Esther veio me receber com seu
habitual e acolhedor sorriso quase que maternal. Olhou para mim e disse: “Deixe
essa nuvenzinha sobre sua cabeça aí na sala e venha comigo”. Esther era um
dinheiro muito bem gasto por mim. Com sua experiência e sabedoria, ela
praticamente lia meu astral.
Sentei na poltrona de sempre e meio
que indeciso e perdido, pedi cola. Perguntei à Esther se devia ser cronológico
nos assuntos ou se devia apenas ir falando sobre as muitas emoções da semana. Para
variar a resposta dela foi a que eu já sabia: “Faça como quiser.”
Optei por ser cronológico e
durante minha longa narrativa, percebi a montanha russa de emoções que
foi a minha semana.
Do paraíso que começou na
festa de Lara, passando pelo fim de semana em Mury, ao inferno da notícia bomba
de Martha na segunda feira. Depois a alegria de ter vencido as tentações de Lully
e a decepção pelo incomodo que me causou a visão de Lully “acompanhada” no
café.
Foi a primeira vez que vi
Esther fazer algumas anotações. Normalmente ela apenas ouvia atentamente com
comentários pontuais.
Para minha surpresa, Esther
deu pouca atenção ou importância ao risco de gravidez de Martha. Segundo ela,
nós só devemos nos preocupar com fatos reais e não com possibilidades. Para
Esther, se preocupar antes do resultado do exame de Martha era como sofrer na
segunda feira pelo risco de chover no sábado. Pura perda de tempo, nada se pode fazer para mudar o resultado.
O Primeiro conselho de Esther
foi para que eu tivesse mais problemas reais e menos problemas imaginários e me
mandou falar disso com ela após o teste. Ótimo, menos uma preocupação para mim.
O conselho de Esther nesse ponto foi um alivio para minha cabeça.
As surpresas não pararam por
aí, em seguida a bomba de Esther:
“Herculano, por que você
resistiu a Lully? Porque não aproveitou a ocasião da sua casa para ter mais
intimidade com ela? Por que não a beijou? Quem disse a você que você precisa
ser o bom samaritano ou o “senhor ética”?
Essas perguntas de Esther me
deixaram extremamente desconfortável e sem piedade ela prosseguiu: “Você não é
casado e nem sabe se é mesmo de Lara que você gosta. O que eu vejo é que você
tem uma coisa meio utópica com Lully. Você nem sabe se vai gostar do beijo da
menina e fica aí morrendo de medo de tocá-la. Medo de algo que você nem sabe se
é real meu amigo. Deixe o plano imaginário e viva o plano real. Lully é de carne e osso. Tem qualidades e defeitos
como todos nós, e beijá-la talvez seja seu passaporte para se libertar de mais
um problema que para mim, por enquanto só existe nessa sua cabeça romântica! Vá
em frente, experimente, corra o risco, sinta, viva e decida-se. Mas qualquer
que seja sua decisão, que seja sincera, real e arque com os bônus e ônus de
fazer escolhas. Não quero mais você aqui nessa poltrona desfilando seus
problemas imaginários. Sua hora acabou! Até sexta, mas sem essa ladainha ok?”
A bronca dura e cruel de
Esther foi como um tratamento de choque. Eu entrara no consultório carregando
todo o peso do mundo em minhas costas e saíra de lá sacudido. Saí do
consultório e parei no primeiro bar que vi. Encostei no balcão, pedi um chopp
e uma porção de azeitonas. Precisava assimilar a sessão de hoje da análise.
Percebi que o sermão de Esther
praticamente me fizera sair de lá sem o peso de ter que fazer tudo certo o
tempo todo. Eu era humano, sujeito a tropeços, erros e acertos. Aquela sessão
com Esther mudaria minha vida para sempre. O Herculano Tavares Marins que saiu
do consultório não era o mesmo que entrou. Lá entrou um cara que morria de medo
de cometer erros, de ser julgado e condenado por um juiz que só existia na propria mente, minha severa consciência.
Esther me ensinara naquele dia que não devo ser tão exigente e cruel comigo mesmo. Me ensinou a me permitir o benefício da dúvida. Eu advogado que era, nem me tocara de que até para a lei dos homens todos são inocentes até que se prove o contrário.
Esther me ensinara naquele dia que não devo ser tão exigente e cruel comigo mesmo. Me ensinou a me permitir o benefício da dúvida. Eu advogado que era, nem me tocara de que até para a lei dos homens todos são inocentes até que se prove o contrário.
O segundo chopp me desceu com
o sabor da absolvição e da liberdade. O Herculano que eu via no espelho da
parede do bar era um homem livre, um escravo alforriado. Meu sorriso era mais
leve e meu astral estava aliviado.
Liguei para Su, uma amiga
querida, quase uma irmã mais nova e pedi a ela que fosse comigo ao shopping. Eu
precisava comprar uma roupa nova bacana para um programa especial que eu tinha
para fazer no sábado.
Su me atendeu com um sorriso
daqueles que se nota por telefone e me disse que passasse em sua casa que ela
teria prazer em ir comigo. Nada como dividir momentos felizes com amigos de
verdade e Su era a companhia perfeita para dar um capricho no visual. Elegante,
de bom gosto e mais jovem que eu uns seis anos. Su trabalhava numa
multinacional e apesar de sua beleza e charme ímpares, nunca passamos de bons
amigos. Talvez por conhecê-la muito jovem, eu tinha mesmo apenas um olhar fraterno.
Ela logo quis saber que
programa especial era aquele e queria saber o que havia acontecido para eu
estar com aquele ar leve e empolgado.
