sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Cidadão de Bem

Chego cedo a um órgão publico para providenciar um documento necessário a qualquer cidadão comum. Como homem prevenido, faço um agendamento e preparo uma mala com a pequena lista de 172 documentos originais acompanhados de suas cópias autenticadas e registradas. Além disso, preencho também o simples formulário de 784 campos de informações pessoais de fundamental importância. Coisas do tipo: Qual o nome do seu melhor amigo quando completou oito anos de idade. Via crucis inicial cumprida, estou eu diante do Sr. Servidor Público. Na primeira triagem, uma gentil senhora com cara de preguiça olha meus documentos, confere meu agendamento e me dá uma senha. Olho para o salão e me espanto com a quantidade de pessoas que já esperam sentadas, e olha que estamos por volta das 8:00 a.m. Faço então a pergunta fatal: “Sra., qual é o prazo estimado de espera?”. Fecho os olhos com medo da resposta que me abate como um soco na boca do estômago! “- entre duas e quatro horas”, me responde a moça! Perplexo e acometido de um pré ataque de síndrome do pânico, penso em perguntar novamente para confirmar, mas me deu um medo tão grande da resposta mudar para algo tipo: sente e espere sem reclamar Sr.! Resolvi resignar-me e caminhar até a combalida cadeira que me esperava no canto do salão.

 No caminho para a cadeira, sou abordado por um gentil Sr., que muito comovido com minha perplexidade, se aproxima solidário, comentando o quanto é absurdo o tempo de espera, o tamanho da fila e etc.. O rapaz muito solícito me convida para um café, sob a alegação de que tenho mesmo que fazer algo para matar o tempo. Aceitei o convite e nos encaminhamos a um engordurado balcão de cantina de escola de 1960.

Depois de dez minutos conversando amenidades, o rapaz revela o real motivo de sua abordagem. Olha o pequeno papel em minha mão, com a senha No. 158 e revela seu maquiavélico plano.

“Sr. essa senha vai demorar né”? Estão chamando o numero 13 ainda! Aceno com a cabeça, resignado e dou um suspiro de conformismo. Ele aproveita para seguir com seu discurso: Eu tenho aqui  no meu bolso a senha nº. QUARENTA, mas posso trocar pela sua. Vai custar apenas R$ 50,00!  O Sr. pode ficar tranquilo que trabalho com isso há mais de dez anos. Todos me conhecem. Pode ir que é quente!!!

Achei aquilo o cumulo do absurdo! Como poderia aquilo estar acontecendo? Imagina se algum cidadão de bem, honesto e honrado aceitaria participar de um esquema desses?

Desrespeitar quem chegou primeiro e furar a fila pagando uma propina de R$ 50,00!!??? Revoltante!!!

Peguei minha cadeira no fundo da sala, abri o notebook e comecei a narrar essa história. De tão indignado que fiquei, resolvi desabafar e avaliar o comportamento social costumeiro no Brasil.

Nosso povo é assim mesmo. Parece que não se enquadra na sociedade. É comum ver um cidadão indignado frente a uma noticia do JN, onde são apreendidos objetos contrabandeados do Paraguai, da China, entrando no país ilegalmente sem recolher impostos. É um absurdo!!

Esse mesmo cidadão, porém, acha correto ir a Miami e voltar com a mala cheia de relógios, remédios, equipamentos eletrônicos, celulares e etc., e passar pela alfândega sem os declarar.

Comum também é acharmos um escárnio quando no mesmo noticiário, ouvimos que são desviados materiais de hospitais públicos, de escolas. Queremos a forca para os envolvidos. Prisão perpétua!!!

O mesmo ser indignado do parágrafo anterior, acha normal levar para casa uma caneta do trabalho, uma agenda, assim como também acha normal usar o telefone da empresa para ligações particulares.

Indignamo-nos todos quando vemos que estelionatários falsificam documentos, criam empresas fantasmas para praticar golpes e outros delitos. Esses então são marginais! Ladrões safados! Cadeia neles.

O cidadão fica revoltado ao ver que ruas e casas são inundadas por causa do lixo que entope bueiros e galerias. Depois do almoço ele compra um picolé Chicabom e joga o papel no chão da calçada, dizendo que é para garantir o emprego do gari!

E esse cidadão indignado, assim que acaba de ler a notícia, sai todo perfumado e bem vestido, com sua namorada malhada e vai ao cinema, pagar meia entrada com uma carteirinha falsa da UNE. Ele só tem 40 anos e está cursando o segundo período de filosofia. É profundo conhecedor de Sócrates, aquele camisa oito do Corinthians e da Seleção de 1982.

O cidadão se revolta ao saber que na construção dos estádios da copa as obras são superfaturadas. Diz que todos deveriam ir para a cadeira elétrica.

No dia seguinte, pede ao fornecedor de sua empresa a para dar 10% por fora, se ele fechar a contratação da proposta em questão.

Assim é o brasileiro em sua grande maioria. Acha um absurdo quando vê na TV ou nos jornais casos de corrupção, estelionato, desvio de verba e impunidade. Mas é incapaz de mudar sua própria atitude. É Incapaz de enxergar que cada cidadão é agente da mudança, começando a mudar por si mesmo. Só há solução se cada um de nós mudarmos nossa essência.

Estou indignado, revoltado. Sentado na minha cadeira, esperando minha vez e desabafando aqui nessa crônica revoltosa.

