Desde
que me lembro de ser eu, isto é, desde o tempo que tenho lembranças reais da
casa onde morei, de conversas com meus pais, da primeira escola e dos primeiros
amigos, tenho consciência de ser torcedor do Fluminense.
A
história que vou contar aqui aconteceu quando eu estava com meus sete anos de
idade. Morava com meus pais e minha irmã, em uma simples - mas aconchegante e
confortável - casa no distante e quente bairro de Bangu. Minhas primeiras
lembranças de ir a jogos vêm do charmoso estádio de Guilherme da Silveira,
também conhecido como Estádio Proletário ou Moça Bonita.
Eram
casinhas iguais, em ruas de paralelepípedo que circundavam uma grande praça,
onde havia um campo de futebol de terra batida, espaços para bicicletas, um
enorme pé de tamarindo, que nos brindava com sua generosa sombra e seus galhos
onde subíamos e pendurávamos pneus como balanço. Naquele tempo, as crianças
andavam de bicicleta, soltavam pipa, brincavam de piques e acima de tudo,
jogavam futebol, muito futebol. Éramos felizes, alegres e não nos preocupávamos
com essas idiotices do mundo moderno. Ninguém imaginava o que seria o tal bullying, e nenhum dos meus amigos que
tinham apelidos do tipo Orelha, Buião, Cabeça, Já Morreu, Cajá, Bolão, Cuia etc
cresceram traumatizados por causa disso. Pelo contrário, alguns até se
apresentavam pelo apelido, que já era algo incorporado ao nosso dia-a-dia.
Hoje
as crianças não saem de casa, vivem nos
tablets, PS3, 4, 5, e outros alienadores. Não conhecem a alegria de correr
pela rua, suar, brincar na terra, e choram de bullying. Malditos tempos modernos.
Voltando
ao tema principal do site e da crônica, quero contar o que aconteceu naquele
longínquo tempo. Eu tinha um primo um ano mais velho, que era meu ídolo.
Mandava bem no futebol, soltava pipa, fazia balão e já paquerava as meninas do
bairro. Para desespero de meu pai, também tricolor fanático, meu primo era
vascaíno e usava minha admiração para tentar me converter em “padeiro”. Estava
eu já balançando na minha escolha, afinal, uma criança de sete anos, sofre
ainda certas influencias e está com sua personalidade em formação. Um dia,
cheguei para meu pai e disse: - Pai, acho que vou ser Vasco, igual meu primo
Marcelo! Meu pai me olhou um pouco entristecido, mas democrático como sempre
ponderou: - Filho, time é coisa que não se troca, mas se for essa sua vontade,
problema é seu.
Saí
daquela conversa um pouco confuso, não queria decepcionar meu pai, eu gostava
do Fluminense, mas estava sob a influencia “negativa” de meu primo - e melhor
amigo - naquela época.
Foi
aí que os deuses do futebol entraram em ação. Poucos dias depois dessa
conversa, a grande final do campeonato estadual. Naquela época não se
transmitia jogos como hoje pela televisão. Eram Radio Nacional, Globo, Tupi ou estar
no Maracanã. Ver o jogo, somente no videotape
à meia-noite na TVE.
Fomos
então no velho Opala vermelho do meu pai ao Maracanã naquela tarde de domingo.
De Bangu ao Maracanã era quase uma viagem. Chegamos cedo, compramos ingressos e
nos assentamos nas arquibancadas. Eu vibrava com o desfile das bandeiras, com a
festa do pó de arroz e com a alegria do famoso “careca” espalhando seu amor
pelo Flu e seu interminável pó de arroz/talco pelo anel superior do Estádio
Mario Filho. Era o lugar certo.
Foi
entre uma coca-cola e um cachorro-quente Geneal que eu vi. Uma falta pelo lado
esquerdo do ataque tricolor. Barreira mal formada, aquele craque de cabelos
desalinhados, que era a cara da garra tricolor. Pegou a bola, ajeitou e correu.
A bola quicou na frente de Mazzaropi, que se atrapalhou e acabou rebatendo para
as redes vascaínas.
1x0
para o Tricolor. Nossa tradicional goleada. Seguramos o resultado até o final.
Ali,
naquele momento, Edinho se tornou meu primeiro grande ídolo tricolor, eu
consolidei meu amor e minha devoção ao Tricolor das Laranjeiras e meu pai
respirou campeão e realizado. Um grande clube vive de títulos e ídolos. Estamos
no caminho certo.
Obrigado
ídolos, por vocês existirem
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