terça-feira, 29 de novembro de 2011

Capitulo 21 – Lully e o Zepellin

Acordei cedo com a claridade entrando por um pequeno espaço entre as cortinas do quarto de Carol. Levantei da cama e reparei que Carol dormia ainda um sono gostoso.Ela era ainda mais bonita com a luz do dia. Sensual e uma beleza que vinha do jeito desprendido e crédulo da moça que conheci na noite do Rio de janeiro. Fui fechar a cortina mas não pude fazê-lo. Quando cheguei à janela fiquei enfeitiçado.

A janela do quarto de Carol ficava de frente para o Cristo Redentor. Amanhecer, céu azul e aquela vista deslumbrante eram sinais divinos de que minha vida estava mesmo entrando em uma nova fase. Fiquei ali, admirando o famoso presente doado ao Brasil pelo governo francês, num tempo em que os governos se presenteavam com coisas realmente significantes e não com  os Cavalos de Tróiade hoje em dia. Quando retornei vi que Carol estava acordada, quietinha, se deliciando com meu deslumbramento frente ao Redentor. “Lindo não é?”  perguntou a moça, dando-me a deixa para começar o dia com o pé direito: “Lindo sim e, como você, é ainda mais bonito pela manhã com o sol iluminando”. Eu acordara com raciocínio rápido e espirituoso. Carol me puxou para um beijo matinal, me deu um sorriso lisonjeiro e disse que eu não prestava. Estaria ela certa? Resolvi não pensar nisso. Correspondi o beijo e fomos tomar café.

Foi bom conhecer um pouco mais sobre Carol. Antes que ela começasse a contar qualquer coisa eu resolvi confessar minhas mentiras. Disse a ela que tudo que contei, ou quase tudo, na primeira vez era lenda. Que fiz tudo para impressioná-la. Para minha surpresa ela riu e, do alto dos seus 25 anos de sabedoria e experiência, me colocou no chinelo. “Eu sei que você mentiu para me impressionar. Eu também não estudo direito. Sou dona de uma loja de roupas femininas. Na verdade a dona é minha mãe, mas eu cuido de algumas. Sou formada em administração de empresas pela PUC e conto esse papinho de estudante para espantar interesseiros, ou homens desinteressantes. Você fez meu tipo. Confiante, falante, determinado. Gosto de homens assim, bem resolvidos e que vão atrás do que querem.”
Meu queixo só não caiu porque eu estava ocupado mastigando um delicioso sanduíche feito por mim mesmo na cozinha de Carol. A menina era muito mais esperta do que eu. Ela riu bastante das nossas mentiras, colocou mais café para nós dois e continuou as revelações: “eu tenho um rolo, sabe Herculano? Não quero me prender a ninguém. Ele também é enrolado, não sabe o que quer. Nós levamos a vida assim, sem ciúmes e sem perguntas. Gostei de você e te dei mole mesmo. Você achou que tinha me escolhido, não é tolinho? Um segredo Herculano, nós sempre escolhemos!”
Lá estava eu tendo aulas com Carol. A vida é mesmo imprevisível. Fiquei tão a vontade que contei para Carol sobre Lully e meu programa de sábado e mais uma vez Carol me surpreendeu: “Herculano, você precisa de umas dicas. Se é um programa tão especial para ela ir ao balé no municipal, você precisa dar um “tcham” na sua noite. Sabe o endereço dela não é? Então vem comigo.”
Carol me levou até uma de suas lojas, num shopping ali perto. Pediu que eu descrevesse Lully e que apontasse uma mulher com o corpo no mesmo estilo. Para minha sorte uma das vendedoras era o tipo de Lully. Carol pegou um vestido preto, justo, não muito curto, com um decote interessante e duas alcinhas -estava calor e seria perfeito. Ela pegou um papel, uma caneta, me entregou e disse: “Escreve aí Herculano, com sua letra! Quando vi esse vestido na vitrine pensei que ele seria perfeito para você usar hoje. Ele é lindo como você e como o Theatro municipal. Você será a mulher mais bonita da noite e eu, o homem mais orgulhoso. Uma roupa  especial, para uma noite especial, com uma pessoa especial. Passo na sua casa às 19:30h. Um beijo, Herculano.”

Carol era mesmo uma pessoa superior, ela estava curtindo minha história e ainda me ajudando, apimentando as coisas. Perguntei o preço e ela disse que era um presente. Seu pagamento seria a minha promessa de contar tudo sobre a noite num almoço,durante a semana. Agradeci, ela fez um super embrulho e mandou um funcionário entregar na casa de Lully.

