segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Capítulo 30 – De volta ao divã


Acordei com o leve toque de Esther em meu ombro e um leve sorriso de quem se sente gratificada pelo fato dos pacientes geralmente cochilarem na sala de espera. Ela me disse uma vez que um paciente relaxado dá muito mais resultado nas sessões. A mente leve facilita na organização das idéias, deixa as idéias mais claras e o paciente mais aberto ao tratamento. Sendo verdade eu estava super bem preparado para a sessão do dia.

Na última sessão Esther havia me dado uma baita bronca e me mandado viver a vida. Fazer acontecer e não ficar hesitando ou esperando a vida passar. Ela não tinha noção de como levei os conselhos ao pé da letra e nem tinha noção da quantidade de novidades que eu estava trazendo no colo para despejar em sua confortável poltrona de couro. Esther sorriu. Pela minha expressão ela já imaginava que eu tinha muito a falar e eu não fiz a menor cerimônia: “Segui a risca seu conselho. Minha vida deu uma guinada. Muitas coisas aconteceram e posso te adiantar que me sinto vivo como nunca imaginei antes”. Contei detalhadamente sobre a proposta de Lucas, a revelação de Martha, o fim de semana romântico com Lully e sobre a surpreendente conversa que tivemos no Tio Sam. Por último contei sobre o retorno de Lara ao Brasil e sobre a conversa com Dr. Oswaldo. Gastei quase todos os 50 minutos de sessão falando ininterruptamente. Esther acenava com a cabeça consentindo e dando sinal para que eu prosseguisse. Eu estava empolgado e narrei com emoção as minhas aventuras. 

Esther, ao final, tomou a palavra para que a sessão não fosse um incrível monólogo: “Muito bem Herculano! Mais importante do que a quantidade de fatos que aconteceram nesse pequeno espaço de tempo, me impressiona a forma como você reagiu a eles e a forma empolgada como me narrou. Percebi que em nenhum momento você encarou os fatos como obstáculos. É isso mesmo, as intempéries da vida devem ser consideradas e superadas. O segredo para o crescimento é não se apequenar nem se amedrontar. Auto confiança e determinação são fundamentais. Todos nós ainda vamos enfrentar muitas intempéries na vida, mas só não há saída para a morte, que é o fim de todos nós. Tirando isso, tudo tem alternativa. Fico feliz com seu aparente amadurecimento. De uma coisa você está certo. Quanto mais oportunidades a vida te dá, mais ela cobrará de você. Saiba encará-las com maturidade e sabedoria. Aprender sempre é um dos grandes segredos das pessoas bem sucedidas. Meus melhores professores morreram aprendendo, sempre a cada dia. Aquele que sabe tudo, não está apto a aprender mais nada e esse é o primeiro passo para o “emburrecimento” do ser humano. Lully também me deu um grande exemplo de maturidade. Nem eu nem você esperávamos dela uma visão tão analítica e realista da vida. Se é realidade ou apenas uma fuga por medo de sofrer, nós saberemos com o passar do tempo. Acho que você deve seguir aquilo em que você acredita. Por hoje é o suficiente, você quase não me deixou tempo, mas semana que vem nos aprofundaremos mais em alguns tópicos importantes, e não se esqueça, viva a vida com coragem e responsabilidade. Boa sorte e bom fim de semana, estou feliz por você”.

Fim de sexta feira, fim de semana começando. Eu sentia como se tivesse vivido um ano em uma semana. Muitas coisas, muitas emoções e muitas novidades. Saí leve do consultório de Esther. Peguei o carro e resolvi passar pela orla do Rio de Janeiro. Nada mais lindo do que a orla numa tarde de sol. Pessoas correndo pela ciclovia, pedalando, caminhando no calçadão, uns jogando futevôlei na areia, outros apenas pegando sol e bebendo uma cerveja gelada. Parei o carro e resolvi apreciar mais de perto aquela cena maravilhosa. Parei num dos quiosques da praia e pedi uma água de coco, isso mesmo, nada do tradicional chopp, eu queria algo mais saudável naquele momento. Queria apreciar aquela maravilha de pôr do sol. É por isso que as pessoas param para aplaudir. É de deixar qualquer um de boca aberta.

