quinta-feira, 5 de julho de 2018

Os Invisiveis

Uma quinta feira comum, desci para almoçar e em seguida caminhei a pé pela Av das Américas em direção ao Downtown para postar uma encomenda no correio.

Sol a pino, um calor típico do inverno carioca. O sol me incomodava e eu caminhava observando a avenida e os carros velozes passando... paro para atravessar no sinal, vejo um carrão alemão importado. um desses não sai da concessionária por menos de R$300.000,00.

Na frente dele um jovem de menos de 16 anos, negro, sem camisa, pés descalços, fazia malabarismos com bolas de tênis, frente ao carrão importado.

Distraído com a cena, esqueço de atravessar a rua. O rapaz passa entre os carros, janelas fechadas e insulfilm escuro, são uma demonstração de que queremos nos tornar invisíveis para a realidade, ou nos esconder dela. Vergonha? Culpa? Não sei dizer.

Chamei o rapaz e perguntei se ele já tinha almoçado, ele meio desconfiado por alguém notar a existência dele me respondeu: “ Não Sr. almoço quando chego em casa, quando tem comida, ou quando consigo levar algum para minha mãe.”

Chamei o rapaz para ir comigo a loja de conveniência ado posto ao lado, orientei que escolhesse o que quisesse. Ele pegou um sanduíche simples e um refrigerante, me agradeceu e saiu desejando que Deus me abençoasse muito.

Não me senti abençoado, me senti estranho, eu não sou merecedor da benção e nem da gratidão dele. O ato não resolve nem de longe sua realidade ou suas perspectivas.

Que mundo estamos ajudando a perpetuar? Onde perdemos nossa sensibilidade, empatia e compaixão?

Continuei meu caminho, refletindo e pedindo a Deus que abençoasse não só ao rapaz, mas a todos nós, para que possamos de alguma forma encontrar um caminho que nos leve em outra direção.

Que o insulfilm em nossos olhos seja retirado para que possamos enxergar o que não estamos vendo a nossa volta.
E que retiremos as blindagens de nossos corações.