao anoitecer. Triste, cabisbaixo, meio sem saber ainda como lidar com aquela lição da crueldade da vida.

Meus vizinhos que não sabiam ainda do ocorrido me convidaram para ir ao maracanã. Eu pensei em ir para aliviar o sofrimento, mas minha consciência não me permitiu sequer pedir autorização aos meus pais.

Lembro me como se fosse de meus pais se dirigirem a cozinha, prepararem algo para que eu e minha irmã mais nova nos alimentássemos, em seguida tomaram um daqueles comprimidos que aliviam  a nossa mente quando a dor é insuportável e em seguida se dirigiram ao quarto e se recolheram em tristeza.

Fiquei só, sentado na sala, assistindo algo na televisão, depois dirigi me a janela do quinto andar do prédio na tijuca e fiquei com olhar fixo no relógio da Central do Brasil. Naquele tempo eram ainda raros os espigões, e a vista era livre. Quase se via o horizonte. Eu tinha por habito ficar a janela quando queria refletir e pensar na vida. Fiquei ali por algum tempo, pensando na perda, na tristeza e tentando entender por que a vida era assim tão cruel.

Em seguida entrei e liguei na Rádio Nacional. Era dia de Fluminense e Vasco. Buscando alento e distração, concentrei-me no jogo. Posso aqui resumir o ocorrido, e todos os tricolores lembram com certeza desse episódio.

Primeiro tempo arrasador do Vasco, mas a bola teimou em não entrar. Em uma bola parada, Washington pega o rebote e faz Flu 1 x 0. Fim do primeiro tempo. No Segundo, o Vasco domina, pressiona, mas a bola não entra. Em um chutão da zaga Tricolor, Washington arranca do meio campo, dribla dois zagueiros, dribla duas vezes Acácio e finaliza para o fundo das redes. 2x0 Fluminense. Naquela Noite fria e triste, o Flu aliviou minha dor, soprou alegria em meu peito, e fez diminuir a dor no meu coração. O Amor se constrói assim. Em momentos marcantes, o amor se faz presente, se faz amigo, se faz solidário. Posso barrar aqui outros momentos, mas hoje vou me ater a esse, em que o Flu foi meu herói. Sábado dia 02 de Março de 2013, foi meu algoz, me decepcionou, me deixou triste. Tristeza essa que passa rápido, dor curta, passageira.

Fico no coração com o Flu herói. É minha escolha, minha justiça, minha gratidão.

Te amo meu Fluminense. Obrigado.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

O primeiro título (e o primeiro ídolo)


Desde que me lembro de ser eu, isto é, desde o tempo que tenho lembranças reais da casa onde morei, de conversas com meus pais, da primeira escola e dos primeiros amigos, tenho consciência de ser torcedor do Fluminense.

A história que vou contar aqui aconteceu quando eu estava com meus sete anos de idade. Morava com meus pais e minha irmã, em uma simples - mas aconchegante e confortável - casa no distante e quente bairro de Bangu. Minhas primeiras lembranças de ir a jogos vêm do charmoso estádio de Guilherme da Silveira, também conhecido como Estádio Proletário ou Moça Bonita.

Eram casinhas iguais, em ruas de paralelepípedo que circundavam uma grande praça, onde havia um campo de futebol de terra batida, espaços para bicicletas, um enorme pé de tamarindo, que nos brindava com sua generosa sombra e seus galhos onde subíamos e pendurávamos pneus como balanço. Naquele tempo, as crianças andavam de bicicleta, soltavam pipa, brincavam de piques e acima de tudo, jogavam futebol, muito futebol. Éramos felizes, alegres e não nos preocupávamos com essas idiotices do mundo moderno. Ninguém imaginava o que seria o tal bullying, e nenhum dos meus amigos que tinham apelidos do tipo Orelha, Buião, Cabeça, Já Morreu, Cajá, Bolão, Cuia etc cresceram traumatizados por causa disso. Pelo contrário, alguns até se apresentavam pelo apelido, que já era algo incorporado ao nosso dia-a-dia.

Hoje as crianças não saem de casa, vivem nos tablets, PS3, 4, 5, e outros alienadores. Não conhecem a alegria de correr pela rua, suar, brincar na terra, e choram de bullying. Malditos tempos modernos.

Voltando ao tema principal do site e da crônica, quero contar o que aconteceu naquele longínquo tempo. Eu tinha um primo um ano mais velho, que era meu ídolo. Mandava bem no futebol, soltava pipa, fazia balão e já paquerava as meninas do bairro. Para desespero de meu pai, também tricolor fanático, meu primo era vascaíno e usava minha admiração para tentar me converter em “padeiro”. Estava eu já balançando na minha escolha, afinal, uma criança de sete anos, sofre ainda certas influencias e está com sua personalidade em formação. Um dia, cheguei para meu pai e disse: - Pai, acho que vou ser Vasco, igual meu primo Marcelo! Meu pai me olhou um pouco entristecido, mas democrático como sempre ponderou: - Filho, time é coisa que não se troca, mas se for essa sua vontade, problema é seu.

Saí daquela conversa um pouco confuso, não queria decepcionar meu pai, eu gostava do Fluminense, mas estava sob a influencia “negativa” de meu primo - e melhor amigo - naquela época.

