quarta-feira, 30 de novembro de 2011

capitulo 22 - É bom ser Vip...


A voz chamando meu nome cortou o clima e meu peito como uma espada de samurai. Durante os dois ou três segundos que demorei para me virar e identificar quem estava ali falando comigo, um filme de terror passou pela minha mente.
Seria algum amigo de Lara? Imagine a decepção que Lara teria ao saber que em sua ausência estava eu a me deleitar no Zepellin com uma morena misteriosa, tomando champanhe e com olhar apaixonado.
Senti aquele medo, devo ter ficado pálido. Quando olhei para trás, uma risada debochada e extasiada por me assustar se misturou ao meu maior suspiro de alívio. Dr. Luiz sorria com seus suspensórios, seu charuto e sua esposa ao lado.
A esposa de Dr. Luiz tinha uns vinte anos a menos do que ele. Fogosa e faceira, sorria deslumbrada com o lugar. Eu e Lully nos levantamos, eu para falar com meu padrinho e ela como  chefe.
Ele sorriu e se disse muito feliz em nos ver juntos. Conversou conosco uns cinco minutos e ao sair nos abençoou. “Fico feliz em ver minhas crias juntas e felizes. Garçom! traga quantos champanhes eles quiserem! é tudo por minha conta.” Relutei em aceitar, mas ele fez questão. Dr. Luiz me abraçou e foi para uma mesa no cantinho do bar. Eu e Lully ficamos meio sem jeito por uns quinze minutos e o clima foi melhorando aos poucos.
Conversamos muito e Lully me surpreendeu perguntando por que eu estava solteiro.
Suspirei e abri meu coração para a mocinha. Disse a ela que eu tinha mesmo uma barreira dentro de mim que me impedia de me envolver. Dei mais alguns detalhes e ela ouvia em silencio, concentrada, como quem quer ler os pensamentos.
Mais umas doses e eu também me encorajei e perguntei a Lully como ela tinha se envolvido com Bené, ela suspirou e abriu o coração também. Disse que Bené a paquerava há anos, desde a adolescência. Foi algo quase que automático. Eles estavam sempre ali, no ponto e papo vai papo vem, acabou rolando um clima. Bené era o maior erro de Lully, segundo ela mesma, e ela havia virado definitivamente a pagina. Falou que quando passou pelo ponto, Bené quis conversar. Lully cortou  o mal pela raiz. Afirmou que se ele voltasse a dirigir a palavra a ela, todos saberiam o motivo do término, inclusive os colegas de trabalho. Bené baixou a cabeça e se retirou, conforme narrativa de Lully.
Depois desse papo e já na segunda garrafa de Chandom, o clima já era novamente nosso.
Dr. Luiz, um homem cheio de surpresas, estava distante e entretido com sua namorada  “piriguete”, e nem nos dava bola e a noite era novamente nossa.
Lully pediu licença para ir ao banheiro e eu estava tão entretido com a Lua e a vista da zona sul carioca, que nem reparei no que Lully estava prestes a aprontar.
Alguns minutos se passaram e uma voz conhecido soou no microfone. Olhei assustado  e ouvi algo que me surpreendeu profundamente:
“Boa noite a todos que estão no bar, quero dividir com vocês esse momento muito feliz e especial para mim.” Era Lully ao microfone.  Meu coração disparou, perdi o fôlego e a danadinha prosseguiu, firme e doce, segura e determinada. “ quero agradecer a uma pessoa muito especial em minha vida, por me proporcionar uma noite tão especial e inesquecível para mim. Não sei bem como dizer tudo que passa em meu coração, resolvi então cantar uma musica que retrata bem parte dos meus sentimentos. Lully pegou o microfone com autoridade, cochichou ao ouvido do musico e disparou:
Quis evitar teus olhos
Mas não pude reagir
Fico à vontade então
Acho que é bobagem
A mania de fingir
Negando a intenção

