segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Capítulo 27- A Despedida


Passei pelo Estephanios e o bar estava meio vazio. Lá encontrei apenas com Augusto e mais uns amigos de ocasião. Augusto era a pessoa perfeita para o tipo de papo que eu procurava. Com trinta e poucos anos, augusto nunca havia trabalhado. Estudava para ser diplomata ou coisa do tipo. Seu pai, aposentado do BNDES, bancava seus estudos e suas noites no boteco.
Augusto falava Frances, Alemão, Inglês, Espanhol e Italiano. Era formado em três faculdades e um ótimo papo sobre o comportamento humano. Augusto via o ser humano sem romantismo e sem maquiagens. Olhava, analisava e dizia o que passava na mente.
Comentei com ele sobre a conversa com Martha e par aminha surpresa ele só comentou que já imaginava que isso pudesse acontecer. Segundo a teoria de Augusto, mulher desiludida com homem é meio passo para se tornar, ou ter uma experiência homossexual. O assunto ainda era tratado com reservas pelas pessoas, mas Augusto tratava com extrema naturalidade. Segundo ele, se ela for tratada com carinho e respeito por Christine, talvez fique para sempre com essa opção. Ainda bateu nas minhas costas e falou entre sorrisos: “A vida mudou meu amigo. Você ainda é muito romântico. Hoje é assim. Não deu certo com homem, elas tentam com mulher. É normal, é a segunda fase da revolução que começou queimando os sutiãs. A competição está se acirrando, em breve tudo isso será chamado de grande mundo globalizado. Anote aí o que estou te dizendo!”
Meu amigo era filósofo e visionário. É bom ressaltar que tais fatos já ocorreram há quase dez anos, e ele estava mesmo certo, não estava?
Voltando ao bar, Augusto também me deu alguns conselhos sobre o novo rumo profissional que eu escolhera. Dentre elas, uma que me lembrava ter ouvido de um velho sábio: “Ninguém fica rico com a própria força de trabalho. O outro era: Não olhe para a carreira que ficou para trás. Enterre esse passado e vá como se não tivesse volta. É o que tenho para te dizer meu amigo Herculano! Como prova de amizade vou te pagar essa rodada de chopp de hoje! Quando ficar rico lembre se de mim!” Eu sorri e respondi de imediato: “E você de mim quando for Presidente da República!!”
Algumas risadas, mais alguns belos papos sobre bossa nova e MPB e ainda tocamos algumas músicas acompanhadas do violão. Eu acordaria cansado para meu último dia de trabalho. Não estava preocupado, era passado e Alves já tinha todas as coordenadas.
Cheguei quase onze da manhã. Minha ausência já não era mais impactante no dia a dia da empresa. Fomos todos almoçar na Choperia Carioca. Tradicional  restaurante do centro. Mesas com toalhas, Garçons, Pratos como: Goulash, Vaca Atolada, Língua Defumada, Fígado e outros que hoje em dia são praticamente “ET’s” nos cardápios modernos.
Dr. Monteiro abriu o almoço dando o bom exemplo, pediu logo um chop na caneca de vidro. Uma delícia e todos nós seguimos seu exemplo. Antes mesmo dos pratos chegarem já estávamos na 3ª. Rodada. Até a Mala da Biranilce estava lá e bebendo. Acho que foi seu primeiro pecado em público. No meio de um papo sobre turismo a pseudo intelectual disparou. “Meu sonho é conhecer Fernando de Bolonha, um paraíso fisiológico  no interior do Oceano Atlântico!” fiquei imaginando o que poderia ser aquilo que Bira estava descrevendo e fui interrompido por Dr. Monteiro que bradou em alto e bom som um famoso bordão da época: “Cala a Boca Magda!” Todos caíram na gargalhada e esse foi o tom do almoço. Depois desse momento, Bira se encolheu um pouco e deixou a mesa conversar sem ter que ouvir suas asneiras, que alívio.
Muito papo, chopp, risos e piadas. Dr. Monteiro, aquele homem sisudo estava ali se revelando uma pessoa que quase ninguém conhecia. Bem humorado, transgressor, piadista e bem humorado. Dr monteiro já depois do 5º. Chopp levantou e decretou: “Hoje ninguém precisa voltar ao trabalho. Vamos beber e comemorar a despedida de nosso amigo que alçará novos vôos. Um brinde ao nosso amigo Herculano, que seja muito feliz  nesse novo caminho!” Todos brindamos com ele. Ficamos na choperia de 13:00 até às 16:00.
Alguns amigos vieram desejar boa sorte, outros pediram emprego e outros apenas beberam.
Eu tinha planos de ir até a repartição conversar com Lully e me despedir também de Dr. Luiz, mas com aquele clima e cheiro de cerveja, não seria uma boa idéia. Resolvi sair dali e ir para casa descansar, pensar na vida e me preparar para o reencontro com Lara. Me bateu uma saudade gostosa dela. Saudade do seu sorriso, do seu astral, daquele olhar que fascina. Lara era uma mulher e tanto. Uma mulher que deixa qualquer homem mais forte, mais determinado, confiante.
Coloquei minha coleção de Cds para tocar, resolvi que aquele fim de dia seria dedicado às musicas românticas e a preparar meu espírito para receber minha amada. Lara era a mulher perfeita e ideal para o novo Herculano que estava para nascer. Empresário, homem dedicado ao trabalho, sócio de um grande executivo de finanças! Lucas já havia dado entrevistas para Exame, Você S/A e para a hoje extinta, mas famosa na época, Gazeta Mercantil. Ele era um desses executivos queridos da mídia. Homem de origem de classe média, nada excêntrico, acadêmico, estudioso, regrado, casado, família e avesso a badalações da mídia. O exemplo de bom moço. Se eu queria ser seu sócio, precisava cuidar também da minha imagem e me preparar para  a nova vida que eu estava prestes a abraçar.
Estava deitado curtindo meus cds, relaxando e descansando depois do meu almoço de despedida. Tinha selecionado pérolas dos anos 60 e 70. Estava me distraindo e curtindo as letras profundas que a MPB é capaz de nos brindar e me detive especialmente em uma pouco conhecida de Antonio Carlos Belchior, que faz a mea culpa da geração pseudo revolucionária.
Onde anda o tipo afoito
Que em 1-9-6-8
Queria tomar o poder?
Hoje, rei da vaselina,
Correu de carrão pra China,
Só toma mesmo aspirina
E já não quer nem saber.”

