terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Capítulo 25 – As primeiras providências e conseqüências.

Acordei segunda feira com estranhas sensações. A primeira de não ter nenhuma pressa de chegar ao trabalho. Sabia que nada mais me prendia lá. Nunca tive carteira assinada. O que me prendia lá era o salário e o meu compromisso moral com Dr. Monteiro. O salário já não me preocupava mais e, no fundo, eu sabia que ele não criaria problemas para minha saída. A outra sensação era de que essa nova empreitada profissional afetaria diretamente minhas demais escolhas de vida. Resolvi deixar para pensar nisso mais tarde. Decidi cuidar primeiro do que era mais urgente. Não sei bem o motivo mas coloquei meu terno e a gravata de sempre e fui para o escritório. A vida é curiosa mesmo. A primeira pessoa que vi naquela manhã foi Biranilce, a “mala” maior. Deus é mesmo bondoso e generoso! No caminho eu cheguei a ter certa dúvida, movida por uma nostalgia talvez. O escritório era um lugar conhecido e Dr. Monteiro vinha me estimulando e me incentivando. Cheguei a pensar se queria mesmo mudar de vida, o novo e desconhecido sempre me assusta um pouco! Biranilce foi minha certeza. Nunca imaginei que teria algo a agradecê-la!
“Perdeu a hora Herculano? Só porque ficou uma semana no lugar do chefe acha que pode tudo? Aprenda comigo que em anos de escritório nunca faltei nem fui chamada a atenção!”.
Aprender com Bira? Só poderia desaprender! Dei um sorriso, abracei Bira sorridente e respondi: “Acredite Bira, isso nunca mais ocorrerá. Prometo que jamais me verás chegar atrasado novamente!”. Bira sorriu triunfante, cheia de moral e disparou: “Tudo bem Herculano, hoje está desculpado. Quer que eu te ajudo com alguma coisa? Acordei muito genérica hoje, faço tudo bem rápido! detesto  perca de tempo”.
A avalanche de asneiras de Bira me dava a certeza que eu precisava. Respondi lacônico: “Biranilce querida, jamais saberás na exata medida o bem que acaba de me fazer! Serei eternamente grato por tudo! Dá aqui um abraço!” Bira na sua santa ignorância, me abraçou e saiu toda cheia de orgulho. Eu também acabava de fazer um bem a ela, massagear seu ego.

Fui até a minha mesa aguardar a chegada de Dr. Monteiro. Enquanto esperava, limpava e arrumava as gavetas e minha caixa de emails. Nas gavetas apenas papéis velhos, canetas e alguns CDs. Anos em uma empresa e nada nas gavetas que valesse o esforço de levar para casa. Uma foto em família no porta-retrato, pesos de papel, pequenos enfeites, canetas secas e muitas histórias. Vale mesmo aquilo que guardamos em nossos corações e mentes. Na caixa de emails informações de trabalho e emails de amigos com alguns papos mais sérios e muita besteira. Músicas, vídeos, bobagens sobre futebol, mulher e piadas de políticos. Dentre os emails recentes um em especial que vou repetir aqui:
“Meu amor provavelmente você está lendo esse email segunda feira pela manhã, e provavelmente já ouviu a proposta de Lucas e também a noticia de que só retornarei na sexta. Fiquei muito feliz quando Lucas me contou sobre a proposta que iria te fazer. Fiquei feliz apenas por um motivo: pela confiança e admiração que ele demonstrou ter por você. Não sei se você aceitou ou não. O que quero dizer aqui é que estou feliz e orgulhosa de você. Quero dizer que terás meu apoio qualquer que seja a sua resposta. Se aceitar, tenho certeza de que terá muito sucesso e que um mundo se abrirá para você. Caso opte por continuar onde está, terá meu apoio incondicional. Quero ver você feliz, seja qual for sua escolha.
Estou com muitas saudades e sentindo muito sua falta. Louca para te ver novamente, te abraçar e te cobrir de beijos.
Saudades da sua Lara.”

