sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Capitulo 8 – A Primeira Sessão

Cheguei ao consultório de Esther as 17:45, quinze minutos antes do meu horário. O Consultório de Esther era como ela. Esther era uma senhora de cinqüenta e poucos anos, elegante, educada, esbelta, cabelos negros curtos, sempre com jóias discretas e de muito bom gosto, sempre muito bem vestida, educada e serena. O Consultório era requintado. Na sala de espera, dois sofás, ar condicionado sempre em torno de 22 graus, musica clássica ambiente, quadros de Monet na parede, tudo em tons pastéis. Sempre com revistas ou livros sobre artes e fotografia e ma mesinha café e água mineral. Esperar por Esther ali, era realmente descansar a mente, tudo ali nos leva a ficar tranqüilo e sereno. O tempo passou quase sem eu perceber, de tão entretido que estava com a sonata de Bach que tocava baixinho. Esther sorriu e me convidou a entrar. O Consultório também era um luxo. Ela numa poltrona de couro daquelas que tem até apoio para os pés, ao seu lado um sofá e à sua frente uma poltrona convidativa, com uma mesinha ao lado e sobre ela uma caixa de lenços de papel, muito úteis em certos momentos e ao lado um objeto que eu não sabia bem o que era. Nas paredes réplicas de Picasso e de Dali. Ela com seu sorriso receptivo e sereno iniciou a sessão com a deixa: Conte me Sr Herculano, o que o trás de volta a minha presença? Encerrou a frase e fiquei totalmente a vontade. Comecei a contar a ela sobre quem era Lully, primeiro a descrevi fisicamente, levei nessa etapa uns 5 minutos e depois passei a falar sobre seu trabalho, família e noivado. Esther apenas olhava e se comunicava pelo olhar comigo. Comecei então a detalhar sobre ela ser órfã de mãe, ter pai biscateiro, morar na cruzada e ser noiva de Bené ( o apelido é por minha conta), um motorista da linha 474., ao terminar tal descrição, dei uma pausa e Esther aproveitou a deixa para falar: E o Senhor está sem saber por que fala dela com tanto carinho, certo? Eu me entregara totalmente pelo modo de falar. Sem cerimônia continuei, Sim Esther, como posso eu me interessar por Lully? Ela é o passaporte para muitos problemas!! Vejo isso claramente, não sou cego, mas quando ela sorri para mim, ou quando sinto seu perfume ou mesmo cruzo meu olhar com o dela, parece que toda minha razão desce pelo ralo. Fico inebriado, envolvido e esqueço do mundo. O tempo para. Sinto nela um ar ingênuo e misterioso que me embriaga, me faz esquecer do pacote de problemas que vem a reboque... Tento me afastar, mas é só ela ligar ou mandar um email que me dá aquela vontade de estar perto dela, você entende? Perguntei eu idiotamente. Esther fez um sim com a cabeça e pediu a palavra. Esther era uma psicóloga que interagia e isso fazia com que eu adorasse suas sessões. Com seu ar de sabedoria, Esther me disse que eu não devia me cobrar tanto, que um romance nem sempre é uma sentença eterna e que paixões desse tipo são mais comuns do que eu penso, me disse para ser prudente, viver um dia de cada vez e também que devo mesmo conhecer melhor Lully, saber quem realmente ela é, e o que realmente pode representar. Pacotes podem ser ou não despachados, disparou Esther. Quando ela já imaginava que o problema era apenas esse eu continuei. Continuo me encontrando com Martha, eu já havia falado de Martha em outra sessão há algum tempo. Vejo nela um relacionamento sem riscos, a mulher inteligente, sedutora e que não quer compromisso. Com ela meu coração não dispara, mas fico a vontade e sem medo. Ela não representa riscos aos meus projetos de vida, não acredito ser alguém que me tiraria dos meus caminhos, vejo ela como uma grande amiga e que vez por outra me requisita para suprir suas carências de mulher desiludida com os homens. Esther novamente me interrompeu e dessa vez mais provocativa: Segurança Sr Herculano? Relacionamento sem envolvimento? Até onde não há envolvimento nessa cumplicidade de vocês? Essa amizade já é colorida há quase um ano, certo? Quem será que está se enganando nessa história? Pensei uns minutos e quando eu ia responder Esther novamente me interrompeu: Pense nisso Herculano, Viver é correr riscos. Não se pode controlar nem amarrar nosso destino nem nossos sentimentos. Podemos e devemos ser prudentes e equilibrados, mas sentimentos por mais maduros que sejam, não estão nas prateleiras para escolhermos aquele que melhor nos parece. Uma boa parte do sentimento está na química, no subjetivo, nas sensações, nos perfumes, no jeito de olhar, de tocar, de escutar. Não se pode analisar o currículo pessoal, familiar e social de uma pessoa, e decretar: é essa que eu quero gostar ou amar. Essas coisas ajudam, mas tem que haver a parte que é intangível. O Sr é por natureza um homem romântico, que já sofreu algumas desilusões e acha que agora pode controlar tudo e não se expor. Vou te contar um segredo: Isso não é possível e nem saudável. Vá para sua casa, pense na nossa conversa, viva o dia a dia e volte semana que vem para outro bate papo. É sempre um prazer recebê-lo aqui.; Saí do consultório de Esther pensativo. Eu imaginei que ela passaria a mão na minha cabeça e me diria faça isso ou aquilo, doce ilusão, ela como ótima profissional me fez pensar, refletir e procurar em mim respostas que antes eu não queria ouvir, nem perguntar. Do caminho liguei para casa dos meus pais e fui lá pegar a janta da mamãe. Casa dos pais é o lugar ideal para descansar o espírito. Jantei uma comida que adoro: Rabada com Agrião, uma delicia que só lá eu me atrevo a encarar. De sobremesa comi um delicioso pudim de leite e fiquei lá até as 11 assistindo ao Show do Milhão. Nada como as sandices do Sr Silvio Santos para a cabeça ficar livre de problemas. Saí de carro de lá e imediatamente a lembrança do almoço com Lully me veio a cabeça. Maldito rádio, assim que liguei ouvi a balada romântica na voz de Almir Sater: É preciso amor Pra poder pulsar É preciso paz pra poder sorrir É preciso a chuva para florir... Florir, me lembrou flor, Lully Flor, voltei para casa cantarolando baladas românticas e dormi como um anjo, sonhando com o dia seguinte...

3 comentários:

Angélica disse...

Maravilhoso!!!

Anônimo disse...

Ai meu coração!!! Não sei se devo chorar ou sorrir!!!

Lennon Pereira disse...

Obrigado Angélica! Quanto ao comentário do "Anonimo", Chore e sorria, viva suas emoções!
Abraços