quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O caderno

Estava eu com meus botões pensando e buscando inspiração para escrever minha querida crônica semanal, pois sei que ela é ansiosamente aguardada pelos meus fiéis e incansáveis leitores: meu pai e minha dinda (já que mamãe não está mais no plano que permite acesso aos computadores). Confesso que estava sem o menor tesão ou inspiração, devido ao medíocre nível técnico do futebol apresentado no último fim de semana pelos times do Campeonato Brasileiro. Foi quando, num determinado momento, me dei conta da música que tocava no rádio do meu carro. Era o corinthiano Toquinho, entoando, acompanhado de seu fino e inconfundível violão, os versos da música “O Caderno” de autoria do genial tricolor Chico Buarque:
“Sou eu que vou seguir você do primeiro rabisco até o bê-a-bá…”
Parei para pensar naquela dupla e em suas composições ou suas tabelinhas. Imediatamente me lembrei de diversas outras duplas, que fizeram semelhante sucesso de raro talento e beleza. Vieram-me à mente, imediatamente, Tom Jobim (também tricolor) e Vinicius, Carlos Lyra e Baden Powel, Caetano e Gil, Roberto e Erasmo, Lennon e McCartney, Simon e Garfunkel, Elis e Jair Rodrigues, João Bosco e Aldir Blanc e os comparei com os talentos contemporâneos na esfera futebolística.
Nessa hora listei rapidamente: Pelé e Coutinho, Tostão e Dirceu, Rivelino e Gil, Didi e Garrincha, Assis e Washington, Zico e Nunes, Sócrates e Zenon, Falcão e Carpegiani, Tato e Branco e, já na década de noventa, Bebeto e Romário.
Comparei mentalmente as listas e comecei a pensar no que elas representavam para seus tempos e estilos de arte. Sim, futebol é uma arte, muito mais do que uma competição ou um simples jogo.
Comecei, a partir desse momento, a entender minha falta de vontade em escrever sobre a última rodada. Nada de arte havia ali. Muito pouco de arte se vê no futebol de hoje, no mundo de hoje.
O Futebol atual é brindado com pequenos lampejos de genialidade e beleza. Basta analisar os destaques do campeonato: Seedorf, Alex, Zé Roberto, Juninho, Deco (o de 2012)… Todos beirando a casa dos quarenta anos de idade. Entre os jovens, muito ímpeto, correria e pouco talento, pouca inspiração.
A vida imita a arte e a arte imita o futebol. Temos na música também um show de lixo e mediocridade. É sertanejo universitário, Anita, Naldo e seus genéricos, até o tão preservado Samba, de mestres como Cartola, Silas e Didi, hoje desfila pelas avenidas com sambas patrocinados que chegam ao cúmulo de falar do trânsito, de raça de cavalo e da importância da imigração dos Guiné Bissauenses para a formação do Samba no Brasil. Até mesmo Vercilo já tem seu genérico.
As crianças da minha geração assistiam na TV a especiais compostos por Tom Jobim e Vinicius (Arca de Noé), Chico, Toquinho (Casa de Brinquedo), entre outros. As de hoje imitam o show das poderosas e dançam as Empreguetes.
Os craques de setenta viram Zizinho, Nilton Santos, Garrincha e Didi. Os de 80 e 90 viram Pelé, Gerson, Rivelino, Zico, Sócrates, Falcão… E aí fica minha pergunta: Onde nos perdemos? Em que momento nós perdemos a mão? Como esse processo de bundalização e de democratização da mediocridade se instaurou? Como não percebemos? Por que não fizemos nada para evitar? E depois dessas perguntas, vem a pior e mais assustadora de todas: o que será do futuro das crianças de hoje? Que artistas serão? Que craques surgirão? Que cidadãos estamos formando para o futuro?
Preferi parar por aqui, pois estava ficando mais deprimido com meus pensamentos do que com a rodada do fim de semana.
Despeço-me daqueles que conseguiram chegar até aqui e peço que a providência divina nos afaste de tão sombrio destino.
Uma vitrola, por favor, que preciso ouvir meus vinís!!
Que Deus abençoe!
Até a próxima!
 

terça-feira, 13 de agosto de 2013

A Vida continua!