Foi aí que os deuses do futebol entraram em ação. Poucos dias depois dessa conversa, a grande final do campeonato estadual. Naquela época não se transmitia jogos como hoje pela televisão. Eram Radio Nacional, Globo, Tupi ou estar no Maracanã. Ver o jogo, somente no videotape à meia-noite na TVE.

Fomos então no velho Opala vermelho do meu pai ao Maracanã naquela tarde de domingo. De Bangu ao Maracanã era quase uma viagem. Chegamos cedo, compramos ingressos e nos assentamos nas arquibancadas. Eu vibrava com o desfile das bandeiras, com a festa do pó de arroz e com a alegria do famoso “careca” espalhando seu amor pelo Flu e seu interminável pó de arroz/talco pelo anel superior do Estádio Mario Filho. Era o lugar certo.

Foi entre uma coca-cola e um cachorro-quente Geneal que eu vi. Uma falta pelo lado esquerdo do ataque tricolor. Barreira mal formada, aquele craque de cabelos desalinhados, que era a cara da garra tricolor. Pegou a bola, ajeitou e correu. A bola quicou na frente de Mazzaropi, que se atrapalhou e acabou rebatendo para as redes vascaínas.

1x0 para o Tricolor. Nossa tradicional goleada. Seguramos o resultado até o final.

Ali, naquele momento, Edinho se tornou meu primeiro grande ídolo tricolor, eu consolidei meu amor e minha devoção ao Tricolor das Laranjeiras e meu pai respirou campeão e realizado. Um grande clube vive de títulos e ídolos. Estamos no caminho certo.

Obrigado ídolos, por vocês existirem

terça-feira, 7 de maio de 2013

O Lego


Dia desses, estava eu em casa, na companhia de minha pequena filha de cinco anos, pensando nas críticas que a mídia e alguns tricolebas (peguei sim emprestado o termo com o irmão colunista Marcus Vinicius Caldeira) sempre lançam contra a equipe de Abel. Dizem que o time é retranqueiro, que joga feio, que passamos sufoco, que recua demais, que não dá espetáculo, e etc.

Exatamente no memento em que refletia sobre tais acusações e as comparava com os resultados alcançados nos últimos dois anos, minha pequena me interrompeu com seu novo brinquedo.

Chegou perto de mim, sorridente com uma caixa de LEGO. Sentou se ao meu lado e me pediu para montar junto com ela um pequeno castelo, com riqueza de detalhes e que pela princesa no alto da torre, que a caixa me revelava, parecia ser Rapunzel.

Confesso a vocês que sou do tipo sentimental, e que jamais me furtaria ao prazer de passar horas viajando na minha um tanto longínqua infância. O tal LEGO, que no meu tempo era  uma espécie de quebra cabeças de pecinhas de plástico coloridas que se encaixam e vão tomando as mais diversas formas, já não é mais como no meu tempo. Agora vem com diversos acabamentos e com objetivo de formar um objeto determinado. No nosso caso, o castelo da Rapunzel.

Reparei que a tarefa não seria das mais fáceis, eram muitas peças e muitos detalhes. Fiquei olhando e pensando e comecei logo a tentar ligar umas as outras aleatoriamente. Logo fui repreendido por minha pequena arquiteta, que do alto de sua genialidade falou que não era assim que se fazia. Que eu precisava seguir as regras, deu um sorriso, e prosseguiu: - Primeiro você conta quantas peças de cada tipo tem na caixa, depois você separa por tipo, tamanho  e por cor. Em seguida começa a juntar seguindo a ordem que vem escrita nesse papel aqui óh!

Ela tinha razão. Seguimos exatamente como ela me orientou. Estudamos, nos preparamos, planejamos e seguimos as regras. Em pouco mais de uma hora, o castelo estava pronto. Lindo, firme e idêntico à figura da caixa. Nos abraçamos felizes e orgulhosos, tínhamos alcançado nosso objetivo. Trabalhamos juntos, em equipe, quem sabia mais dava orientações e quem sabia menos seguia os mais sábios ou experientes.

Minha pequena não tem noção da outra ajuda que ela me deu. Sim, porque além de me ensinar o LEGO, me proporcionar horas te prazer e purificação da mente, ela me ajudou a entender o Fluminense de Abel.

O Fluminense de Abel tem um objetivo, ser campeão. Abel é o arquiteto do LEGO Fluminense. Abel separa as peças, conta quantas tem, planeja e as utiliza de acordo com as regras, ou com as necessidades. Abel não espalha aleatoriamente jogadores em campo e campeonatos. Ele estuda, planeja e executa em busca do objetivo traçado. Seu objetivo não é ser o futebol mais bonito, mais vistoso, nem promover goleadas históricas. O time de Abel é cirúrgico, segue as regras e acima de tudo, sabe aonde quer chegar, qual é o objetivo.

Agradeci a minha filha, por me ensinar aquilo que só as crianças enxergam, o óbvio! Abracei a com carinho, dei um beijo e guardamos o castelo. Em seguida fomos assistir  juntos à vitória de 3x1 sobre o Volta Redonda. Eu e minha arquiteta tricolor.

Até quarta no Engenhão, hora de executar!

ST