segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Capítulo 43 – Começam as provações – Nem só de flores se faz um jardim

Falei com Lara pelo telefone e fui para casa descansar. Lara me pareceu um pouco tensa, o que me deixou um pouco preocupado. Enquanto eu falava com ela, o celular tocou simultaneamente e tive que desligar sem mais perguntas. Retornei a ligação e era Lucas com uma novidade nada agradável. Teríamos que viajar segunda bem cedo para Brasília. Tínhamos uma negociação importante para dar andamento. Lucas iria comigo na segunda, faria as apresentações e voltaria na terça para o Rio de Janeiro, ficaria à meu cargo seguir com os negócios lá até quinta feira, afinal ninguém trabalha em Brasília numa sexta-feira e isso não era novidade para ninguém. Mudança total de planos! Eu teria que trabalhar sábado para deixar tudo encaminhado para a semana ausente. Liguei para o celular da minha secretária, me desculpei pela hora, expliquei o motivo e o imprevisto e pedi que ela convocasse Anna para trabalhar conosco sábado se fosse possível. Márcia era profissional experiente e vivida,  disse que estaria lá e em alguns minutos me ligou de volta dizendo que Anna também estaria. 

Inconscientemente eu estava fazendo minha escolha. Anna foi a primeira pessoa que pensei em convocar para a missão. Talvez o normal fosse chamar Gilvan, homem é mais desprendido, Anna talvez tivesse compromisso com namorado ou algo assim. Como Lucas me pegou de surpresa, agi rápido sem fazer muitas análises. Estava claro que minha consciência já classificava Anna como mais preparada para a função e para o desafio. Particularmente, costumo dar mais valor às pessoas espontâneas que colocam o coração naquilo que fazem. Anotei num livrinho para perguntar a Esther sobre o assunto.

Liguei novamente para Lara, já de casa. Ela estava com a voz sonolenta de quem está dormindo ou quase. Disse a ela que teria que trabalhar e ela respondeu algo tipo “que bom”, era a senha para demonstrar que estava mesmo dormindo. Lara às vezes fazia isso, falava comigo sem saber direito o que estava falando e isso me deixava meio chateado na hora, mas depois passava. Resolvi dormir também, pois teria um dia cheio e a meia dúzia de chopps estava cobrando a conta me fazendo pesarem as pálpebras.

O sábado me mostrou que eu havia feito a escolha certa. Anna trabalhou dedicadamente, sem reclamar nem um minuto. Passamos o dia no escritório, pedimos ate para entregar o almoço lá, pois era muita coisa e não queríamos perder tempo. Anna correspondia às expectativas, era ágil e aprendia rápido. Tinha iniciativa e ouvia as orientações com especial atenção. As sete da noite estávamos cansados mas realizados por termos sido tão produtivos. 
Dependendo do desempenho de Anna durante minha ausência ela seria promovida puramente por mérito. Pedi a Dona Márcia que supervisionasse tudo e deixei as duas em casa. Primeiro Anna que morava na barra e depois Márcia que morava na Tijuca. Márcia e eu conversamos muito na volta, ela era mais velha que eu e trocamos boas experiências. Falava sobre o casamento do alto de seus quinze anos de experiência. Ficou feliz ao me ver noivo e falou sobre os desafios de um casamento feliz. 

Segundo Márcia, para um casamento dar certo e ser duradouro, os dois têm que ter como objetivo estar casados. Só assim duas pessoas diferentes conseguem superar os desafios e barreiras de viver junto com uma pessoa, dividir intimidades, problemas humores e tudo mais que vem a reboque depois das tradicionais comemorações religiosas e mundanas, onde tudo é alegria; “Depois vêm a Realidade Dr. Herculano. Dormir e acordar junto, manias, chatices que todos temos, gostos e hábitos diferentes, famílias, educações diferentes... eu e Ronald estamos juntos há 18 anos, três de Namoro e quinze de casamento. Enfrentamos muitos obstáculos. Ronald ficou dois anos desempregado. Ficou com a cabeça péssima, se sentia mal, ficou deprimido, chorava, implicava com as crianças. Eu segurei a barra e tudo passou Já tivemos várias brigas mas sempre temos como objetivo comum manter nosso casamento e nossa família. Depois vêem os filhos. No inicio é muito difícil, tivemos gêmeos, estão com doze anos. Agora é mais fácil, mas quando bebês, o homem se sente desprezado, a mulher só tem olhos para os filhos, a libido diminui, nossa auto estima cai, nos achamos feias, ficamos muito cansadas, da depressão. Xiii, é melhor parar por aqui para o senhor não desistir!”. 

