quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Capitulo 36 - A magia de Búzios


Estávamos no carro, já entrando na Via lagos, quando eu comentei com Lara que ir para Búzios para mim era como o Super Homem se aproximando do sol. Eu sentia que minhas energias se renovavam, minhas forças se restabeleciam. O famoso balneário fluminense que  encantou Brigite Bardot, Luisa Brunet e muitas outras beldades, era meu refúgio preferido. A própria estrada, o caminho já me faziam bem. Criei hábitos que faziam tudo mais agradável durante o percurso. Sempre me recusei a ser do tipo que sai com o carro entulhado de coisas. Uma mala com roupas simples, com bermudas, sungas e camisetas,  coisas de praia apenas. Um bom livro, sempre,  e coisas básicas. Curtia parar na estrada em alguns pontos específicos. Um deles, uma casa de queijos e especialidades a beira da estrada. Lá podia comprar os mais diversos e deliciosos queijos e frios, e carnes deliciosas. Lá eu costumava comprar picanha uruguaia, costela e  cabrito, além dos queijos e petiscos. Me fazia bem a alma e a mente ficar “pilotando” a churrasqueira. Fugia da rotina, fazia coisas diferentes, espairecia a mente totalmente. Portanto, parar para escolher as delícias do fim de semana e degustar os queijos que nos davam para provar, faziam parte da liturgia da viagem.

Lara dizia que minha expressão mudava quando entrava no carro para viajar. Fizemos como de costume, paramos para as compras e seguimos a viagem. Estrada vazia e céu azul como “Céu de Brigadeiro”, sem uma nuvem a vista, como diria Caetano “...azul que é pura memória de algum lugar...”. eu amava essa música e não me demorei a encontrá-la no CD do carro. Chegamos à casa de Lucas cedo, por volta das dez da manhã, esvaziamos o carro, nos instalamos na mesma suíte de nossa primeira e inesquecível noite e nos espalhamos pelo deck e pela piscina.

Júlia já estava com uma bela barriga, ergueu seu copo de suco e sugeriu um brinde: “Esse brinde é uma saudação da Rafaella aos seus queridos e lindos dindos!”. Essa era Júlia e seu jeitinho peculiar de dar as notícias. Ela poderia simplesmente dizer que esperava uma menina e que já tinha o nome em mente, mas isso não tinha a cara dela. Ela era teatral, romântica e de certa forma um pouco impar. Gostava que tudo tivesse um toque pessoal, um toque de casualidade até nas formalidades. O casamento deles foi um exemplo. Casaram-se num resort na praia, sem igreja e sem padres ou pastores. Convidou um juiz de paz. A festa foi durante o dia e proibiu ternos e longos. Entrou com um leve vestido marfim e vestiu Lucas com uma calça branca e uma bata. Estavam lindos, elegantes e naturais! Deus abençoou com um belo dia de sol e todos dançamos muito ao som da banda que eles contrataram. Agora Júlia dava assim a notícia de que eu e Lara seríamos dindos de uma menina e que já tinha até nome! 

Imediatamente nos levantamos e fomos abraçar o casal  anfitrião. Lucas estava explodindo de felicidade e o brinde com Red Label que fizemos naquele momento seria o início de um dos maiores porres de sua vida como vocês verão no decorrer da história. Minha vontade foi de dizer a eles que os  dindos ficariam muito felizes se Rafaella pudesse ir ao nosso casamento. Refleti  e preferi tratar melhor esse assunto com Lara e guardar a noticia para um momento em que estivéssemos com tudo mais amadurecido. Além disso, provavelmente Dr. Oswaldo e dona Heloísa tinham planos para um anúncio oficial nos moldes dos Oliveira Telles. O momento de festa e notícias era de Lucas e Júlia. Cada coisa no seu tempo.

Fizemos o brinde, ficamos ao sol a beira da piscina por mais algum tempo conversando os quatro e eu curtindo um pouco minha amada Lara. Bom demais ficar abraçado a ela na piscina e conversando com meus queridos amigos! Esses momentos fazem mesmo qualquer sacrifício valer a pena. A cada vez que eu olhava para Lara me sentia mais envolvido e encantado. Por volta de uma hora da tarde, chegaram dois casais de vizinhos amigos  de Júlia e Lucas, foi a deixa para eu assumir meu posto preferido: o churrasqueiro! Os homens foram para perto da mesma e as mulheres permaneceram na piscina. Uma divisão corriqueira e normal em nossa sociedade. Homens bebem, fazem churrasco e falam de futebol e as mulheres se embelezam ao sol e conversam sei-la sobre o que. Nunca fui mulher para descobrir a verdade, mas imagino que falem sobre coisas muito mais importantes e maduras do que nós homens. Tirando um ou outro momento em que falamos sobre trabalho ou sobre política,  a maior parte do tempo que nós homens estamos reunidos, falamos besteiras. Parece que voltamos à adolescência. Contamos piadas,  debochamos uns dos outros, contamos derrotas, lembramos de micos do passado e coisas do tipo. Nosso lado adolescente nunca morre, apenas fica adormecido e aflora quando estamos em festa e em estado etílico.

