quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Capitulo 23 – O renascer de Herculano



Passamos a noite praticamente em claro. Nossa noite de amor foi  uma descoberta. Eu me sentia um menino de 18 anos com uma menina que estava pela primeira vez com um homem. Meu cuidado e carinho com Lully eram extremos. Ela se entregara de corpo e alma. Sua respiração, seus suspiros, seus carinhos eram de quem estava sendo amada pela primeira vez. Eu sabia também que aquela sensação era única na minha vida. Sentia dentro do peito a certeza que dificilmente viveria novamente um momento tão ímpar e inesquecível. A vida é feita de momentos e experiências, me disse uma vez um velho sábio e agora eu vivia exatamente o que ele me disse no passado.

Não sabia, naquele momento, o que Lully representaria na história da minha vida mas sabia que jamais viveria novamente algo similar.
Vivi cada segundo como se fosse o último, intenso, dedicado e completo. Eu estava ali, um homem em estado puro. Eu era pura emoção, puro sentimento.

Deitamos para apreciar o amanhecer. Lully me fez viver uma experiência incrível. Eu era realmente um novo homem. Não sei se um dia aquela menina teria a real noção do quão importante ela teria se tornado em minha vida. Lully fez com que eu me descobrisse, fez com que eu descobrisse uma nova realidade, uma nova sensação de liberdade e de amor. Vi o sol nascendo no horizonte. Uma das mais belas cenas do universo e a maioria das pessoas ignorava e dormia naquele momento. Quantas vezes apreciamos o nascer de um novo dia? Algo que acontece diariamente há milênios e algo que jamais acontecia de forma igual. Cada alvorada é impar, inesquecível, belo, romântico. Lully dormia o sono da paz. Cansada, realizada e acolhida.

Aos 33 anos, eu era um recém nascido. Um menino, um bebê.
Parei para analisar a minha vida e quanto tempo eu havia perdido preocupado com dogmas, convenções e outras babaquices.  A sociedade nos ensina a viver segundo suas normas e essas normas de nada valem. Devemos ser justos, honestos, corretos, conosco e com os outros; nunca faça a si o que não quer aos outros, mas nunca seja falso, meio termo. Na Bíblia Jesus cita em algum lugar que não me lembro algo que diz mais ou menos assim: “... seja quente ou seja frio, o morno me dá vômito”.

A bronca de Esther e minha aventura com Lully me faziam quente, transparente. Ser humano em estado bruto. Mesmo sem dormi há horas eu não me sentia cansado, mas sim realizado, leve, redimido de todos os meus fantasmas.

Admirei o nascer do dia por mais alguns minutos e quando já estava claro fechei meus olhos e dormi. Dormi como nunca havia dormido antes. O sono de quem estava liberto. Sonhei com várias situações do passado e a cada cena mal resolvida do passado eu tirava uma conclusão e virava de vez a página. Esse sono foi um passar a limpo na minha história. Acordei com uma sensação de quem passou a vida a limpo. Eu estava perdoado por Deus e por mim mesmo. Estava ali pronto para viver o primeiro dia do resto da minha vida. Eu despertei certo de que agora eu seria eu mesmo. Um homem bem resolvido, seguro, firme e forte, certo de que seria feliz até o último dia de minha vida. Nada mais me amedrontava. Nem o possível filho de Martha, nem os medos do fracasso profissional, ou da reprovação familiar pelas minhas escolhas de vida. Um de meus compositores preferidos, muito criticado por falar sempre o que pensa, sem se preocupar com o que pensariam os críticos ou os babacas, disse em uma bela canção: “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...” Eu acabava de descobrir a delícia de ser o que sou. Sou uma pessoa apaixonada pela vida, decidido a viver intensamente todas as emoções e riscos inerentes a tal decisão.

A felicidade não depende do que a sociedade, os amigos, inimigos ou a família pensam de nós. A felicidade está diretamente ligada ao fato de ser autêntico, sincero consigo mesmo. Eu acordei assim, me amando profunda e sinceramente e a partir desse momento, consciente de quem eu era. Sorri o sorriso da paz e da liberdade de espírito. Eu era definitivamente um homem livre.

Dormi mais um bom tempo e acordei com lully me acariciando os cabelos e me beijando delicadamente os lábios. Abri os olhos e disse a Lully: “obrigado por fazer de mim um novo homem. Você caiu do céu em minha vida como um asteróide, fez um tremendo estrago e me fez renascer”. Ela sorriu meio que sem entender o que eu estava dizendo e me falou com sua inocência quase indescritível: “Herculano meu lindo, você foi a melhor coisa que aconteceu na minha dura vida de menina órfã. Espero fazer jus a esse sentimento bonito que você está me demonstrando.”
Tomamos um belo e delicioso café da manhã. Na varanda do motel, de frente para o mar, comemos frutas, pães, sucos e nos admiramos por muito tempo. Eu estava desprendido até do relógio. Não me interessava a hora nem o tempo, só me interessava viver intensamente aquele presente que Deus acabava de colocar em minha vida.

