Capítulo 7 - Típicamente Carioca

O fim de semana foi de reclusão. O Máximo que fiz foi caminhar na lagoa Rodrigo de Freitas domingo. Dia lindo de sol, e como havia dormido cedo no sábado, acordei bem cedo e às 9 da manhã já estava lá. Nada como caminhar na Lagoa para pensar na vida. O Rio de Janeiro é uma cidade democrática mesmo. O Lugar é um cartão postal Lindo. A brisa leve e o sol no espelho d´água eram um pano de fundo perfeito. Se existe mesmo um paraíso após a morte ele deve se parecer com isso aqui, pensei eu admirado. Comecei minha caminhada, acompanhado do meu diskman. Hoje os Cds escolhidos eram de Vinicius de Moraes, Chico Buarque. A primeira música: “...Rua Nascimento Silva, cento e sete Você ensinando prá Elizete as canções de canção do amor demais Lembra que tempo feliz, ai que saudade, Ipanema era só felicidade Era como se o amor doesse em paz...” Trilha perfeita para um passeio. Enquanto caminhava e ouvia musica, eu reparava nos transeuntes. Nada como identificar personagens urbanos para passar o tempo e refletir.Logo a frente um Sr de uns 45 anos, muito branco, bermuda bege, tênis, meia levantada quase no joelho, camisa pólo branca com a marca do cavalinho italiano (quem caminha na Lagoa de camisa pólo???) apertada na larga circunferência abdominal, boné branco e óculos Ray Ban. Um casal de filhos, gêmeos bi vitelinos com uns cinco ou seis anos no máximo, o menino vestido de “mini mim” idêntico ao pai, sem os óculos e a menina com um vestidinho rosa da Disney, tênis All Star, maria chiquinha e franja, loiríssimos, ambos de olhos azuis como a mãe, essa de calça justa, sandália de salto, bolsa LV, muitas jóias, Ray Ban e cabelos louros no meio das costas. Olhei aquela família e pensei: Com certeza são paulistas!! Só pode ser! Cariocas jamais apresentariam tais características nem tais vestimentas caminhando por aqui. Alterei o passo para me aproximar, tirei o head fone e fiquei de ouvidos atentos, em menos de um minuto a dondoca soltou a frase: Benhêêê, você viu que aquele carro furou o farol e estacionou no passeio? ( traduzindo: Avançou o sinal e parou na calçada!!rs) Ponto para mim, recoloquei o Head Fone e me afastei dos “mano” , com um sorriso vitorioso. Logo a frente nova diversão, Três moças, aparentando seus sessenta e poucos anos, usavam Legging, tênis da moda, camisetas justas e sem mangas, seios de silicone, acreditem mulheres, nós sempre sabemos quando são comprados ou naturais, rabo de cavalo e bonés. Conversavam e caminhavam rápida e animadamente. Em minha análise, uma viúva e duas descasadas. Mulher daquela idade não anda em grupo se tiver marido em casa. Dessa vez seria mais difícil confirmar minha analise, apenas ouvir o papo não seria o suficiente, precisaria de uma estratégia. Caminhai próximo à elas uns 15 minutos, ouvindo parte do papo. Falavam sobre um evento que as três haviam comparecido na semana,o aniversário de uma tal Bebete, dona de uma bela casa no Jardim Botânico, dondoca e metida, ela não tinha silicone mas tinha marido filhos e netos, segundo minhas colegas de caminhada, Bebete só aturava Rodolpho por causa de sua conta bancária, pois Rodolpho era um safado cheio de mulheres na rua, isso segundo as “moças”. Consegui ouvir também algo que identificava as três como moradoras de Ipanema e frequentadoras do Bar do Tom. Deus ajudou, elas pararam para beber água de coco e foi minha hora de agir para confirmar minhas suspeitas. Pedi água de coco também e fingi ligar para alguém. Alo, oi Ju, tudo bem? Sabe se o pessoal vai mesmo ao Show no Bar do Tom? Ah, legal, vou ver e falo depois, beijo. Desliguei a falsa ligação, em menos de dez segundos uma das minhas vítimas sorriu e perguntou: tem Show no Bar do Tom hoje? Eu sorri e respondi: Não, é sexta feira, parece que vai tocar um coover dos Beatles ( na idade delas é quase impossível não curtirem Beatles). Úrsula, a mais falante logo tomou a frente: conheço, é o Túnel do Tempo, tocam sempre lá! E disparou: Um rapaz tão jovem gosta de Beatles? Era a senha para me sentar com elas e desenvolver o assunto. Preferi ficar de pé, pois apesar da curiosidade, minha intenção era exercitar também o corpo e não só a mente. Respondi que sim, que um grupo de amigos curtia muito e teria um aniversário lá e bla bla bla. Elas sorriam e novamente Úrsula a mais espivitada e mais perua tomou a palavra. Nós vamos sempre lá adoramos o lugar. Aproveitei e deixa e disparei: Estão todas convidadas, querem ir? Elas se entre olharam por instantes, intrigadas com a bola que eu com menos de trinta anos, dava para elas beirando os sessenta. Sorriram e disseram que gostariam sim, e aí eu tirei minhas dúvidas. Reservo 6 lugares? Para vocês e seus maridos? Úrsula ainda mais sorridente e animada se adiantou: que maridos menino? Vamos sozinhas, somos mulheres livres! Eu sou viúva e elas separadas, graças a Deus!! Nada de Marido criando barriga nos nossos sofás! Novo sorriso triunfante! Eu estava demais. Prometi fazer a reserva e me despedi com a desculpa que precisava encontrar amigos no parque dos patins ainda. Dois beijinhos em cada uma e as três cajazeiras (jovens procurem no Google algo sobre o clássico Odorico Paraguaçu ou “O bem Amado” ô saudade...), recoloquei o Head Fone e parti, mas antes de ligar a musica ouvi Úrsula comentar, Que Brotinho!! Definitivamente minha expressão preferida estava mesmo démodé!! Um minuto após retomar a caminhada pensei: para que tanto esforço? Bastava olhar se usavam alianças!! Dei mais um sorriso de mim mesmo e me lembrei da frase de Albert Einstein “Faça as coisas o mais simples que puder, porém não as mais simples”. Pensei um pouco sobre isso e resolvi me entreter com Vinicius cantando agora Garota de Ipanema. Fui reparando em mais algumas figuras exóticas mas sem tanto afinco e sem necessidade de confirmar minhas analises. Minha cabeça voltava a pensar na minha vida real. Ao final do passeio tomei uma decisão, voltaria para a Análise na próxima semana. Liguei para Esther e marquei para quarta feira no final do dia. Resolvi que ia ficar quietinho na minha uns dias, sem bagunçar muito a cabeça, longe dos bares e de Lully e Martha. Terça feira recebi um email de Lully que dizia: Bom dia Menino sumido, Está de mal comigo? Respondi que não, que apenas estava muito ocupado no trabalho, e me desculpei pela ausência. Ela disse que me desculpava se eu prometesse almoçar com ela quinta feira. Como poderia eu dizer que não? Respondi que sim e consegui manter minha promessa de me manter”puro” até a primeira sessão com Esther.