Me resumi a dizer que eu
estava alforriado, livre, praticamente renascido após uma bronca dada por minha
analista.
Su escolheu calças, camisas,
blusas e calçados. Me fez deixar uma boa grana na loja, mas eu saí de lá com
novo visual. Mais despojado e descontraído, algo que combinaria mais com meu
novo perfil. Fomo jantar num restaurante japonês depois. Sashimis, temakis,
harumakis, saque, muito saque, risos e muitas histórias. Comemos e bebemos bem,
Su foi a primeira a conhecer o novo Herculano e ela tinha tudo a ver com minha
nova personalidade. Agradeci a companhia dela
e ela me devolveu dizendo estar muito feliz de me ver desse jeito. “
Adoro você meu amigo, mas você sempre carregou esse ar de preciso fazer tudo
certo. A vida não é assim meu querido!”A anuência de Su soava como uma benção
para meus ouvidos. Eu a deixei na cada de Daniel, seu namorado sansei, e fui
para casa descansar e me preparar para o meu dia especial com Lully. Naquele
momento eu já até havia me esquecido do fato de Lully estar lá de papo com o
maldito “Sr misterioso”. O Mundo era meu e o direito de errar me fazia um homem
livre. Estava a caminho de casa quando o telefone tocou. Junior e
Martins estavam no Boteco Taco, e
como eu era um homem livre, estiquei. Já estava no pique mesmo e bebemos
algumas animadamente conversando e jogando uma partida de mata tatá. Uma hora
depois estávamos na tal casa ali ao lado. Furamos a fila como de costume e
fomos para a pista. Martins e Junior eram “guerreiros da noite”, não perdiam
tempo nem oportunidades. Quando íamos para a “guerra”, rolava uma disputa
velada para ver quem seria o primeiro a marcar gol. Dessa vez resolvemos
apostar para ficarem claras as regras. Uma garrafa de Red Label para quem fosse
o primeiro. Não valia ninguém com a idade de nossas mães e nem genéricas da “Dona Bela”, personagem de Zezé Macedo
no programa Escolhinha do Professor
Raimundo, famoso humorístico do genial Chico Anysio.
Era mesmo meu dia de sorte, olhei para a pista e lá
estava Carol, lembram dela? A menina que apaguei o telefone. Cheguei perto dela com ar de feliz e surpreso em vê-la.
Antes que ela pudesse falar alguma coisa eu me adiantei: “Carol, que bom te
ver!! Perdi meu celular e toda a minha agenda!! Achei que nunca mais voltaria a
te ver! Vim aqui várias vezes na esperança de te encontrar!! Hoje é meu dia de
sorte!!”
Nada como ser convincente na
argumentação, a reposta de Carol foi um belo sorriso e um longo e interminável
beijo, cinematográfico!!
Dei um sorriso vitorioso para
meus amigos, que me olhavam derrotados e indignados. Raramente eu era o
primeiro. Tinha por hábito ficar ali analisando antes o ambiente, até escolher alguém
para o ataque.
Dancei e beijei Carol por
mais um tempo, até o fim do show. A noite foi muito animada, logo meus amigos
se arrumaram também e ficamos todos num grande e animado grupo.
Minha nova personalidade
estava inaugurada com chave de ouro, e para ser completa só faltava dormir em
botafogo, nos braços da doce e descomplicada Carol. Não faltava mais nada.
No carro um refrão que
traduzia meu momento perfeitamente:
“Se eu conheço alguém num encontro casual
E tudo anda bem, num bate papo informal
Uma noite quente sugere desfrutar
Do meu terraço, a vista de frente pro mar
Mas a noite é uma criança
Delícias no café da manhã”
E tudo anda bem, num bate papo informal
Uma noite quente sugere desfrutar
Do meu terraço, a vista de frente pro mar
Mas a noite é uma criança
Delícias no café da manhã”
Salve o Rei Roberto
6 comentários:
Esther é muito sábia Herculano tira TODO proveito de seu conselhos.Quero ver o que ele dirá pra Carol depois. Ou não dirá nada e vai "perder" o celular mais uma vez?
Curiosa você Menina!! Aguarde os próximos capítulos. Obrigado pelo comentário!
Herculano, vc está se enrolando cada vez mais e por isso também bebendo além da conta...A cada encontro , agustia ou " xaveco" novo, lá vai um gole...(rs,rs,rs).Assim vai acabar no Pinel ou no AA.Será que não seria melhor escolher uma gata e dedicar a ela todo esse charme e sedução?
Muito boa a sua história.Confesso que não sou leitora muito assídua (prefiro tv e cinema, como quase todo mundo), mas vc me prendeu com sua história.Fico tentando imaginar como tudo isso vai terminar...Parabens
Esther deu bons conselhos. Mas analistas costumam mandar ir muito além daquilo que realmente pode ser o equilíbrio. Viva de acordo com sentimentos!!!! Estou entre um mix do que foi dito pela Angelica e pela Cristiane...
Vamos ver quando o dia amanhecer!!!
Olá Cristiane, Herculano precisa mesmo controlar as biritas, vou dar esse toque a ele!rs.
Muito obrigado por acompanhar a História e por deixar aqui o seu comentário. Tambem estou curioso para saber como isso acabará! um beijo e volte sempre!
Boa tarde Anonimo, Obrigado por acompanhar o Livro e por deixar seu comentário!como Herculano sairá dessa noite com Carol? Carol continuará apenas uma "figurante'? ou terá mais espaço? e o balé com Lully?
Abraços e muito obrigado mais uma vez!
Postar um comentário