Peço aos meus amigos e leitores, e principalmente ao meu querido editor Paulo Andel, desculpas pela temporária ausência.
Muitos de vocês acompanharam pelas minhas ultimas crônicas, a luta, o drama familiar vivido por esse humilde cronista.
Assim como a Copa vencida pelo Brasil, a nossa luta chegou também ao fim.
As 22h40min do dia 23 de Junho de 2013, nossa guerreira teve seu ultimo lance nos gramados da vida terrena. Após 65 anos de batalha, pendurou as chuteiras, os refletores se apagaram e veio o apito final. Suas forças foram vencidas, extenuada por uma luta de 43 dias de UTI. Como todo grande craque, lutou bravamente, até o último minuto, ultimo suspiro, ultimo pulsar.
Deixou seu clube órfão e em luto, como fazem os grandes craques, como fazem os insubstituíveis, os indispensáveis. De sua trajetória de glórias e títulos, cabe listar alguns, pois todos eles eu seria incapaz de relatar.
Um clube orgulhoso e vencedor. Um casamento celebrado aos 23 anos de vida, que seguiu a ordem divina: “…o que Deus uniu, não separe o homem… amando se e respeitando-se na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença… até que a morte os separe”.
Quarenta e dois anos depois, deixa o Presidente sem sua primeira dama. Quarenta e dois anos, nos tempos de hoje, merece sim uma honraria especial. Só com muito amor, amor verdadeiro, duas pessoas totalmente diferentes, dividem a vida juntos por tanto tempo. Com respeito, carinho, amizade, amor, companheirismo, abdicação, paciência, abnegação e dedicação, além da benção e o apoio de Deus. O primeiro órfão enlutado é o presidente do clube, o viúvo, meu pai, que caminha dia a dia ao nosso lado em busca de consolo. Uma vida inteira juntos. É como reaprender a viver a partir de agora.
Além desse, ela carrega mais dois maravilhosos e gloriosos títulos. Deixa dois filhos, um homem e uma mulher, ambos criados. Adultos, educados, orientados e formados com muito amor e dedicação. Sim, nossa craque formou dois filhos, amigos, unidos, amorosos que sempre respeitaram as leis, pai e mãe, os mais velhos. Criou cidadãos conscientes e preparados para o mundo.
Deu a nós: Amor, educação, instrução, carinho e muitos, mas muitos anos de sua vida. Seu orgulho e sua vitória estavam em nos ver bem criados, em nos ver sorrir, em nos ver felizes.
A dor de seus filhos era a defesa adversária mais implacável, e fazia com que ela se tornasse um Pelé, um Messi! Sempre pronta para estraçalhar seus zagueiros. Não havia linha dura que e vencesse, intimidasse ou impedisse.
Agora enfrentaremos sozinhos, sem nossa maior protetora e defensora. A vida fica mais difícil para nós.
Carrega também o glorioso titulo de avó venturosa e providente, que deixou seu lar e seu “Presidente” por uns meses, pois sua neta nasceu em outra cidade, e ela com sua experiência e sabedoria de muitos campeonatos, foi para junto de sua filha nesse momento. Por lá ficou alguns meses, como se jogasse no exterior, para ajudar a um de seus queridos.
Em São Paulo, passou os primeiros meses de vida de sua neta Mariana, que hoje, com 6 anos, nos brindou com um alento de que a vida se renova, e nos consolou ao saber da despedida da vovó com as seguintes palavras: “Eu entendo o que vocês estão sentindo… mas ela está melhor agora lá no céu, com Deus, e Jesus vai recebe-la com muito amor e carinho…”
A vida é assim! Perdemos o grande e maior craque da companhia. Nessa hora, olhamos para as divisões de base e enxergamos o milagre da vida! O milagre da renovação, da continuidade.
É a grande prova de que a saudade, lembrança, a gratidão, o reconhecimento e o amor serão eternos.
Grandes craques nunca são esquecidos, mas graças a Deus, a vida continua e se renova.
No dia de seu embarque definitivo, muitos fãs, travestidos de amigos, estiveram ao nosso lado, para a despedida e para a última homenagem.
A força dessa “torcida”, foi fundamental para que dor e tristeza se transformassem em consolo e esperança de dias melhores.
A vida é assim, todo campeonato se acaba, todo craque um dia se aposenta. Ficam as glórias, a lembrança, a saudade, as imagens, gravadas em mídias ou nas mentes e nos corações.
O clube se reúne. É hora de hastear a bandeira a meio mastro, em respeito, em luto, em memória.
Não abandonaremos o campeonato da vida, aos poucos retornamos aos treinos, aos jogos e à novos títulos.
Aos que estiveram conosco nessa empreitada meu muito obrigado em nota oficial, em nome do clube. Certos de que um dia, jogaremos todos juntos novamente nos gramados celestes, onde as luzes nunca se apagam, não há contusões e nem mais apito final.
Muito obrigado à minha querida mãe Maria Célia, a quem agradeço por ter me gerado, me dado a luz, amor, educação e carinho. Se hoje não sou melhor, é porque não ouvi todos os seus conselhos.
Fica essa homenagem.
Te amo

