quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Capitulo 47 - No centro de um planalto...

Qual não foi minha surpresa ao olhar para trás e dar de cara com Martha e Chris vindo sorridentes em nossa direção. As duas estavam hospedadas no nosso hotel. Após minha expressão de surpresa, Martha explicou que estavam ali para um congresso na UNB. Martha havia sido convidada para ser uma das palestrantes e ficariam em Brasília até quinta feira. Fiz as devidas apresentações e as duas se juntaram a nós no balcão do bar do hotel. Lucas logo começou um animado papo com Chris, enquanto eu e Martha nos envolvemos num gostoso papo de amigos que sentem saudades e aquela felicidade boa em encontrar assim, por acaso, de surpresa e tão distante de nossas casas.

Martha compartilhava comigo do amor ao Rio de Janeiro. Ambos ficávamos maravilhados com as belezas naturais da cidade maravilhosa, e várias vezes passamos horas juntos conversando na mureta da Urca, no Arpoador, na Prainha e no Grumari. Contemplar a natureza, acompanhados de uma latinha de cerveja ou de um chopp super gelado eram nossos programas preferidos. Nada como um belo dia de sol no Rio de Janeiro. Dividíamos a mesma opinião: dias nublados deixam os cariocas macambúzios, a cidade fica triste!. O Rio de Janeiro nasceu para viver ao sol, quando chove é um desperdício! Martha estava feliz, com um olhar leve, tranqüilo. O relacionamento com Chris devia mesmo estar lhe fazendo muito bem.

Reparei que Lucas conversava com Chris bastante empolgado e fiquei ali com um pensamento que me fez dar uma risada. Lucas raramente saia sem Júlia, e era marido bem fiel, poucas vezes presenciei meu amigo em atitude suspeita. Se bem me lembro, uma vez, há uns cinco anos, ele deu uma escorregada muito discreta em uma festa só dos meninos. Hoje ele estava ali admirando a bela Chris, com seu charme peculiar. “Será que ele esta se engraçando?”, pensei eu comigo mesmo. “Vai ter uma decepção daquelas e eu vou rir e sacanear meu amigo para o resto da vida quando estivermos em locais seguros”. Pensei eu já meio que movido pelo efeito do Jhonnie Walker.

A convite das meninas, nos dirigimos a boate do hotel, que funcionava todos os dias e para minha surpresa estava até movimentada para uma segunda feira. Conversamos e dançamos um pouco, os quatro, até que as meninas se retiraram para ir ao banheiro. Nesse momento Lucas chegou perto e soltou a celebre frase: “Bacana essa amiga da Martha! Sabe se ela tem namorado? Uma aventura fugas aqui no plano piloto não me tornará um criminoso não é amigo?” Sóbrio eu provavelmente daria outra resposta, mas como estava já bem longe do nível de consciência 100%, dei uma risada e respondi sarcasticamente: “Se você se tornará um criminoso ou não eu não sei, mas com certeza o crime não será cometido com Chris, ela namora sim e me parece que você não é o tipo dela, mas tenta a sorte, quem sabe não é o seu dia?”. Cheguei a ficar com um peso na consciência, vendo aquele diabinho de desenho animado falando no meu ouvido, por brincar assim com meu amigo.

Quase não deu tempo de amadurecer a ideia, logo as duas voltaram do banheiro e voltamos para a pista. Fui dançar com Martha e deixei Lucas cair na própria armadilha. Seria bom para ele aprender a não pensar besteira com a mulher grávida em casa! Dancei uma música com Martha e fomos para o bar. Encostamos e eu contei para Martha sobre a pilha de Lucas. Ficamos ali, os dois olhando e esperando o desfecho da brincadeira, Martha já estava rindo da decepção que meu amigo teria, quando após mais umas duas músicas Lucas veio em minha direção com olhar fuzilante e disparou: “Herculano, você é um amigo muito fdp! como me deixou pagar esse mico?” “É para você criar juízo e lembrar que Julia está em casa com Rafaella te esperando Seu prego! Respondi entre gargalhadas minhas e de Martha. Chris se aproximou também sorrindo da situação e comentou: “Acontece mais vezes do que vocês pensam, somos femininas, nos vestimos assim e fugimos do estereótipo. Levamos sempre com bom humor”. Lucas se desculpou e assumiu: “O álcool me tira um pouco o juízo!

Eu não era a pessoa mais comportada do mundo como vocês já leram aqui em capítulos anteriores, porém, quando aprontava minhas confusões e aventuras, estava sempre sozinho, sem compromisso assumido com ninguém. Para ser sincero, acho que não me casei até hoje e evitei tantas vezes assumir compromisso, por acreditar que quando estamos com alguém que amamos de verdade, devemos resistir às tentações que a vida nos coloca. Sei que não é fácil e que somos humanos sujeitos à falhas, mas se puder evitar melhor. Hoje Lucas foi salvo pela orientação sexual de Chris, ou será que foi salvo por que Martha estava presente? Esse pensamento viajante me deixou meio confuso. Chris se deixaria levar por uma aventura de uma noite e ainda por cima com um homem? Esse pensamento me fez achar que eu também já havia bebido demais. Muita viagem da minha cabeça ou uma situação completamente possível de acontecer? Pensei em dividir meu pensamento com Martha, mas logo isso saiu da minha cabeça. Não me pareceu uma boa ideia. Conversamos mais alguns minutos ali no bar, pagamos a conta e levei meu amigo aos seus aposentos para que voltasse para o RJ recuperado no dia seguinte.

Como estava sem sono, ainda fiquei com Martha na varanda do quarto apreciando o Plano Piloto. O hotel era em frente ao Lago Paranoá e a noite limpa, de lua cheia e céu estrelado, nos brindava com um belo reflexo no espelho d’água. Martha aproveitou para me perguntar sobre o casamento, se eu estava mesmo decidido, firme e acima de tudo se eu estava feliz com a decisão. Conversei com ela sobre os últimos acontecimentos e sobre algumas inseguranças que até então não havia assumido para ninguém. Martha me acariciou a cabeça daquele jeito que ela fazia, carinhosa como uma irmã mais velha ou como alguém que te ama sem esperar nada em troca e sentenciou: “Amigo, encontre as respostas no seu coração, sem máscaras e sem subterfúgios. Nunca minta para si mesmo, esse é o maior erro que podemos cometer. Seja sincero com o mundo, mas acima de tudo com você mesmo.” Martha me deu um longo e demorado abraço, beijou-me a testa e se despediu, prometendo um jantar para o dia seguinte, se os horários combinassem.

Deitei para dormir e uma imagem passou rapidamente pela minha cabeça: Martha e Chris indo dormir juntas. Achei melhor pensar nos compromissos do dia seguinte, fechei os olhos e cantei em pensamento as estrofes do menestrel:

"No centro de um planalto vazio
Como se fosse em qualquer lugar
Como se a vida fosse um perigo
Como se houvesse faca no ar
Como se fosse urgente e preciso
Como é preciso desabafar
Qualquer maneira de amar varia
E Léo e Bia souberam amar
Como se não fosse tão longe
Brasília de Belém do Pará
Como castelos nascem dos sonhos
Pra no real, achar seu lugar
Como se faz com todo cuidado
A pipa que precisa voar
Cuidar de amor exige mestria
E Léo e Bia souberam amar..."

Um comentário:

Cristiane disse...

Homem é tudo igual, não podem ver um rabo de saia que vão logo pensando naquilo.Bem feito para o Lucas.Melhor teria sido um traveco...rs,rs,rs