terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Capítulo 41 - Esther pra sempre...

Após recitar para Esther parte da música de Roberto e Erasmo, senti as lágrimas correrem incessantemente pelo meu rosto por mais ou menos um minuto e logo em seguida senti uma deliciosa sensação de relaxamento. Segundo Esther, ao me sentar no divã e admitir para ela que tinha ainda dentro de mim medos e incertezas, minha mente pode instantaneamente relaxar e extravasar tudo que ficou guardado dentro de mim. Sim, apesar de muito feliz com os planos de casamento e com os desafios profissionais, havia dentro de mim uma parte que tinha ainda muito medo de tudo aquilo. Agora, já relaxado, fiz a Esther a famosa pergunta: “É normal sentir isso?” Esther, do alto de sua experiência, respondeu com uma breve aula sobre o comportamento humano.

É normal ser humano Herculano. É normal ter dúvidas, medos, receios de tudo que é novo e receios de reviver experiências negativas que causaram dor ou sofrimento no passado. Não é normal o comportamento obsessivo, doentio ou psicopata, mas não é isso que vejo em você. Todos nós lidamos e lidaremos a vida toda com esses sentimentos. Incerteza, medo, dúvida, euforia, alegria, tristeza, realizações e frustrações. Não é normal viver deprimido ou triste, como não é natural aquela pessoa que está 100% do tempo feliz, isso é humanamente impossível. Viver triste é doença, mas ficar triste é do ser humano. Se acontece algo que nos magoa e entristece, devemos viver e respeitar o sentimento, mas como tudo na vida, devemos superar e seguir em frente. Não podemos ser reféns nem escravos de medos, angústias, ansiedades ou sentimentos do gênero, da mesma forma que não podemos nos cobrar ser 100% do tempo seguros, felizes, motivados e confiantes. Nossos sentimentos e sensações precisam ser vividos e equilibrados. É normal você ter momentos para extravasar como esse e um conselho profissional que te dou é: Mantenha o equilíbrio! Trabalhe muito mas não abra mão do lazer e do convívio daqueles que você ama, não deixe de cuidar da sua mente, seu corpo e seu coração. O Equilíbrio é o grande segredo de viver bem e ter sucesso na vida! Lembre-se disso meu paciente impaciente!

O Jogo de palavras usado por Esther no fim de seu pronunciamento me tocou fundo. Na verdade, muitas vezes eu fui um ser impaciente e esse seria o próximo defeito que cuidaria em mim. Ansiedade e impaciência, inimigos íntimos que quando não controlados podem trazer grandes prejuízos.

Conversei mais um pouco com Esther sobre o noivado e o fim de semana em Búzios. Não faltava muito tempo para o fim da consulta e eu queria sair dali mais leve, não adiantava querer tratar tudo de uma vez só, e eu já começava a tratar minha ansiedade nesse momento, controlando minha ansiedade em tratar tudo de uma vez. A sessão em curso já havia apresentado muitos frutos e ensinamentos, era o suficiente, eu agora queria ficar mais tranqüilo. 

Esther me pediu que não ficasse mais tanto tempo sem aparecer, não era bom para a evolução da terapia. Agradeci e nesse dia me despedi de Esther com um abraço agradecido. Pela primeira vez vi Esther quase se emocionar, ou quase demonstrar. Ela me olhou quase maternalmente e aproveitei a dica, saí do consultório, liguei para dona Márcia e pedi para cancelar todos os compromissos da tarde. Liguei para a casa dos meus pais e pedi que minha mãe se arrumasse pois estava indo lá buscá-la para um passeio a tarde.

Passei para buscá-la e ela até estranhou minha atitude: “algum problema meu filho, aconteceu alguma coisa?”. E eu respondi que sim, havia me dado uma crise de saudade e passaríamos à tarde juntos como há tempos não fazíamos. Fomos até o Forte de Copacabana. Lá tem uma filial da Confeitaria Colombo, um visual maravilhoso, e muitas guloseimas deliciosas. Nada de adoçantes ou comidas light.