Fui para casa dormir e me preparar para minha noite com Lully. Coloquei a roupa escolhida por Su na noite anterior e, às 19:30 estava eu ali, parado no Jardim da Alah, esperando por Lully.
Ela foi pontual e, quando entrou no carro e a luz interna a iluminou, eu fiquei sem ar e sem palavras. Lully ficara realmente deslumbrante no vestido. Maquiagem leve, batom vermelho, olhos pintados com lápis e uma leve sombra, brincos e um colar prateados davam um ar elegante àquela doce menina. Lully percebeu meu deslumbre, aproximou-se de mim e beijou meu rosto. “Chegou perto e perguntou: gostou? Estou bonita com o lindo presente que me deu?” Eu mal pude responder que sim com a cabeça e em seguida disse apenas: “muito linda você”. Ela agradeceu e ao meu ouvido sussurrou: “ Você está um gato e muito cheiroso.” A voz de Lully ao meu ouvido fez meu corpo todo se arrepiar. Fechei os olhos, senti seu perfume e suspirei uma, duas, três vezes até recuperar a concentração. Ela sorriu vitoriosa por ter me desconcertado e seguimos até nosso destino.

Lully estava encantada com tudo. O Theatro em si, os tapetes, as cortinas, as pinturas, o glamour, as pessoas bem vestidas e elegantes. Estava como uma cinderela no palácio. Linda e elegante, Lully ficava ainda mais bela com aquele brilho de encanto nos olhos. Procuramos nossos assentos e ficamos lá, lendo o resumo dos atos.Copélia era um clássico que reunia fábula, amor, magia, maldade, sonhos choro e alegria. Uma delicia de evento. Conversamos um pouco e Lully tinha as mãos frias de ansiedade. Quando tocou a campainha anunciando que o espetáculo ia começar, Lully me abraçou e falou baixinho: “Muito obrigado por me trazer aqui. Você é um fofo lindo. Sorri em silêncio. Eu estava sendo promovido de apenas fofo para fofo lindo. Recostei para assistir a dança-teatro. Lully ficou vidrada o tempo todo e mal piscou. Não quis nem se levantar no intervalo entre os atos. Aproveitou cada minuto, riu e chorou. Um choro emocionado e sincero. Eu estava amando proporcionar tal experiência à Lully, era minha recompensa.
“Se chorei ou se sorri
O importante é que emoções eu vivi...”


O Espetáculo acabou e Lully era o estereótipo da pessoa realizada. Um sorriso que não saía do rosto. Agradeceu mais algumas vezes, disse que amou tudo e que era o lugar mais lindo que já tinha ido, que jamais se esqueceria. Eu também estava feliz mas a noite e as surpresas não acabariam ali. Estava determinado a vencer as barreiras que eu mesmo impunha ao meu relacionamento com Lully. Eu sabia que o Theatro não seria o lugar ideal para uma conversa mais romântica. Inspirado pela idéia de Carol sobre o vestido, eu também preparara meus truques. Convidei Lully para continuarmos a noite e ela disse que sim, que estava feliz demais para voltar para casa. Pegamos o carro e seguimos par a Avenida Niemeyer.
Durante o dia liguei para um famoso bar da época que hoje já não existe mais, infelizmente. O Zepellin ficava ali na encosta do morro dois irmãos, próximo ao hotel Sheraton. O lugar era o paraíso dos apaixonados. Luz de velas, música ao vivo baixinha e romântica, uma vista linda  das praias do Leblon, Ipanema e Arpoador. A noite estava ajudando: lua cheia e muitas estrelas no céu.
Reservei uma mesinha na varanda. Quando chegamos lá os olhos de Lully voltaram a brilhar. Sentamos um ao lado do outro, com a desculpa de ficarmos de frente para a linda vista. Pedi Chandon e patê de Foie Grasscom torradas, para coroar aquele momento. Antes de fazer o pedido fiz um pedido especial ao cantor do dia. Disse a Lully que a noite era especial não só para ela mas para mim também. Disse que conhecê-la tinha sido uma coisa muito especial para mim, que aprendi muito com nossa convivência. Lully me olhava com um olhar doce, com admiração e leveza. Ela sorriu e disse que eu era alguém muito importante na vida dela e que gostava muito de estar perto de mim. Na hora do brinde falei baixinho no ouvido dela: “Pedi essa música para você!” e o cantor entoou:
“Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar

Ai, que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar

Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus
Só pra me provocar
Meu amor juro por Deus
Me sinto incendiar “


Olhei Lully bem de perto, no fundo dos olhos e quando minha boca já estava seca de tensão e vontade de beijá-la, uma mão tocou meu ombro e eu ouvi uma voz dizendo: "Boa noite Sr. Herculano.”


5 comentários:

Angélica disse...

Ahhh...quer matar a gente de curiosidade!!!
Quero mais e logo!

Ericka disse...

Isso não se faz......

Lennon Pereira disse...

Muito obrigado Ericka e angélica! amnhã vcs matam a curiosidade... beijos para as queridas leitoras!

Anônimo disse...

Já disse e repito: Herculano, você está se enrolando...kkkkk
Muuuuito bom esse suspense! Boa sacada!

Tatiana disse...

Ta cada vez melhor.....