Quando a Luz se apaga

O quem vem depois? Depois que os olhos dela se fecharam para sempre, que seu corpo parou de respirar e seu coração parou de bater?

Depois resta a vida a ser vivida de uma forma desconhecida, sem o maior porto seguro, sem o colo ...derradeiro onde todas as lagrimas podem ser derramadas sem medo, de onde sempre viria uma palavra ou um gesto de carinho e consolo, conforto, amor .

Encarar o mundo sem o ninho, sem o olhar materno. Saber que nos momentos de derrota não poderemos contar com aquela que sempre nos acolherá de braços e coração abertos, e que os momentos de vitória não serão jamais plenos, pois não poderemos com ela compartilhar e receber seu terno e amoroso sorriso.


A vida agora é mais cruel, não permite mais erros, não há mais a certeza do apoio incondicional. Na verdade não há mais o calor do amoroso colo materno, não há mais onde descansar plenamente.


Não há mais onde recostar a cabeça o corpo cansados para receber aquele conselho que acalma, que alivia e que encoraja. Simplesmente não há mais o amor de mãe. As lágrimas não tem mais fim, nem hora para chegar, uma lembrança, uma música, uma fotografia ou um momento qualquer. Não as controlo mais, elas agora correm para o infinito. O colo de mãe era a represa, onde o rio acalmava e se tornava um grande, belo e lindo lago da aguas calmas e limpas. 


Os dias seguem as horas passam, o sol nasce e se recolhe. Tudo parece estar igual, mas tudo está diferente. A magia se perdeu. Hoje entendo o significado da palavra órfão. Hoje me compadeço mais de todos que por isso já passaram, até mais do que daqueles que nunca sentirão essa dor. 


Quem nunca teve mãe, não sabe a dor que é não ter mais. 

Talvez esses sejam mais amados por Deus por nunca terem que sentir tamanha dor, tamanha tristeza, tamanha ausência, infinita saudade. 


Depois dessa experiência, o medo é algo que deixa de existir. Digo que hoje o medo passou a se chamar indiferença. Tanto faz. Nem o Sol ilumina tanto e nem a noite é tão escura. 


E os momentos de maior alegria, são igualmente os momentos mais tristes. 

Ouço em todos os cantos que vai passar. Peço desculpas para dizer que não acredito, e para rezar para que eu esteja errado.