terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Capítulo - 49 - Justificar Jamais

As perguntas de Martha bateram na minha cabeça como um soco de um peso pesado. Tentei absorver o golpe e não responder nada por impulso, mas confesso que não foi nada fácil. Nesse momento passou um filme na minha cabeça, estaria eu me iludindo e iludindo Lara? Será que meu encanto era superficial? Estaria eu buscando uma perigosa zona de conforto, onde poderia estacionar e seguir uma vida aparentemente sem riscos? Sem riscos significa sem amor ou sem emoção? Onde eu poderia encontrar uma resposta objetiva para dar a Martha? Esther estava a Kilômetros de distância e não poderia me socorrer de imediato. Foram tantos os questionamentos que eu tomei de um gole só todo o precioso liquido da taça e respondi com autoridade: “Martha, quer me ferrar? Me beija antes poxa!!!”. Em seguida caímos os dois na gargalhada. O objetivo dela estava alcançado. Martha queria me fazer refletir, e minha resposta pseudo engraçadinha era um "preciso pensar" disfarçado. Ela se deu por satisfeita quando sacramentou o assunto: “Voltarei a te perguntar isso dentro de algum tempo, mas sinceramente, acredito que você me procurará com uma resposta menos cara-de-pau do que essa antes que eu te procure!

Martha não era boba e sabia que eu não tinha uma resposta de bate pronto. Se tivesse ela não acreditaria mesmo. O objetivo da socióloga era me fazer pensar, analisar e agir com sabedoria. Martha sabia o quanto seria desastroso para mim um novo relacionamento frustrado e não queria ver o amigo no buraco. Depois disso, ficamos ali ainda conversando e Martha resolveu tocar em outro assunto sensível. Perguntou da moreninha recepcionista de quem eu falei algumas vezes. Seguiu dizendo que via um brilho diferente em meu olhar quando eu falava dela, disse que era algo que ela não sabia explicar. Na visão de Martha, podia vir do mistério, do desafio ou mesmo do medo de perder o controle e me meter numa grande enrascada emocional! Minha amiga estava mesmo querendo me castigar e fazer o meu cérebro pirar. 


Li uma vez um artigo que dizia que no lado direito predominam a intuição, a criatividade, a sinergia, a síntese e  a visão global; no lado esquerdo, que  é mais racional, predominam o senso analítico, conceitual. Os dois estavam se embaraçando com essa situação, principalmente porque ambos estavam um tanto quanto afetados pelo champanhe. Nesse momento a pianista tocava clássico de Chico Buarque, clássico e sugestivo vejam algumas estrofes:

"- Quem é você?
- Adivinha, se gosta de mim!

Hoje os dois mascarados
Procuram os seus namorados
Perguntando assim:

- Quem é você, diga logo...
- Que eu quero saber o seu jogo...
- Que eu quero morrer no seu bloco...
- Que eu quero me arder no seu fogo."

Tirei Martha para dançar. Pensei que exercitando também meu corpo, meus pensamentos ficariam mais organizados e durante a dança comecei a responder tecnicamente a pergunta de Martha, afinal ela estava querendo saber quem eu era naquele momento da vida:

“Martha querida, vou ser muito franco com você: Depois daquela malfadada experiência, passei anos difíceis e amargos. Trabalhava sem interesse pelo que fazia. Sem prazer e sem perspectivas. No lado emocional, fiquei descrente e superficial. Vivi anos sem graça na minha vida. Cheguei a pensar que a vida era um mar de tédio e mesmice,  salpicada de alguns momentos interessantes de emoções passageiras ou fúteis. Passei muito tempo amargo e perdido. Confesso que o início da mudança na minha vida se deu quando conheci Lully. Ela me deu um empurrão no lado profissional, que agarrei com unhas e dentes. Ali minha vida começou a mudar. Confesso também que aquela mocinha humilde e de sorriso carismático muitas vezes me fez ter palpitações quando falava baixinho ao meu ouvido. Mas que futuro teria aquele relacionamento? Esse relacionamento daria futuro ou apenas mais uma frustração para minha coleção?”

Martha me olhava como que pedisse para eu continuar e não me fiz de rogado:

“Aí, meu melhor amigo me convida para Búzios, uma mulher linda, inteligente, bem nascida e solteira começa a se interessar por mim. Minha vida começa num grande ascendente. Tudo começa a melhorar, mil portas se abrem.  Minha auto estima se oxigena, passo a ter prazer profissional, objetivos, oportunidades, desafios pela frente, expectativas, sonhos. Lara se torna minha noiva, a família dela me recebe de braços abertos, nossas famílias interagem bem, estou de casamento marcado, sócio de uma empresa de futuro, cheio de responsabilidades e resultados. Fico sócio de Lucas, padrinho de Rafa, noivo de Lara, uma das mulheres mais belas e inteligentes que conheci, e que me trata como se eu fosse o homem mais importante e querido do mundo! Vou fazer o que? Reclamar da vida? Alimentar fantasmas? Confesso que não preciso de tempo para te responder. Seria um perfeito idiota se tivesse alguma dúvida ainda do que quero para meu futuro. Lara será a mulher, amante e mãe perfeita, com quem eu sempre sonhei, e Deus colocou de presente na minha vida. Então, só posso dizer uma coisa: obrigado Senhor por todas as coisas maravilhosas com que tens me agraciado. Respondida sua pergunta?”

Martha era do tipo osso duro de roer, aparentemente não ouviu nada do que eu disse, e se ouviu, não deu a menor importância. Deu de ombros, elogiou meu desempenho na dança e teve o desplante de dizer: “Seu discurso emocionado e certinho não quer dizer nada. Continuo esperando uma resposta amadurecida. Você não precisa se justificar para mim, justifique-se para você!”

Morri de raiva da reposta de Martha, mas resolvi aliviar o clima. Não adiantaria nada alimentar aquela discussão. Mulheres são assim, determinadas. Eu conhecia Martha e nada do que eu dissesse mudaria sua opinião. Resolvi voltar para a mesa e pedir o jantar, aquele papo já tinha feito minha adrenalina subir e meu teor alcoólico baixar.  Além disso eu tinha um dia inteiro pela frente, teria que dividir tarefas com Anna e monitorá-la. Lucas quis me ajudar mandando Anna, mas eu nem sei se foi uma boa ideia. Fiquei com pena da menina ter sido acordada no meio da madrugada para se despencar para Brasilia.

Pedi Lagosta ao Thermidor. Já que eu estava ali ralando e sendo pressionado pela chefe santa inquisição (Martha é claro), resolvi que ia comer bem e dormir profundamente. Pensei em provocar Martha um pouco, para que ela visse como era bom cutucar quem está tranqüilo. Podia ter cutucado sua paz, sugerindo que sua nova opção seria uma fuga das frustrações com os namorados do passado, principalmente do musico idiota. Martha tão segura e inteligente, foi se envolver com um idiota de cabeça vazia e bolso cheio de erva. Tal pensamento não vingou. Não era típico da minha personalidade cutucar e provocar apenas para me vingar. Eu era um conciliador, e não queria ver minha amiga triste. Ela estava ótima namorando Chris, que seguisse assim. Não me cabe ser sua consciência.

Jantamos e fomos dormir conversando amenidades. Cada um no seu quarto é claro, para que não pairem dúvidas.

2 comentários:

Kelly Carvalho disse...

Quando o Herculano vai ter um caso com a Anna, hein? Hein?

Lennon Pereira disse...

muitos risos. Kelly, você ta pensando o que menina? que ele vai trair a noiva?, beijos e obrigado pelo comentário