sábado, 26 de novembro de 2011

Capitulo 20 – A sabedoria abençoada de Esther


Esther veio me receber com seu habitual e acolhedor sorriso quase que maternal. Olhou para mim e disse: “Deixe essa nuvenzinha sobre sua cabeça aí na sala e venha comigo”. Esther era um dinheiro muito bem gasto por mim. Com sua experiência e sabedoria, ela praticamente lia meu astral.
Sentei na poltrona de sempre e meio que indeciso e perdido, pedi cola. Perguntei à Esther se devia ser cronológico nos assuntos ou se devia apenas ir falando sobre as muitas emoções da semana. Para variar a resposta dela foi a que eu já sabia: “Faça como quiser.”
Optei por ser cronológico e durante minha longa narrativa, percebi a montanha russa de emoções que foi a minha semana.
Do paraíso que começou na festa de Lara, passando pelo fim de semana em Mury, ao inferno da notícia bomba de Martha na segunda feira. Depois a alegria de ter vencido as tentações de Lully e a decepção pelo incomodo que me causou a visão de Lully “acompanhada” no café.
Foi a primeira vez que vi Esther fazer algumas anotações. Normalmente ela apenas ouvia atentamente com comentários pontuais.
Para minha surpresa, Esther deu pouca atenção ou importância ao risco de gravidez de Martha. Segundo ela, nós só devemos nos preocupar com fatos reais e não com possibilidades. Para Esther, se preocupar antes do resultado do exame de Martha era como sofrer na segunda feira pelo risco de chover no sábado. Pura perda de tempo,  nada se pode  fazer para mudar o resultado.
O Primeiro conselho de Esther foi para que eu tivesse mais problemas reais e menos problemas imaginários e me mandou falar disso com ela após o teste. Ótimo, menos uma preocupação para mim. O conselho de Esther nesse ponto foi um alivio para minha cabeça.
As surpresas não pararam por aí, em seguida a bomba de Esther:
“Herculano, por que você resistiu a Lully? Porque não aproveitou a ocasião da sua casa para ter mais intimidade com ela? Por que não a beijou? Quem disse a você que você precisa ser o bom samaritano ou o “senhor ética”?
Essas perguntas de Esther me deixaram extremamente desconfortável e sem piedade ela prosseguiu: “Você não é casado e nem sabe se é mesmo de Lara que você gosta. O que eu vejo é que você tem uma coisa meio utópica com Lully. Você nem sabe se vai gostar do beijo da menina e fica aí morrendo de medo de tocá-la. Medo de algo que você nem sabe se é real meu amigo. Deixe o plano imaginário e viva o plano real. Lully  é de carne e osso. Tem qualidades e defeitos como todos nós, e beijá-la talvez seja seu passaporte para se libertar de mais um problema que para mim, por enquanto só existe nessa sua cabeça romântica! Vá em frente, experimente, corra o risco, sinta, viva e decida-se. Mas qualquer que seja sua decisão, que seja sincera, real e arque com os bônus e ônus de fazer escolhas. Não quero mais você aqui nessa poltrona desfilando seus problemas imaginários. Sua hora acabou! Até sexta, mas sem essa ladainha ok?”
A bronca dura e cruel de Esther foi como um tratamento de choque. Eu entrara no consultório carregando todo o peso do mundo em minhas costas e saíra de lá sacudido. Saí do consultório e parei no primeiro bar que vi. Encostei no balcão, pedi um chopp e uma porção de azeitonas. Precisava assimilar a sessão de hoje da análise.
Percebi que o sermão de Esther praticamente me fizera sair de lá sem o peso de ter que fazer tudo certo o tempo todo. Eu era humano, sujeito a tropeços, erros e acertos. Aquela sessão com Esther mudaria minha vida para sempre. O Herculano Tavares Marins que saiu do consultório não era o mesmo que entrou. Lá entrou um cara que morria de medo de cometer erros, de ser julgado e condenado por um juiz que só existia na propria  mente, minha severa consciência. 
Esther me ensinara naquele dia que não devo ser tão exigente e cruel comigo mesmo. Me ensinou a me permitir o benefício da dúvida. Eu advogado que era, nem me tocara de que até para a lei dos homens todos são inocentes até que se prove o contrário.
O segundo chopp me desceu com o sabor da absolvição e da liberdade. O Herculano que eu via no espelho da parede do bar era um homem livre, um escravo alforriado. Meu sorriso era mais leve e meu astral estava aliviado.
Liguei para Su, uma amiga querida, quase uma irmã mais nova e pedi a ela que fosse comigo ao shopping. Eu precisava comprar uma roupa nova bacana para um programa especial que eu tinha para fazer no sábado.
Su me atendeu com um sorriso daqueles que se nota por telefone e me disse que passasse em sua casa que ela teria prazer em ir comigo. Nada como dividir momentos felizes com amigos de verdade e Su era a companhia perfeita para dar um capricho no visual. Elegante, de bom gosto e mais jovem que eu uns seis anos. Su trabalhava numa multinacional e apesar de sua beleza e charme ímpares, nunca passamos de bons amigos. Talvez por conhecê-la muito jovem, eu tinha mesmo apenas um olhar fraterno.
Ela logo quis saber que programa especial era aquele e queria saber o que havia acontecido para eu estar com aquele ar leve e empolgado.
Me resumi a dizer que eu estava alforriado, livre, praticamente renascido após uma bronca dada por minha analista.
Su escolheu calças, camisas, blusas e calçados. Me fez deixar uma boa grana na loja, mas eu saí de lá com novo visual. Mais despojado e descontraído, algo que combinaria mais com meu novo perfil. Fomo jantar num restaurante japonês depois. Sashimis, temakis, harumakis, saque, muito saque, risos e muitas histórias. Comemos e bebemos bem, Su foi a primeira a conhecer o novo Herculano e ela tinha tudo a ver com minha nova personalidade. Agradeci a companhia dela  e ela me devolveu dizendo estar muito feliz de me ver desse jeito. “ Adoro você meu amigo, mas você sempre carregou esse ar de preciso fazer tudo certo. A vida não é assim meu querido!”A anuência de Su soava como uma benção para meus ouvidos. Eu a deixei na cada de Daniel, seu namorado sansei, e fui para casa descansar e me preparar para o meu dia especial com Lully. Naquele momento eu já até havia me esquecido do fato de Lully estar lá de papo com o maldito “Sr misterioso”. O Mundo era meu e o direito de errar me fazia um homem livre. Estava a caminho de casa quando o telefone tocou.  Junior e  Martins estavam no Boteco Taco,  e como eu era um homem livre, estiquei. Já estava no pique mesmo e bebemos algumas animadamente conversando e jogando uma partida de mata tatá. Uma hora depois estávamos na tal casa ali ao lado. Furamos a fila como de costume e fomos para a pista. Martins e Junior eram “guerreiros da noite”, não perdiam tempo nem oportunidades. Quando íamos para a “guerra”, rolava uma disputa velada para ver quem seria o primeiro a marcar gol. Dessa vez resolvemos apostar para ficarem claras as regras. Uma garrafa de Red Label para quem fosse o primeiro. Não valia ninguém com a idade de nossas mães e nem genéricas da “Dona Bela”, personagem de Zezé Macedo no programa Escolhinha do Professor Raimundo, famoso humorístico do genial Chico Anysio.
Era mesmo  meu dia de sorte, olhei para a pista e lá estava Carol, lembram dela? A menina que apaguei o telefone. Cheguei perto  dela com ar de feliz e surpreso em vê-la. Antes que ela pudesse falar alguma coisa eu me adiantei: “Carol, que bom te ver!! Perdi meu celular e toda a minha agenda!! Achei que nunca mais voltaria a te ver! Vim aqui várias vezes na esperança de te encontrar!! Hoje é meu dia de sorte!!”
Nada como ser convincente na argumentação, a reposta de Carol foi um belo sorriso e um longo e interminável beijo, cinematográfico!!
Dei um sorriso vitorioso para meus amigos, que me olhavam derrotados e indignados. Raramente eu era o primeiro. Tinha por hábito ficar ali analisando antes o ambiente, até escolher alguém para o ataque.
Dancei e beijei Carol por mais um tempo, até o fim do show. A noite foi muito animada, logo meus amigos se arrumaram também e ficamos todos num grande e animado grupo.
Minha nova personalidade estava inaugurada com chave de ouro, e para ser completa só faltava dormir em botafogo, nos braços da doce e descomplicada Carol. Não faltava mais nada.
No carro um refrão que traduzia meu momento perfeitamente:
“Se eu conheço alguém num encontro casual
E tudo anda bem, num bate papo informal
Uma noite quente sugere desfrutar
Do meu terraço, a vista de frente pro mar
Mas a noite é uma criança
Delícias no café da manhã”
Salve o Rei Roberto