Rimos um pouco do assunto e falamos de Anna e de sua dedicação e aparente futuro promissor, até que chegamos á casa de Márcia. Antes dela sair do carro me deu um conselho ou algo parecido: “Vai à Brasilia não é? Não é só Anna que terá seu vestibular. Prepare-se e ouça atentamente os conselhos do Dr. Lucas. Boa noite e bom domingo!"

Liguei para Lara e ela pediu que eu fosse almoçar na casa dela no domingo, já que eu iria passar a semana fora, ela queria tratar alguns assuntos comigo. Na hora não dei muita bola, imaginei que Lara mostraria coisas relativas a festa ou decoração, ou algo referente ao futuro apartamento, coisas corriqueiras e sem maiores importâncias. Depois descobriria que estava enganado. Como estava na Tijuca, acabei passando no bar para rever os amigos e relaxar um pouco. Eu sentia falta do convívio com a turma do Estephanio´s. Turma boa, de bom papo, boas histórias e bons corações. Nada como deixar de ser figurinha fácil. Muitas vezes minha presença era quase imperceptível, agora que eu era quase turista, sempre havia festa com minha chegada. Isso me fazia bem ao ego e eu me sentia ainda melhor na companhia deles. 

Ficamos por lá cantarolando, batucando e tocando violão. Mais algumas tulipas e os amigos me atualizavam sobre as novidades. Os novos casais, os porres, os micos e coisas do tipo. Martha apareceu com Chris e eu percebi que a coisa era mesmo séria. Martha sentou-se ao meu lado e puxou papo. Conversar com Martha nunca era em vão e eu sentia muito mais falta disso do que de nossos encontros amorosos. Martha logo me achou com cara de cansado e eu, em um breve relato, expliquei minha rotina corrida e minha agenda. Martha me fez um cafuné amigo, tentando desembaraçar meu cérebro que estava mesmo meio cansado da batida do sábado e já um pouco tenso com a semana que me aguardava. Martha falou exatamente o que eu precisava ouvir: “Deixa de ansiedade, se Lucas vai contigo e vai te deixar lá é porque sabe que você dá conta, deixa de drama! E vai dormir para amanhã dar atenção aquela Barbie que você vai se casar. Espero que você seja feliz na sua escolha. Escolha sempre o seu coração e não o que esperam que você escolha! Dando certo ou errado, sua amiga está aqui para beber com você, te dar umas broncas ou para você chorar no meu colo. Isso ninguém vai tirar de nós!”. Abracei Martha, e fui me despedindo de todos, ao final falei com Chris e dei meu recado: “Cuide bem dela, é uma pessoa especial, torço por vocês!”.

Fui para casa dormir e dessa vez liguei o som para ouvir uma das minhas preferidas, não sei por que resolvi ouvir essa canção triste e angustiada... composição do genial Geraldo Vandré:

"Já vou embora, mas sei que vou voltar
Amor não chora, se eu volto é pra ficar
Amor não chora, que a hora é de deixar
O amor de agora, pra sempre ele ficar

Eu quis ficar aqui, mas não podia
O meu caminho a ti, não conduzia
Um rei mal coroado,

Não queria

O amor em seu reinado

Pois sabia

Não ia ser amado

Amor não chora, eu volto um dia"

5 comentários:

Cláudia Otoni disse...

"Inconscientemente eu estava fazendo minha escolha."

"Particularmente, costumo dar mais valor às pessoas espontâneas que colocam o coração naquilo que fazem. Anotei num livrinho para perguntar a Esther sobre o assunto."

Continuo achando sensacional poder conversar com o autor. Me impressiona como você consegue se colocar no lugar dos seus personagens...
É perceptível até a mudança no tom da fala.

Eu gostei muito desse capítulo!

Lennon Pereira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lennon Pereira disse...

Obrigado Claudia, é muito bom interagir com os leitores, você não tem idéia! Ajuda a ter inspiração e motivação, alem de ajudar no laboratório dos personagens. É muito bom ver que os leitores conseguem captar a personalidade de alguns personagens!

Rose Marín disse...

Vc não vai demorar para publicar o outro não ne? quero saber o motivo da tensão da Laura, lá vem coisa,,,, bjs

Lennon Pereira disse...

Olá rosi, Acho que o capitulo 44 esclareceu sua dúvida! obrigado por acompanhar! beijo