Passamos à tarde nos deliciando com bolinhos, pães, doces, chás, a bela vista e muitas lembranças do passado. Minha mãe narrou com alegria muitas das minhas artes de bebê e criança. Dizia com olhar doce que eu era uma criança sapeca,  brincava muito, mexia em tudo e que era muito carinhoso. Foi muito bom ficar ali contemplando minha mãe e suas memórias. Ela falou sobre meus avós e experiências nas escolinhas. Eu estava ali de frente para minha biografia viva. Ninguém sabe mais dos filhos do que a Mãe e confesso aqui uma coisa, se Deus fez algo melhor do que Mãe, ele guardou para ele. Tenho em mim até hoje uma definição ímpar de mãe que dividirei com vocês: “Mãe, uma fonte inesgotável de um amor inexplicável e imensurável.” E só, nada mais precisa ser dito.

Deixei minha mãe em casa no final da tarde, pois ela precisava estar em casa para preparar o jantar. Era uma mulher ao estilo antigo, daquelas que preparam café da manhã, almoço e jantar, que cuida das roupas do marido e da casa. Meu pai era um homem de sorte, e eu esperava ser também agora com Lara em minha vida.

Saí de lá e resolvi passar pela praia para caminhar e pensar um pouco na vida. Parei o carro ali no Arpoador e como era horário de verão, pude contemplar o pôr do sol no cartão postal preferido da "turma da marola". Fiquei ali pensando comigo nos motivos que faziam aquela turma de corpo sarado e pele dourada se drogar perante um evento tão espetacular. Na minha cabeça não entrava nenhum motivo capaz de fazer aquele evento ainda mais maravilhoso. Minha consciência queria guardar aquela cena com todos os detalhes de sua plenitude. Enquanto o sol baixava eu repassava o filme de minhas últimas semanas. Tentava ver como encaixar os fatos, como peças de um quebra cabeças. Eu sabia que aquele era um momento fundamental de construção de alicerces. Construir o futuro, a partir daquele ponto, de forma sólida e planejada seria o segredo do sucesso futuro de minha vida, além de ter paciência é claro.

Eu precisava acima de tudo me manter concentrado e focado, ficar disperso acaba cedo ou tarde trazendo problemas. O sol mergulhava no oceano Atlântico, em tons de vermelho, amarelo e laranja. Lindo, inigualável! Minha viagem foi interrompida quando ouvi  uma mãe dizendo pro filho de uns cinco ou seis anos: “Está ouvindo filho? O sol quente entrando na água e fazendo tzzzzzzz? Ele vai apagar hoje e reascender amanhã!” O menino olhava admirado e acreditava nas palavras de sua mãe. Tenho certeza que lá no fundo ele até mesmo podia ouvir o barulho do sol quente se apagando no oceano. Que saudade do tempo em que todas as minhas  verdades vinham das coisas que eu ouvia dos meus pais. Desci da pedra do arpoador e segui em direção ao carro. Quando estava com a chave na mão para abrir a porta ouvi uma voz me chamando de dentro do ônibus que passava: “Oi Meu Lindo! Está famoso, te vi nos jornais!!

4 comentários:

Cláudia Otoni disse...

“Mãe, uma fonte inesgotável de um amor inexplicável e imensurável.” E só, nada mais precisa ser dito.

Lennon Pereira disse...

Obrigado mais uma Vez Ccláudia, minha estimuladora e desafiadora leitora!

Cristiane disse...

"Antigamente minha mãe dizia, ele é uma criança não entende nada.Por dentro eu ria, satisfeito e mudo, eu era um homem, entendia tudo.Hoje com só com os meus problemas (...), fico triste, insatisfeito e mudo, eu sou um homem e não entendo nada".
A lembrança de sua mãe, crianças,
os questionamentos do Herculano.Me lembrei do sempre citado por vc, Erasmo.É assim mesmo, não é?
Mais uma vez, muito bom.

Lennon Pereira disse...

"...sou uma criança não entendo nada..." é isso aí Cris, Sabias palavras do Erasmo! muito feliz quando leitores se identificam e curtem os capítulos!! obrigado, não deixe de mandar seu email para que eu possa convidar para o lançamento.
beijo