quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Capitulo 19 – “I'm lonely in London, London is lovely so...” Saudades de Lara




O banho de Lully foi demorado e isso me ajudou a pegar no sono sem maiores riscos. Me senti meio idiota trancando a porta mas,na hora, achei que era o melhor a fazer. Acordei na madrugada para beber água, por volta das quatro da manhã - coisa normal para quem tomou algumas doses de bebida. No caminho para a cozinha passei pelo quarto  de Lully que dormia como um anjinho. Ao contrario de mim, Lully adormeceu com a porta aberta, coberta apenas com um lençol que protegia seu corpo da suave brisa que corria na madrugada carioca. Fui até a cozinha sem acender nenhuma lâmpada para não perturbar seu sono. Abri a porta da geladeira e peguei a jarra com água. A cozinha era pequena e estava iluminada pela luz do luar. Era noite de lua cheia. Enchi o copo e fui até a janela da sala admirar a noite. Um silêncio quase que total e a noite iluminada por um luar inesquecível, daqueles de se pintar um quadro. Fiquei ali uns dez minutos, admirando a natureza. A janela da sala dava para o morro do Sumaré, onde ficam as torres de transmissão e também de telefonia celular. Um verdadeiro pulmão urbano. A brisa era fresca e agradável, e a noite me fazia pensar nas coisas boas da vida. Senti uma enorme alegria por estar fazendo a coisa certa. Fui bom ouvinte para Lully, a consolei, a distraí com meus amigos e abriguei a moça em minha casa resistindo bravamente a tentação sucumbir aos seus encantos. Nessa hora me deu uma enorme saudade de Lara.
Dizem que quando olhamos a Lua cheia e pensamos em alguém, é porque a pessoa em algum lugar também está olhando a Lua e pensando em você. Nesse momento pensei no rosto doce e perfeito de Lara, olhando a Lua lá em Londres. A vontade de estar perto dela foi tão grande que, se fosse possível, pegaria o primeiro avião para Londres. Alguns amigos dizem que eu gosto de sofrer. Deve ser verdade porque peguei meu diskman, coloquei um CD e voltei para a janela. Fiquei olhando a Lua e ouvindo no headfone:
“I'm wandering round and round, nowhere to go
I'm lonely in London, London is lovely so
I cross the streets without fear
Everybody keeps the way clear
I know I know no one here to say hello
I know they keep the way clear
I am lonely in London without fear
I'm wandering round and round, nowhere to go
While my eyes go looking for flying saucers in the Sky”
Ouvir “London, London” às quatro da manhã, olhando um luar bucólico e com a mulher por quem suspirava em Londres, tem um “q” de masoquismo; só pode ter. Derramei algumas lágrimas enquanto a música corria. No final, desliguei o aparelho, voltei para a cama e pensei: amanhã vou pedir a Esther para me explicar por que eu fiz isso...
Acordei com Lully me chamando. Quando voltei para a cama às quatro da manhã não tranquei a porta. Lully estava sentada na beira da cama,  acariciou meus cabelos e me chamou baixinho: “Acorda menino, acho que está na hora!”. Estava mesmo, hora de voltar a vida pois a sexta feira seria cheia.
Tomamos um café juntos na rua, conversando sobre a noite e sobre outros assuntos. Lully estava bem melhor, disse que voltaria hoje para casa e encararia todos de cabeça erguida, afinal ela não havia feito nada que a desabonasse. O vocabulário de Lully continuava a me impressionar. Pensei em falar com ela sobre Lara, mas como ela nunca me perguntou sobre namoradas, eu fiquei na minha. Fomos de carro para o centro, conversando. Lully era uma companhia muito agradável. Alto astral, acordara de bom humor apesar de tudo, e fez com que meu dia começasse de forma muito agradável. Estar perto de lully  era algo que me fazia bem. Chegamos no centro e ela me lembrou de algo que eu havia mesmo esquecido. Antes de descer do carro ela perguntou: “ O balé é hoje ou amanhã?” Minha inocente idéia ao consolar Lully virara uma promessa. Sem pensar muito disse que iria hoje mesmo ver os ingressos. Lully disse que preferia sábado pois queria estar bem linda para realizar um sonho de infância. A ficha caiu para mim, aquele balé não seria um simples programa e sim algo marcante para a doce menina moreninha que iluminava o carro com seu sorriso de ansiedade e expectativa.
Combinamos então que seria sábado. Os ingressos e ligar para marcar horário ficariam por minha conta. Meu sábado seria de Lully.
Fui para o trabalho e ao chegar, meu rosto se iluminou num sorriso. Um email de Lara me esperava:
“Olá meu amor, estou morrendo de saudades de você! Londres é linda, fria e cinza. Tenho me lembrado de você todos os dias. Hoje acordei cedinho, ainda estava escuro, aqui amanhece tarde. Cheguei na janela do quarto do hotel e estava uma lua linda. Imaginei a lua iluminando nossa cidade maravilhosa, refletindo na Lagoa Rodrigo de Freitas, uma cena de filme. Senti saudades de você, do seu perfume, do seu jeito de me olhar, me abraçar. Espero que esteja sentindo a minha falta e pensando bastante em mim. É bom ter alguém para sentir saudade, ter alguém para quem voltar. Chego no Brasil semana que vem, segunda feira. Se você for me buscar no aeroporto serei a passageira mais feliz de todas e você ganhará um beijo muito apaixonado. Fica com Deus,
Saudades,  da sua apaixonada
Lara”
Respondi o email de Lara contando sobre a coincidência de nós dois termos olhado a Lua na mesma noite, cad aum no seu hemisfério e no seu fuso. Falei da música que ouvi e disse que estava com muita, mas muita saudade, e que estaria no aeroporto esperando de braços abertos pela mais linda das mulheres.