Graças a Deus não sou como esses hipócritas. Não jogo lixo no chão e nem tenho carteira de estudante. Nunca aceitei presentes de fornecedores!! Nunca furei uma fila! Temos que liderar um movimento contra a hipocrisia! Dignidade já!!


Preciso encerrar a crônica e desligar o notebook, acabei de ouvir alguém chamar o número QUARENTA! Minha vez. Como é bom ser um cidadão digno e honesto!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Personagens de um mundo chato

Venho acompanhando as notícias que inundam o noticiário cotidiano. Após ler alguns comentários em redes sociais sobre personagens totalmente distintos, o bilionário americano, pré-candidato a presidência, Donald Trump e a pré candidata a celebridade efêmera Ana Paula BBB, me deparei com um questionamento:
 O que haveria em comum entre esses personagens? Por que ambos andam caindo no gosto popular em sociedades tão diferentes como a norte americana e a brasileira?
Donald Trump é um empresário ultra bem sucedido, ultra conservador,  que pauta sua campanha em declarações politicamente incorretas, e eticamente questionáveis.
Fala exatamente o que pensa, sem se preocupar com as repercussões de suas opiniões. Trump deve ser o pesadelo de qualquer estrategista ou “marqueteiro” politico. Fala em um muro separando os EUA do México, em proibir entrada de muçulmanos e expulsar os que la estão.  Esculacha seus adversários, Fala na cara da adversária que ela quase faliu a HP quando presidiu a multinacional ( pura verdade, diga-se de passagem) faz declarações de cunho machista, imperialista e qualquer outro “ista” que faça parte de suas convicções pessoais.
Trump está literalmente cagando para o que vão pensar ou falar dele. Na minha ótica, Trump pensa algo do tipo: “Eu penso assim, se a maioria concordar comigo, serei candidato e talvez presidente. Se não concordarem azar dos EUA”
Claramente não quer nem busca o poder pelo poder. Se apresenta como alguém que não está preocupado em fazer conchavos, negociatas e politicagem. Quer ser presidente para por em pratica o que pensa e acredita.
O eleitor de Trump dificilmente se surpreenderá com alguma decisão de seu candidato pois ele é totalmente sincero,  transparente. Certamente desperta paixões, temores e ódios.
Ana Paula é um tipo parecido, em menor escala é claro, pois sua disputa eleitoral lhe dará no máximo R$ 1,5 milhões e algumas semanas de exposição na mídia, é uma mini Trump.
Confinada numa casa com pessoas desconhecidas, a moça é a típica filha de papai, patricinha, bem nascida, não precisou trabalhar para se sustentar, entrou lá como azarão, brigou com os ditos bonzinhos sem sal, se aliou ao patinho feio que todos estavam isolando, bateu de frente, firmou posição, falou alto, embriagou-se, cobrou que uns e outros saíssem de cima do muro, incomodou, provocou e incendiou o usualmente rodizio de chuchu que é a atração que a Globo comprou da Endemol ( prometo dizer o que penso sobre realitys em outro momento).
Assim como Trump, a moça em nenhum momento se posicionou como o tipo: quero agradar a todos, até mesmo porque isso é impossível
Resultado? Ana Paula já sobreviveu a três paredões, no último, venceu por humilhantes e acachapantes 6 x 0 ( 5 regiões brasileiras + votos da Internet)! Derrotou a mocinha contida, boazinha, trabalhadora e politicamente correta chamada juliana..
Juliana é aquele tipo que nunca soltou um peido na frente de ninguém. Não come frituras nem transgênicos. Boicota empresas que usam trabalho infantil. Acha todos lindos e bondosos. É o tipo que aos Domingos vai ao centro de SP distribuir sopa marmitas, mas que entrou no programa dizendo amar o namorado e passou as festas se esfregando no pouco convincente, masculinamente falando,  Renan.  
Trump vem tendo ótimo desempenho nas prévias do Partido Republicano, e desponta nas pesquisas de opinião como favorito a ocupar a cadeira de Obama. Deve estar deixando muita gente de cabelo em pé por lá...
O que tiro eu como recado desses cenários que ocorrem paralelamente no hemisfério norte e Sul?
O Mundo está chato demais. As pessoas não aguentam mais o rodizio de Chuchu que querem nos entubar. Tudo tem que ser sem cheiro, sem sal, sem gosto.
O Povo está cansado da “engomadisse” do discurso: Tudo é lindo, tudo é legal!
Ninguém tem posições, ninguém pode divergir, se divergir que seja na solidão do vazo sanitário. Ter opinião não é crime! Ter opinião é inerente ao ser humano! “Penso, logo existo!”
Que seja um sinal de alerta para uma reflexão mais profunda sobre os caminhos de nossa sociedade. Todos os exageros são ruins e dão palco a tipos como Trump.
Ninguém aguenta viver de sopa de chuchu! O sucesso de Ana Paula não nos traz grandes riscos, já o de Trump... prefiro nem pensar.
Num mundo sem patrulhamento ideológico, tais personagens dificilmente arrebatariam mais de meia dúzia de fãs.
Que nossos pensamentos sejam livres, e que as opiniões divergentes encaradas como parte da vida.
Se você gostou indique aos amigos, se odiou, indique aos inimigos para que possam me achincalhar aqui!
Beijos a todos
Lennon Pereira

Não concordo com uma palavra do que dizes, mas lutarei até a morte por seu direito de expressa-las ( Ou algo parecido, Voltaire pensador Frances)