Fiquei ali no quiosque bebendo minha água de coco e apreciando a vista. Alguns minutos se passaram e vejam vocês, Su e seu namorado Japa estavam ali passando pelo mesmo calçadão onde eu estava parado. Os dois sentaram comigo e ficamos ali quase uma hora jogando conversa fora. Su perguntou sobre meu encontro e eu contei como foi e também qual era a situação atual. Os dois riram , me acharam meio contador de histórias. Su comentou que tem histórias que só acontecem comigo. Eu ri e aceitei o estigma, não me fazia mal ser um pouco folclórico. Daniel, o namorado Japa de Su, era engenheiro civil, trabalhava em uma grande companhia e foi muito bom conversar com ele sobre o mercado, sobre as particularidades do negócio. Eu era calouro no ramo e sabia que tinha muito a aprender. Daniel deu boas dicas e bons conselhos. Minha querida amiga Su sabia escolher as companhias. Poucas vezes a vi acompanhada de gente mala. Sempre têm um chato ou outro, mas eram raros. Os dois ainda me convidaram para um aniversário a noite em uma boate carioca, mas eu declinei do convite, queria dormir cedo e descansar para o jantar de sábado. Acabei dando uma carona ao casal, eles estavam caminhando e quando paramos na casa de Su, subimos para tocar um violão e comer alguma coisa. 

Su preparou uns petiscos e abriu um prosseco. Bebida de gente fina como Su. Aliás, Lara se daria muito bem com ela, eu pensei. Mais alguns amigos chegaram para a pré-night, como eles chamavam o aquecimento para o programa noturno. Chegaram mais duas amigas e dois casais. Revezei o violão com um deles que era bem desinibido e animado. Para mim, ficaram as canções mais românticas, o que despertou sorrisos nas meninas. Mal sabiam elas que eu estava fora de combate. Lá pelas 22h30 o pessoal estava pronto para sair. Ainda insistiram um pouco para que eu fosse na certeza de que algumas doses de prosseco me fariam mudar de idéia. Agradeci gentilmente e declinei. Entrei no carro e pensei comigo mesmo: “ É Herculano, há alguns dias você jamais recusaria um convite para uma noite com amigos e duas belas moças solteiras. Quem te viu e quem te vê! Será que você está mesmo tomando juízo?”. Perguntei a mim mesmo em pensamento.

Tomei o rumo de casa, uma chuvinha fina caia na noite carioca. Liguei o rádio do carro e selecionei uma faixa em especial de um CD que eu amava. Eu queria ouvir algo que me fizesse pensar em Lara, queria curtir aquela saudade gostosa de quem sabe que está perto de encontrar a pessoa que ocupa o nosso coração. Um clássico de Toquinho, um de meus preferidos:

Lá fora está chovendo
Mas assim mesmo eu vou correndo
Só pra ver o meu amor
Ela vem toda de branco
Toda molhada e despenteada
Que maravilha
Que coisa linda é o meu amor...

Lara despenteada? Coisa rara de acontecer. A licença poética deve servir para esses casos. Fui para casa cantarolando e pensando na “coisa linda que é o meu amor, meu amoooorrr...”

4 comentários:

Angélica disse...

Aguardando as próximas emoções;)

Erika disse...

.........ainda não acredito que ele realmente foi para casa e não foi para baladinha com os amigos.......acho que agora ele esta tomando juízo.....

Lennon Pereira disse...

Obrigado Ericka pelo seu comentário. Todos amadurecem um dia, a questão é: Chegou a hora de Herculano?
beijo

Lennon Pereira disse...

Elas virão Angelica, elas virão...beijo e obrigado