Estava eu com as gêmeas, na fila de um
famoso laboratório de análises clinicas, para exames de rotina solicitados pela
nossa pediatra. Agora que já não sou mais um homem do campo, tenho que me
adaptar a essas tarefas complexas de cidade grande. Agendar com antecedência,
ficar horas ligando para as famigeradas centrais de atendimento, ouvir
musiquinhas intermináveis, para finalmente conseguir aquilo que é nosso
direito, realizar um exame médico.
Por isso, podemos encontrar máquinas de
café e chocolate, e Tvs presas nas paredes para que o tempo possa passar mais
rápido.
A qualidade da programação da TV
brasileira não é lá essas coisas, nem nos horários nobres, de maior audiência. Fico
eu imaginando o que pode ter de bom no horário matinal. Graças às minhas amadas
filhas, minha dúvida estava prestes a ser sanada.
Eu me distraía com as meninas, contando
casos, fazendo brincadeiras (elas também não são muito televisivas, graças aos
tempos em que vivíamos na pousada em Búzios), e a programação passaria quase
imperceptível, não fosse o fato que narrarei agora:
Começou a me ferir os ouvidos uma voz
esganiçada, eu se propunha a cantar algo, mas produzia sons desalinhados e
agressivos aos ouvidos. Tamanha desafinação fez com que eu parasse por um momento
com as brincadeiras e prestasse atenção à telinha do demônio (apelido carinhoso
para televisão).
Lá encontrava se uma moça de cabelos
gritantemente tingidos de loiros, com um rosto totalmente retocado por Botox e
seus similares, com carregada maquiagem e uma vestimenta quase que
indescritível. Os mais antigos hão de se recordar do exemplo que darei. Aos
jovens peço perdão e que recorram ao google para desfazer qualquer dúvida que
ocorra. A “moça”(meio quarentona) vestia-se como a personagem de Tina Turner no
filme MadMax (famoso nos cinemas pelos idos dos anos 80).
O filme contava a história de uma
civilização quase primitiva que sobreviveu após um hipotético apocalipse. As
vestes já eram bizarras para aquele tempo, imaginem para hoje??? Por um momento
me passou pela cabeça que fosse uma fantasia de escola de samba, mas o carnaval
findou-se mês passado e é cedo para o de 2016! Não haviam dúvidas, as vestes
eram realmente escolhidas para a apresentação da moça.
Após o espanto com o que eu via, seguiu-se
o espanto dom o que eu ouvia. Entre berros esganiçados e palavras difíceis de
entender, a moça findava com algo como:
“Se der mole, te limpo todinho
Tudo
bem, demorô, não faz mal
Passo o rodo e dou uma esfregada
Passo o rodo e dou uma esfregada
O meu brilho é natural"
Em seguida arremata com a transloucada,
presunçosa e egocêntrica frase: "Eu
sou a diva que você quer copiar”.
Depressão, espanto, tristeza, decepção...
Parei, respirei fundo, refleti e concluí
que o primeiro passo para vivermos num país melhor é escolhermos melhor “as
divas” que queremos copiar e dar de exemplo para nossos filhos.
Que Deus me liberte de cruzar novamente
com tal figura, mesmo que pela Televisão.
Hora de correr para casa e limpar
meus olhos e ouvidos com um velho DVD que tenho de Vinicius, Tom,
Toquinho e Miúcha.
“... se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval...” ( trecho da música
Escravo da Alegria de Vinicius de Morais
Até breve!
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