E quando um certo alguém
Cruzou o teu caminho
E te mudou a direção
Chego a ficar sem jeito
Mas não deixo de seguir
A tua aparição
E quando um certo alguém
Desperta o sentimento
É melhor não resistir
E se entregar...”
 O bar inteiro cantou em coro, aderindo à declaração de Lully. Alguns se olhavam, outros se beijavam e Lully cantou até o fim o sucesso de Lulu Santos. Meu coração estava disparado e Lully foi aplaudida com entusiasmo. A Moreninha que cativara meu coração acabava de conquistar também o bar. Até Dr. Luiz cantarolava com olhar orgulhoso de sua funcionária.
Lully agradeceu e voltou à mesa e eu a recebi com um longo e apaixonado beijo, que também foi aplaudido pelo bar com emoção.
Esther estava enganada, o beijo de Lully era delicioso, inteiro, intenso e redentor. Uma alegria enorme tomava conta de mim. Beijei Lully como se ela fosse a única mulher do mundo. Um beijo avassalador, que me libertava de vez de meus medos e angustias. O tempo parou, a terra parou e naquele momento só existiam Lully e eu no mundo.
“Achei que esse momento nunca chegaria” sussurrou Lully para mim. “Você é um sonho, uma linda” respondi eu derretido.”morro de medo de você” completei totalmente entregue aos encantos da bela mocinha.
Nós nos olhávamos  com um brilho contagiante no olhar. A noite estava mesmo surpreendente. Eu achei que ia encantar e seduzir Lully e a moça me seduziu de forma surpreendente. Eu não sentia medo, nem culpa nem nada, só queria contemplar a beleza e os encantos de Lully.
A noite foi recheada de beijos, carinhos, champanhe e suspiros. Lully confessou que se sentia atraída por mim há um tempinho. Disse que no início era tudo apenas uma brincadeira, mas que meu jeito tímido e contido ao lado dela despertou algo inexplicável no início. Meu ar respeitador fez com que ela tomasse a iniciativa de me provocar. Confessou que adorava falar ao meu ouvido e ver que aquilo me deixava desconcertado. Falou que muitas vezes me provocou pelo simples prazer de me ver sem jeito, intimidado. Um belo dia acordou e sentiu falta de falar comigo. Achou que era uma besteira, mas depois daquele dia, uma vontade enorme de saber como seria se eu cedesse a suas provocações tomou conta de seu coração. Confessou que meu convite para o ballet foi o que a deixou derretida. Segundo ela, o vestido de presente fez com que ela decidisse não medir esforços para me colocar “a prova”.
Eu sorria de felicidade e encanto. Mal sabia como lidar com aquele momento e decidi me levar pela emoção e pelo desejo.  Foi minha vez de ir ao microfone. Com meu gosto peculiar e eclético, pedi uma musica pouco conhecida do povão, mas de letra forte. Para minha sorte, o musico era uma enciclopédia e disse que adorava a minha escolha. Dediquei a canção a Lully, a quem chamei de: “ a morena que seduziu e desarmou meu coração.” Peguei o microfone, afinei um pouco o violão, fiz um dedilhado como introdução e  me declarei timidamente:
Ah!
Esse Amor que me arrasta, me gasta e me faz sofrer
Mas me devolve a vida escondida
Em quartos que eu não quis dormir

Ah!
Esse AMOR bandido, contido quer me machucar
Mas só me traz verdades,
Que a idade toda não consegue dar

Abra os braços pra me guardar
Que eu todo vou me entregar
começo meio e fim
E a minha cuca ruim
Aperte a minha mão
Esse caminho é a solução
Pra me levar se quiser
Pra ser só minha mulher...”
A música traduzia muito bem minha personalidade e meu momento. Lully disse que não conhecia a música, mas que amou a letra. Trocamos mais alguns beijos e carinhos. Admiramos a vista até que a madrugada chegou.
Era tarde, umas três da manhã. A música acabou e o bar começava a se preparar para encerrar o expediente. Entramos no carro, trocamos  mais alguns beijos apaixonados e eu providencialmente peguei a Niemeyer em direção a São Conrado ao invés de pegar a direção Leblon.
Entrei no quarto do famoso e encantador Vip´s com Lully em meus braços, na suíte presidencial, para ter a Lua e as estrelas como testemunhas oculares daquele momento.
“estrelas mudam de lugar
chegam mais perto só pra ver...”
Como é bom estar vivo e sentir o coração bater como quem quer saltar do peito...

9 comentários:

Ericka disse...

Sempre fui fã de Lully....capítulo sensacional esse......adoreiiiiiiiiiiiiii!!!!

Lennon Pereira disse...

Obrigado Ericka querida!

Lennon Pereira disse...

Obrigado Tati leitora querida!

Angélica disse...

Bem...desencantou. Mas e agora???

Rose Marín disse...

Essa história ta ficando ainda mais interessante, e agora Herculano? Aguardo próximos capítulos. Parabéns por um texto tão envolvente.

Lennon Pereira disse...

e Agora angélica?? rs

Lennon Pereira disse...

Muito Obrigado Rose, amanhã tem mais!

Anônimo disse...

Caramba, Ronnie Von, como cantor e compositor????Como vc descobriu essa opbra prima????
Herculano sabe mesmo das coisas,um romântico inveterado, incorrigível e irresistível!

Lennon Pereira disse...

Esse Anonimo eu acho que conheço!! Ronnie Von é fera mesmo e essa música fez sucesso na década de 80 na voz do Rei, encerrando assim um mal entendido entre eles. da decada de 60.
Abraços