6 comentários:

Angélica disse...

Esther é muito sábia Herculano tira TODO proveito de seu conselhos.Quero ver o que ele dirá pra Carol depois. Ou não dirá nada e vai "perder" o celular mais uma vez?

Lennon Pereira disse...

Curiosa você Menina!! Aguarde os próximos capítulos. Obrigado pelo comentário!

Cristiane disse...

Herculano, vc está se enrolando cada vez mais e por isso também bebendo além da conta...A cada encontro , agustia ou " xaveco" novo, lá vai um gole...(rs,rs,rs).Assim vai acabar no Pinel ou no AA.Será que não seria melhor escolher uma gata e dedicar a ela todo esse charme e sedução?
Muito boa a sua história.Confesso que não sou leitora muito assídua (prefiro tv e cinema, como quase todo mundo), mas vc me prendeu com sua história.Fico tentando imaginar como tudo isso vai terminar...Parabens

Anônimo disse...

Esther deu bons conselhos. Mas analistas costumam mandar ir muito além daquilo que realmente pode ser o equilíbrio. Viva de acordo com sentimentos!!!! Estou entre um mix do que foi dito pela Angelica e pela Cristiane...
Vamos ver quando o dia amanhecer!!!

Lennon Pereira disse...

Olá Cristiane, Herculano precisa mesmo controlar as biritas, vou dar esse toque a ele!rs.
Muito obrigado por acompanhar a História e por deixar aqui o seu comentário. Tambem estou curioso para saber como isso acabará! um beijo e volte sempre!

Lennon Pereira disse...

Boa tarde Anonimo, Obrigado por acompanhar o Livro e por deixar seu comentário!como Herculano sairá dessa noite com Carol? Carol continuará apenas uma "figurante'? ou terá mais espaço? e o balé com Lully?
Abraços e muito obrigado mais uma vez!