Lucas fazia diversos brindes enquanto eu ia preparando os tira-gostos. Brindamos à Búzios, à Rafaella, aos negócios, aos amigos, ao churrasco e a tudo o mais que você puder imaginar. Ficamos ali boa parte da tarde a contar histórias, rir, beber e conversar. Lá pelas cinco da tarde, Lucas já com a mente relativamente tomada pelo inebriante malt escocês entrou em casa e voltou acompanhado de seu querido violão. Encheu mais uma vez o como com bastante uísque e gelo e começou a desfilar seu repertório. 

Começamos pelos clássicos do Rock Nacional dos anos 80, músicas que todos ali haviam curtido bastante. As mulheres ainda aproveitavam os últimos raios de sol, mas quando Lucas já quase sem censura atacou com o lado romântico, todas vieram para nossa roda. Eu como piloto da churrasqueira, havia bebido pouco até aquele momento e me divertia muito com tudo que podia observar. Os vizinhos estavam quase no mesmo ritmo que Lucas, mas ainda mais sóbrios, ou menos bêbados, as meninas alegrinhas, exceto Júlia que não dava álcool a Rafaella. Era um fim de semana mesmo maravilhoso. Aquela casa linda, sol, piscina, boa comida e altíssimo astral. 

Lara veio até mim e já soltinha pelas taças de prosseco servidas às moças na piscina abraçou-me e falou com voz mansa e doce ao meu ouvido. “Tenho ótimas recordações desse lugar. Aqui conheci o homem que espero ser o definitivo em minha vida, um homem que primeiro me respeitou, me aconselhou, me preservou e por fim me amou como eu queria ser amada.” Beijei Lara com amor, paixão e alegria. Acho que pela primeira vez beijei e sorri ao mesmo tempo, se é que isso é possível. Lara segurou meu rosto com as duas mãos, olhou fundo em meus olhos, me deu um selinho longo e disse: “me aguarde!”. Pegou minha mão e me levou para a roda de violão.

Lucas já estava tocando sem parar há quase uma hora e foi a vez de um de seus vizinhos assumir o posto. O rapaz era mesmo muito habilidoso! Desfilou um repertório que começou com U2, Led Zepellin, The Police, James Taylor e outros que não me lembro bem. Todos aplaudiram, mas depois de uns vinte minutos Lucas protestou, dizendo que na casa dele não se cantava música internacional. Coisas de bêbado. Todos riram e ele reassumiu com força total.

"Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...
Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita..."

O grande, talentoso e precocemente falecido Gonzaguinha  dava o tom de MPB novamente à nossa roda de violão. Lucas ainda conseguiu tocar mais umas cinco ou seis músicas até sua voz não poder mais acompanhar as batidas de seu violão. Foi minha vez de tocar algumas baladas. Eu andava muito mais pro romântico do que para o roqueiro de uns tempos atrás, toquei, atendendo à pedidos das mulheres, Roupa Nova, Fabio Jr, Marisa monte e Chico Buarque, esse um grande leitor da alma feminina. O Melhor de tudo era trocar olhares apaixonados com Lara. Lucas fechava os olhos e acompanhava todas que conseguia. Júlia ria e dizia em tom de piada que Lucas dormiria no sofá. Não tínhamos dúvidas disso, pois ele jamais conseguiria subir as escadas naquele estado. Júlia entendia a felicidade do marido, que raramente relaxava e se soltava como fez nesse dia. Lucas exalava álcool e felicidade, não necessariamente nessa ordem.

Lara me pediu que cantasse uma música, a qual segundo ela, era a música que fazia  lembrar de nós ao ouvir. Quem era eu para negar um pedido de minha amada? Peguei o livrinho para colar e entoei suavemente:

"Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Prá te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida"

Terminei de cantar com as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Olhei em volta e todos estavam com olhos marejados. Os casais estavam abraçados e em silêncio e Lara me olhava com aquele olhar que só ela sabia fazer. Júlia com seu jeito e sua presença de espírito salvou a festa com palmas e pedindo logo uma balada mais animada. Bebemos e cantamos por mais um bom tempo, até que Lucas apagou sentado na cadeira. Levamos o anfitrião para o já citado sofá e fomos fazer uma sauna para  nos prepararmos para a noite  que já se anunciava.

4 comentários:

Anônimo disse...

A musica do Gonzaguinha deve ser a musica tema do Herculano na sua nova fase.

Lennon Pereira disse...

obrigado Sr. Anonimo! Bom fim de semana

Rodrigo Luiz disse...

Meu prezado, a história é muito boa e eu a acompanho periódicamente distante que estou do Rio de janeiro, minha cidade natal.Ela me faz sentir saudades e ao mesmo tempo " matá-las" , mesmo que virtualmente.Parabéns, mas me desculpe uma correção em nome daqueles que não conhecem nossa cidade:Buzios não é um balneário Carioca, mas sim fluminense, senão é capaz de algum turista chegar ao Rio e pagar um taxi para ir tomar um banho alí, em Buzios porque leu num livro...(rs,rs,rs).

Lennon Pereira disse...

Olá Rodrigo! Ja está devidamente corrigido o texto, vc tem razão, vai ficar caríssimo o taxi do Tom Jobim até Buzios!! Obrigado pelos comentários e por acompanhar o Blog/Livro!
Grande abraço, ficar longe do Rio da mesmo muita saudade!!