terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Capítulo 48 - E agora Herculano?

Acordei cedo um pouco incomodado com o ar exageradamente seco do Plano Piloto, fui tomar café no hotel e havia uma correspondência em meu nome. Um bilhete de DR. Eleutério e um cartão dele com a anotação no verso, “Atender o Sr Herculano como se atendesse a mim”. o Bilhete dizia que eu deveria ir à todas as repartições necessárias para legalização da filial e apresentar o cartão dele. Seus assessores deixariam todos avisados, mas era bom ter o cartão, caso houvesse algum imprevisto. Tomei meu café com calma, li os jornais e atualizei emails pelo notebook, essa manhã ainda seria de trabalhos burocráticos, e eu teria que me policiar para render tudo que precisava. Lucas chegou logo depois, já com a mala pronta para ir direto para o aeroporto.

Meu amigo nem parecia ter tomado todas no dia anterior. Chegou de cara boa e quando eu pensei que ele ia tomar café, ele me surpreendeu avisando que já tinha comido e feito o check out no hotel e já chegou com novidades: “Herculano, vi hoje cedo que precisamos de documentos originais que ficaram no RJ. Já liguei para Marcia e a orientei a resolver tudo com máxima urgência. Você vai precisar de ajuda, já providenciei tudo. Seja firme e trate tudo até quinta feira. Você pode usar a sala de reuniões de ontem como posto de trabalho. Os documentos devem chegar para você até o meio dia”. Olhei no relógio para conferir se eu estava meio tonto. Não, eu não estava, eram apenas sete horas da manhã e Lucas estava naquele pique todo. “Será que esse maluco trabalhou de madrugada ainda bêbado?” pensei eu com meus botões. Lucas se despediu e eu voltei ao meu café e aos jornais. Quando estava quase saindo vi Martha e Chris chegando ao restaurante. Passei para cumprimentá-las e Martha falou comigo num tom quase inquisidor: “Jantamos juntos hoje às oito horas, ok? Chris vai a um evento  e vamos aproveitar para conversar melhor. Não se atrase!”. Como eu sou bem mandado, consenti com a cabeça e segui rumo ao trabalho.

Estava na sala preparando os últimos detalhes dos documentos quando a secretária do local que nos emprestaram trouxe alguém a sala: “Sr Herculano, tem uma pessoa te procurando”, falou a moça. Fui pego de surpresa, cheguei a imaginar que fosse engano, mas como aqui nessa terra tudo é possível, respondi com naturalidade e certo desdém: “Pode mandar entrar. Para minha surpresa Anna adentrou à sala, chiquérrima de terninho azul marinho, mala de rodinhas e notebook a tira colo, além da tradicional pastinha. Refeito do susto, perguntei o que ela estava fazendo ali, e ela com seu jeito espontâneo me respondeu com a franqueza dos inocentes: “Dona Márcia me acordou as 6 da manhã dizendo que o Sr. e Lucas precisavam de mim aqui, para trazer alguns documentos e dar apoio à abertura de uma filial em Brasilia que eu nem sabia que existiria. Tomei um banho, fiz uma mala ultra rápido e fui para o aeroporto onde havia uma passagem me esperando. Não sabia que esse meu emprego seria assim de emoções tão fortes!.”

Dei um sorriso, expliquei a ela todo o contexto, peguei os documentos e passei a ela parte das tarefas. O Primeiro dia de trabalho foi bastante produtivo e também pude conversar um pouco com minha pupila, e aprender com a convivência. Anna era esperta e determinada. Foi pega de surpresa pelo louco do Lucas, estava em Brasilia como se estivesse em Botafogo. Trabalhando com tranqüilidade e paixão. Acho que um dia ela vai ser dona da empresa, pensei eu em algum momento do dia.

Chegamos no hotel e Anna disse que comeria no quarto, estava morta e dormiria cedo para render bem no dia seguinte. Eu me dirigi ao meu quarto, para trocar de roupa e fazer uma sauna e dar um mergulho na piscina antes do jantar para o qual Martha me convocou, ou intimou, sei lá. Do quarto liguei para Lara, o celular deu caixa postal e deixei um recadinho fofo na secretária. Algo do tipo estou com saudades meu amor, me ligue quando puder e fui para minha sessão relaxamento. Amo sauna combinada com piscina. Só faltou uma dose de uísque, mas preferi dar folga ao fígado.

Voltei para o quarto para me arrumar e tinha recado de Lara. Linda demais minha noiva. Ouvi o recado no qual ela dizia me amar muito estar triste de saudades e me esperando com muitos abraços e beijos. Não resisti e liguei imediatamente para ouvir sua voz doce e carinhosa. Não deu outra, ela atendeu de primeira, perguntou do meu dia e botou uma música para eu ouvir no telefone:

“como vai você? 
Eu preciso saber da sua vida, 
peça a alguém para me contar sobre o seu dia, 
anoiteceu e eu preciso só saber... como vai você...”

Lara era mesmo um amor. O que um homem poderia querer a mais de um relacionamento? Como não ser feliz com Lara, isso seria possível? Me senti meio idiota com o ciúme do contato do ex marido dela. Eu poderia ter jogado tudo fora com um ciúme sem fundamentos. Seria mesmo sem fundamentos? E se ela soubesse do meu chopp com Lully? Tambem não iria gostar. Estava eu sendo egoísta? Essa avalanche de pensamentos passou pela minha cabeça assim que desligamos o telefone, e na verdade só parou porque o telefone do quarto tocou. Era Martha avisando que estava me esperando no saguão do hotel. Desci bem rápido pois não queria levar bronca de minha querida amiga. 


Lá estava ela, me deu um sorriso e um longo abraço, sentamos à mesa e meus planos de abstinência foram por água abaixo em menos de um minuto. Martha me convidou a dividir um Champanhe, e eu como bom cavalheiro, não diria não nem faria desfeita com a minha amiga. Uma garrafa de Champanhe e um couvert especial, pães frescos, pão italiano, paté de foie, queijo brie, presunto de Parma e pasta de berinjela, além dos ovos de codorna e da tradicional manteiga. Começamos a conversar ali, brindando com aquela bebida deliciosa e nos deliciando com o couvert de primeira qualidade. Uma senhora desfilava um doce repertório no piano de cauda do restaurante do hotel. My Way, London London, Yesterday, Let it Be, Somerhing, Love of my life, foram as primeiras, ou as que eu identifiquei o nome. O primeiro set foi dedicado à musica internacional e deu o tom de nossa conversa, falamos de nossas vidas, mas na parte mais superficial. Trabalho, planos, histórias vividas e etc...  


Quanto mais a garrafa esvaziava, melhor ficava o papo e mais profundos os assuntos. Na metade da segunda garrafa a pergunta que Martha estava guardando e criando coragem para fazer, pelo jeito há algum tempo: “Meu querido amigo Herculano,você está certo da sua decisão quanto ao casamento? Você ama mesmo a loirinha a ponto de casar e viver uma vida com ela? Já perguntou ao seu coração se você realmente ama a mulher que ela é , ou se está encantado com o que ela pode representar na sua vida? Já se perguntou isso?"

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