Passei a manhã com um sorriso quase que permanente no rosto.
Comprei os ingressos para o balé na hora do almoço. Duas poltronas de galeria. Caro, mas nada que me deixasse mais pobre ou que se comparado a alegria que causaria para Lully.  Estava com minha cabeça bem resolvida nesse momento. Lully começava a se desenhar como uma boa companhia e logo pensei que minha vida ficaria calma agora. Namoraria Lara, e ficaria amigo de Lully. O fato de Lully ter dormido lá em casa e termos nos comportado direitinho, me fez acreditar que isso seria possível. Esse foi meu pensamento enquanto caminhava  com Zé para tomarmos um café na rua da Carioca. Lá havia uma cafeteria que também era uma cachaçaria e uma livraria. Era um dos melhores cafés do centro. Casarão antigo, pé direito alto e um mezanino. Mesinhas de madeira com tampo de mármore, decoração colonial, um balcão com doces e tortas de tirar o fôlego e qualquer um da dieta. Lá nada era barato, mas nada era ruim. Eu e Zé [íamos lá e sempre ficávamos na mesma mesa, lá no fundo no canto direito. O ambiente era agradável e sempre tocava uma musica de ótima qualidade e som baixinho, que não incomodava as conversas. Eu pedi logo a torta alemã e Zé foi de Brownnie. Conversamos um pouco sobre a vida, falei de Lara para meu amigo que sorriu  como quem se dá por feliz com meu aparente momento centrado e equilibrado.
Eu estava mesmo me sentindo seguro dos meus pensamentos, com uma sensação de leveza. Pedi o café e quando estava prestes a sair da cafeteria, minha surpresa. Lully conversava animadamente com o mesmo senhor que a acompanhava na Colombo. Sorridente, animada e à vontade. Havia um olhar terno entre eles. Novamente evitei os dois e não fui falar com eles. Aproveitei o  fato de o local estar cheio e saí de lá sem ser notado por Lully. Se Lully era só uma boa amiga, por que aquela cena me incomodou novamente? Fui andando de volta ao trabalho extremamente incomodado por ver Lully novamente com a mesma pessoa. Alguém que eu não conhecia. A curiosidade faz a mente fantasiar mil coisas. Estava  arrependido  novamente por não ter ido até a mesa. Fiquei muito incomodado e esse seria a primeira coisa que contaria a Esther! Ou Será que eu devo contar as coisas para Esther de forma cronológica? Minha paz e meu equilíbrio tinham ficado lá na cafeteria. Minha mente estava novamente nebulosa e sem saber o que pensar.  Quinze horas e quarenta e cinco minutos eu estava lá no sofá de Esther, me perguntando por que a paz havia abandonado meu coração tão rapidamente?
O meu coração ateu quase acreditou
Na tua mão que não passou de um leve adeus
Breve pássaro pousado em minha mão
Bateu asas e voou

8 comentários:

Angélica disse...

E agora? Quero saber a opinião de Esther...
Lennon, parabéns por mais um capítulo caprichado!

Anônimo disse...

Acho que nem Esther vai conseguir te entender... Freud, quem sabe... Mas... o que acontecerá quando Herculado vir os olhos de Lully brilhando no teatro??? Ansiosa pelo próximo capítulo... Curtindo muito.

Lennon Pereira disse...

Obrigado pelo seu comentário ANAonima. pelo jeito você é da torcida da Lully!, Beijos e até o próximo capítulo.

Lennon Pereira disse...

Obrigado Angélica, Esther está tendo muito trabalho com nosso amigo Herculano

Fabricio Jorge disse...

Lennon, vc é mesmo um "novelista". Sabe dosar a tensão.Hoje foi bem água com açucar, para aliviar a tensão, mas estou esperando a chapa voltar a esquentar.

Lennon Pereira disse...

Obrigado Fabricio!em breve voltaremos a ter fortes emoções!!

Ericka disse...

Torço tb pela Lully...

Lennon Pereira disse...

Olá Ericka, obrigado por acompanhar, mas... pq torce por Lully?