Confesso que fiquei um tempo pensando principalmente nessa estrofe. Vejo muitos amigos, revolucionários e que bradam por um mundo mais justo, com menos desigualdades. Se dizem comunistas, mas só bebem uísque 12 anos, andam de carrões, Celulares, Notebooks,viajam para os estados unidos todo ano e só usam Lacoste, Polo , Hugo Boss...
Realmente assim é moleza ser comunista revolucionário. As vezes acho que isso é apenas para aliviar a própria consciência.
Estava lá eu perdido em meus devaneios sobre o inconsciente coletivo quando o telefone me trouxe de volta a realidade. Era Lully  e vou repetir fielmente suas palavras:
“Oi Herculano, você saiu do seu emprego e nem falou comigo? Liguei para lá te procurando e a secretária me deu a noticia! O que houve? Por que você fez isso assim repentinamente e nem me falou nada? É uma forma de fugir de mim? Está chateado por que eu fiquei uns dias sem dar noticias?”
As mulheres são assim. Somem do nada  e quando aparecem, estão sempre cheia de perguntas.
 Lully derramou essa avalanche de perguntas e eu mal sabia por qual começar. Pensei em responder uma a uma, mas acho que não era assunto para tratar por telefone. Disse que era uma história meio surpreendente, que foi tudo meio repentino, que mal tive tempo de me adaptar. Não estava mentindo  a nova realidade havia caído do céu. Afirmei  que eu iria conversar com ela e com Dr. Luiz,  explicar tudo, mas que queria fazer isso pessoalmente. Perguntei se podíamos conversar e ela após hesitar um pouco disse que sim, e fui encontrar Lully no Tio Sam do Leblon, o bar do boa praça Chico, que apoiou o pai de Lully quando o mesmo foi abandonado pela mulher.
Acabava de Ir pelos ares minha noite de descanso e música, ao menos era cedo ainda. Eu não queria ter olheiras no aeroporto, mas também não podia deixar de conversar com Lully. Eu também estava curioso com seu sumiço. Tomei um banho e segui  para o Leblon.

4 comentários:

Ericka disse...

.....Lully vai ficar muito triste....

Angélica disse...

Atualizada! Muito bom e enigmático. Já tenho minha torcida, mas não declaro..

Lennon Pereira disse...

Ericka Querida, Lully é muito mais do que você imagina...

Lennon Pereira disse...

Angélica, obrigado por ser tão fiel e participativa! Beijos para você!!