Minha vida pessoal começava a sofrer as conseqüências de minhas escolhas. Meu coração bateu mais forte. Lara me causou uma grande sensação de força, alegria e confiança. Lara sabia como se fazer importante para um homem. A mulher forte e admirável que todo homem de sucesso tem ao seu lado. Sim, ao seu LADO, esse lance de mulher por trás de um grande homem esta por fora. Papo machista e preconceituoso. Fiquei alguns minutos com o rosto lindo e o sorriso de Lara em minha mente. Viajei um pouco, até perceber a passagem de Dr. Monteiro em direção a sua sala. Levantei e fui falar com meu chefe. Uma vez um grande líder que conheci deu um conselho. “Notícia ruim a gente dá logo de uma vez, evita aquele sofrimento contínuo”. Ele estava certo. Entrei na Sala de Dr. Monteiro e fui objetivo. Agradeci a ele por tudo que fez por mim, mostrei toda a minha gratidão e disse que não podia perder tal oportunidade. Dr. Monteiro concordou comigo. Chamou Alves, um colega de trabalho um pouco mais velho que eu, e pediu que tomasse pé dos meus processos e que assumisse meu lugar. Eu ficaria no escritório até quinta feira.

O dia correu tranqüilo, Alves estava feliz com a oportunidade e eu feliz com a tranqüilidade do meu desligamento. Era tanta informação que durante todo o dia não vi emails e nem falei ao telefone. Saí de lá as 18h e passei em casa antes do jantar apenas para um banho e uma roupa mais confortável. As 19h30 eu já estava lá. Meus pais jantam cedo, coisa da idade, vou ficar assim também, com minhas manias. Coisas da vida. O bacalhau à portuguesa estava um espetáculo e meus progenitores, ansiosos. Minha mãe logo se antecipou: “Vou ser avó meu filho?” perguntou ela animada. Dei uma gargalhada alta, porque nessa hora me lembrei que não tinha notícias de Martha até gora. Rapidamente pensei em responder que talvez sim, mas resolvi não misturar os assuntos. Parei de rir e contei a eles, detalhadamente, a proposta de Lucas e adiantei que havia topado o desafio. Foi bom ver a alegria em seus olhos. Estavam felizes pela oportunidade que a vida me dava àquela altura do campeonato. Que pai e mãe não se alegram com o bem de seus filhos? Jantamos em harmonia e eu comi quase metade do pudim de leite. Contei um pouco sobre a vida e no final minha mãe perguntou por Lara. Mulher nunca se esquece desses detalhes e minha mãe era mestre em perguntas difíceis. Respondi que estava para voltar de Londres e que sexta- feira eu iria buscá-la no aeroporto.Prometi a eles que com os lucros do primeiro ano de trabalho levaria todos para passear em Paris. Assistimos a famosa novela das oito e, quando começou o filme, eu fui para casa. Feliz da vida pelo bom papo, o carinho da casa dos pais e com a expressão de felicidade nos rostos deles.

Entrei no carro e me lembrei de Lully, sem contato o resto do domingo e toda a segunda feira. Resolvi deixar esse pensamento para o dia seguinte e fui para casa dormir uma noite inteira já que eu havia dormido mal de domingo para segunda. Do caminho liguei para Martha, o celular dela deu caixa postal e optei por deixar um recado: “Oi Martha, é o Herculano. Me liga pois quero saber sobre o resultado do exame de gravidez que você fez. Se quiser podemos almoçar amanhã,  beijos e boa noite”.

Eu não queria mais nenhuma pendência na minha vida. Nem pendências nem fantasmas. Deitei para dormir e ouvi um bip no celular. SMS de Martha. “Te vejo amanhã às 18h no Ao Vivo e te conto as novidades. Beijo Martha”.

Coloquei uma música para dormir um sono bem leve e calmo. Curioso como sempre gostei dessa música para dormir...
Vem morena ouvir comigo essa cantiga
Sair por essa vida aventureira
Tanta toada eu trago na viola
Prá ver você mais feliz
Escuta o trem de ferro alegre a cantar
Na reta da chegada prá descansar
No coração sereno da toada, bem querer...

2 comentários:

Cristiane disse...

Uma nova vida vai começar para o Herculano.Cada vez mais interessante.Vamos aguradar o que vem por aí.Bela canção de ninar essa que o Boca Livre imortalizou.Dá-lhe Herculano!

Lennon Pereira disse...

Obrigado Cristiane que bom que gostou da musica. Você é muito gentil!