terça-feira, 8 de novembro de 2011

A história de Herculano, Capítulos 3 e 4

Capítulo 3 – A Volta para casa. Eu e meus pensamentos
Homem é idiota mesmo. Voltei para casa todo feliz por ter sido chamado de Feioso... era um sinal de que eu devia abrir o olho, pois estava sentindo o pólen de Lully Flor.
Voltei no carro pensando nas nossas conversas, no perfume de Lully, no seu jeito doce de falar, no seu olhar ingênuo e às vezes penetrante. Quem seria aquela menina?Porque eu estava com aquela gostosa sensação que não sabia explicar?
Eram mais ou menos dez da noite, ao invés de ir para casa, me dirigi ao Estephanios, bar meio pé sujo, paredes brancas e janelas azuis e que virou febre na época. Lá sempre encontrava bons amigos para uma última dose, para bons papos ou uma roda de violão. Cheguei e encontrei logo uma mesa com uns seis amigos. Eles e já cantavam e tocavam violão no ritmo de quem tomou mais de 10 chopps. Empolgados, olhos fechados, em coro! Abraços, declarações de amizade eterna e coisas do tipo. Todos na nossa cativa mesa, na calçada ao lado da porta.
Sentei estrategicamente ao lado de Martha, minha melhor amiga do bar e também aquela com quem tinha mais afinidade. Ela me olhou e logo disparou: tá apaixonado amigo? Riu e disse: conheço você, está nos seus olhos! Conta para mim, quem é? Essa vai durar mais de 30 dias?
Era um defeito meu. Descrente com as mulheres, me apaixonava e me desencantava com a mesma facilidade, intensidade e rapidez. Tomamos mais uns 10 chopps enquanto eu cantava e contava animadamente a história de Lully. Martha bebia, me olhava ria das minhas palavras, me acariciava a cabeça como amiga querida que era. Por volta de meia noite, o violão entoou os primeiros acordes de um clássico de Caetano Veloso, “...Ah, esse cara tem me consumido. A mim e a tudo que eu quis. Com seus olhinhos infantis. Com os olhos de um bandido...” , Martha me acariciou os cabelos e me beijou levemente os lábios, em seguida sussurrou baixinho: você é um romântico inveterado. Vamos embora, me leva com você!
Sonhei com Lully e acabei dormindo com Martha. Dormir com Martha não era incomum. Éramos solteiros, com uma cumplicidade boa para conversas, desiludida com os homens, ela era minha versão feminina. Martha era a melhor definição que eu conhecia de amizade colorida. Tomamos café juntos, conversamos um pouco deixei Martha em casa e fui trabalhar, liguei o rádio e logo Lully invadiu o carro na voz de Lulu Santos “...quando um certo alguém, cruzou o seu caminho, e te mudou a direção...” Cheguei no trabalho e mandei um email para Lully: Adorei nosso papo de ontem, quero agora te contar da minha vida! O dia foi longo e de um silêncio ensurdecedor por parte de Lully.

Capítulo 4 – A arte de esperar
Lully não respondeu meu email. O dia passou e nada. Eu sem querer invadir o espaço ou parecer ansioso, evitei telefonar ou aparecer na repartição. Aproveitei o dia para atualizar meus afazeres internos. Almocei com Lucas, amigo de faculdade e executivo de sucesso. Lucas era o tipo que planejava a vida, escrevia os passos a seguir e cumpria rigorosamente a risca. Começou a namorar ainda na faculdade, namorou a vida toda com Júlia, uma loira de traços finos e personalidade forte. Lucas foi um menino rebelde que virou o adulto modelo e responsável. Agora que está estabelecido profissional e financeiramente, se dá ao luxo de tomar uns porres com os amigos, afinal ninguém é de ferro. Rico, inteligente, bem casado, bem empregado, careca, humor refinado e bom bebedor. Muitas vezes quis ser como ele, Cara realmente admirável!
Sentamos ali no Bar Luiz, na Rua da Carioca, Famoso e tradicional recanto de culinária alemã. O lugar é um pedacinho do Rio Antigo. Quadros na parede relembram a Rio Branco de mão dupla e com trilhos de bonde. Outros a Cinelândia, os Arcos da Lapa, a Igreja do Outeiro da Glória com a baía de Guanabara logo aos seus pés, antes da existência do Aterro. Saudades do Rio de Janeiro capital da República. Adamastor, nosso garçom de sempre interrompeu nossa viagem no tempo e trouxe dois chopps com aquele colarinho perfeito. Brindamos à amizade e fizemos nosso tradicional pedido. Kasseler com saladas de batata para mim e Bife à Milanesa também com a dita salada para Lucas. Depois do primeiro gole meu amigo me surpreende: Júlia está grávida Herculano! E Você será o padrinho!! Abri enorme sorriso pela honra com a qual meu amigo me presenteava naquele momento e por uns instantes esqueci o fato de Lully não ter respondido meu email. Lucas estava vibrante e contava os detalhes, falava sobre a ultra, sobre ouvir o coração do feto e etc. Aquele executivo que comandava equipes e movimentava milhões diariamente na multinacional onde trabalhava, era uma criança que ganhou bicicleta nova. Os pratos chegaram, deliciosos como de costume e nos deleitamos e ainda bebemos mais um chopp cada um. Ao final pedimos o apfelstrudel com chantilly e pagamos a conta. Dali, fomos para a Rua da Carioca no. 10, uma cafeteria instalada em um casarão secular, de pé direito alto e muito estilo. Café tipo exportação de primeira qualidade e ambiente agradabilíssimo. Sérgio o garçom, logo nos trouxe dois expressos. Lucas que passara o almoço entretido pela gravidez de Julia soltou a maliciosa pergunta: E as mulheres meu amigo, como andam? Foi a deixa que eu precisava, mas Lucas estava tão feliz que me limitei a dizer: têm um “broto” (sempre adorei essa expressão fora de moda!) na área, mas te falo dela em outra ocasião. Preferi não criar expectativas no meu amigo, afinal agora eu era um padrinho e tal status me tornava automaticamente um homem mais sério e responsável, ou ao menos deveria. Paguei a conta do café como se eu fosse o executivo, abracei meu amigo e partimos de volta para nossas obrigações. Passei a tarde aguardando Lully e nada. Meus pensamentos voavam pensando em mil motivos para seu silêncio. Será que o noivo a viu chegar de carona? Será que falei ou deixei de falar algo? Fim do expediente fui para casa dormir, pois na companhia de Martha, minha noite tinha sido de pouco sono e muita ação. Martha era mesmo o tipo de mulher que mantém um homem acordado, mas outro dia em me aprofundo nesse assunto, agora vou dormir. Deitei e quando já pegava no sono, um sms invade meu celular: Olá Menino, passei para deixar um beijo e desejar boa noite, ass. Lully. Meu diskman tocava o clássico de Roberto e Erasmo "olha você têm todas as coisas, que um dia eu sonhei para mim..." dormi e sonhei, com Lully...

4 comentários:

Kelly disse...

Parece mentira, mas coincidentemente eu estava ouvindo Roberto Carlos enquanto lia estes capítulos!
Tô curtindo muito!
bjs

Lennon Pereira disse...

Que bom gosto musical!!!

Anônimo disse...

Muito bom !! Já tou seguindo a história, aguardando a chegada da Lully...
Abs,
Zé Augusto

Lennon Pereira disse...

Valeu Zé! muito obrigado por acompanhar a história!!