Sintonizei numa rádio que tocava só MPB, era uma novidade no Brasil, país de 13º.  mundo como dizia um genial e  falecido professor de matemática, e com aquele complexo de vira-lata conforme traduziu com perfeição o também genial Nelson Rodrigues. O Brasil produz os melhores músicos, letristas e instrumentistas, mas temos a sensação que qualquer porcaria enlatada internacional é melhor que nossa prata da casa.
Ouvimos clássicos lindos de Cartola, Tom, Vinicius, Chico, Toquinho, Roberto, Erasmo, Belchior e tantos outros que não consigo me lembrar agora e chorei copiosamente quando ouvi a inesquecível e libertadora canção, do genial poeta e diplomata Vinicius de Moraes, o homem que mais amou em toda a vida:
“...Você que não pára pra pensar
Que o tempo é curto e não pára de passar
Você vai ver um dia, que remorso!
Como é bom parar
Ver um sol se pôr
Ou ver um sol raiar
E desligar, e desligar
Mas você, que esperança... Bolsa, títulos, capital de giro, public relations (e tome gravata!), protocolos, comendas, caviar, champanhe (e tome gravata!), o amor sem paixão, o corpo sem alma, o pensamento sem espírito
(e tome gravata!) e lá um belo dia, o enfarte; ou, pior ainda, o psiquiatra
Você que só faz usufruir
E tem mulher pra usar ou pra exibir
Você vai ver um dia
Em que toca você foi bulir!
A mulher foi feita
Pro amor e pro perdão
Cai nessa não, cai nessa não...”

Eu estava definitivamente fora dessa, totalmente e conscientemente. Olhei para o  espelho e falei para mim mesmo: “prazer em conhecê-lo Herculano Tavares Marins.  Hoje é seu novo aniversário, aproveite a chance de viver plenamente a maior dádiva de Deus, a vida!”.

12 comentários:

Angélica disse...
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Angélica disse...

Lindo, profundo. Parabéns!

Lennon Pereira disse...

Obrigado Angélica. Capitulo concebido no início da Madrugada...coisas de inspiração! Vem mais coisa por aí, aguarde!!

Jussara (Ju) disse...

Esse capitulo mais parece tirado de um livro de auto-ajuda (no bom sentido), escrito por que conhece psicologia analítica.è um recado para muitas pessoas que vivem sempre expremidas entre o que é socialmente aceito e a vontade de viver de cada um.Ego e superego.Muito bom, profundo e com muita poesia.Essa idéia de ilustrar os capitulos com belas letras do melhor da MPB é uma homenagem justa aos nossos grandes compositores e uma oportunidade que seus leitores talvez nunca teriam tido de conhecer essas obras primas se o Herculano não as registrasse.Acjho que se nós descobríssemos onde esta esse Herculano , iriamos fazer fila para tirar uma casquinha....

Fabricio Jorge disse...

Amar pra viver, ou morrer de amor! Vai que é tua Herculano!!!

Ericka disse...

O capítulo de hj foi de muita ajuda para mim........tive vários Flashs da minha vida!!! Amei!!!

Lennon Pereira disse...

Obrigado Ericka, suas palavras me deixam muito feliz!

Lennon Pereira disse...

Grande Fabricio, bela citação à uma bela musica de Erasmo Carlos!
Obrigado pela leitura e pelos comentários

Lennon Pereira disse...

Obrigado Ju! Fico muito feliz pela sua leitura e pelos elogios. Isso aumenta meu compromisso com vocês Leitores,Principal motivo da existêencia da História!

Maria Célia disse...

Meu filho,como estou felis ao ler,seu casos e cronicas.É muito bom ver tanta coisa bonita saindo desta cabecinha.Bjos

Anonimo Descoberto disse...

Filho,meu filho, dono do meu amor
Não importa a estrada por onde você for
Se é de estrelas ou pedra dura
Verá que a vida é uma aventura

Filho, meu filho, a vida é para se amar
Mas não é facil de se enfrentar
Tenha coragem e alegria
Eu dou a minha companhia

Um pai e um filhoem um só abraço
Rompemo tempo, vão além do espaço
Percorrem luzes e a noite escura
Que a vida é sempre uma aventura
Percorrem luzes e a noite escura
E a vida é sempre uma aventura

(Ronnie Von-Um pai, um filho)

ingrid disse...

Amei!!!