terça-feira, 8 de novembro de 2011

Capítulo 5 – O Primeiro fim de semana.

Acordei recuperado na sexta feira, nada como uma bela noite de sono, nada como uma sexta feira. Cheguei cedo e para minha surpresa, logo pela manhã um email de Lully. Dizendo que também gostou muito do nosso papo no Ao Vivo e que não respondeu o email porque a repartição ficou sem internet, coisas do Brasil...trocamos alguns emails com amenidades e papo furado. Eu sabia que dificilmente veria Lully antes de segunda feira, afinal fim de semana é tempo de namorar, noivar, melhor desviar os pensamentos, tudo que eu não queria era pensar em Lully nos braços de Benevides. Já no fim do dia, um email dela perguntando sobre meu fim de semana. Pensei em não responder e fingir que já tinha saído, mas meu coração me mandou responder. Disse que tinha algumas coisas legais planejadas com amigos e que depois do trabalho iria beber com amigos no bar do Freitas na rua da Assembléia, um pé sujo onde bebia chopp em pé com uns amigos apoiando os copos mesas altas espalhadas pela calçada.
Lully mais uma vez me surpreendeu e perguntou se podia ir com uma prima que tinha ido visitá-la no trabalho. Sem pensar nas conseqüências, disse que sim, que seria um prazer. E marcamos lá as 18:30.
Encontrei os amigos pontualmente as 18 horas e começamos a comemoração costumeira. Chopp, Amendoin, piadas futebol, política e muito papo furado. Assumpção era sempre o mais assíduo e animado. Comunista de carteirinha, ele era um cara inteligente e centrado, desde que o assunto não fosse política. Evitávamos falar sobre isso enquanto sóbrios porem quando a bebida subia, soltávamos piadas para provocá-lo. As 18:30 um silêncio tomou conta do grupo, Lully chegava com sua prima, uma morena jambo, de cabelos lisos como os de Lully, 1,70 cm de altura, salto alto e um vestido justo, daqueles que fazem peões de obra caírem dos andaimes. Lully sorriu, beijou-me o rosto e apresentou Janifer, sua prima de Caxias, filha de uma tia distante doceira de mãos cheias, famosa na terra da Grande Rio. Apresentei as duas à Assumpção e aos demais companheiros. Os sorrisos de canto de boca eram inevitáveis. Todos me olhavam com aquele olhar que indagava como e onde eu descobrira aquelas belezinhas. Apresentei Lully como colega de trabalho e sua priminha nova na cidade. Nesse dia, ninguém mais falou sobre futebol ou sobre política. Todos queriam saber sobre Janifer, onde morava o que fazia, se voltaria a freqüentar o centro da cidade e tudo mais que puderam perguntar. Confesso que o sucesso de Janifer muito me agradou, pois deixou a atenção de Lully quase exclusivamente para mim. Conversamos muito, ela bebia o chopp com gosto e sorria com uma alegria que há muito eu não via, ou não reparava em uma mulher. Às 21 horas, o Freitas começou a nos expulsar, pedimos a última rodada e sugeri às meninas que pegassem carona com Rui, um amigo de chopp que era casado, tinha 1,60 cm e uns 120 kilos. Rui morava com a mãe, uma aristocrata que vivia da pensão do falecido marido, Falecido general da época da ditadura. Rui era inofensivo e meio bobo ao ver mulheres, não ofereceria nenhum perigo pegar carona com ele. Na despedida foi minha vez de sussurrar ao ouvido de Lully: sentirei sua falta... ela sorriu e respondeu com a perspicácia e rapidez típica das mulheres: e eu do seu perfume. Sorriu, piscou o olho e saiu com Janifer e Rui em direção ao carro dele. Rui morava em copa, mas iria até o Leblon deixá-las na Cruzada. Assim que viraram a esquina, Assumpção e os demais pediram mais uma dose e me obrigaram a contar detalhadamente onde havia descoberto aquelas delicias. A Saídeira acabou as duas da manhã, no Extinto Roquinha da Tijuca na rua General Roca, onde ainda tomamos mais uns 10 chopps e comemos umas cinco rodadas do tri-leão, um sanduiche cortado a francesa que era feito de pão Frances, contra-filé, queijo provolone e orégano. Tudo naquela famosa chapa onde seu Manoel, um português do sotaque carregado e torcedor do Flamengo ( acreditem é verdade), fritava ovos, frango, porco e tudo mais que estivesse no cardápio. Esse era o segredo do tempero maravilhoso do sanduba. Saímos de lá bêbados, abraçados e cantarolando a famosa letra de Zé Ketti “...Se alguém perguntar por mim,
Diz que fui por aí, Levando um violão debaixo do braço,Em qualquer esquina eu paro
Em qualquer botequim eu entro, e se houver motivo, é mais um samba que eu faço
Se quiserem saber se volto, diga que sim, mas só depois que a saudade se afastar de mim...”
Sábado acordei as duas da tarde, bebi um litro d´água e ocupei o fim de semana com futebol, bares, praia e um samba de roda no fim do domingo. De primeiríssima qualidade, numa roda formada basicamente por mulheres que cantavam e tocavam. A freqüência era ótima e dez tulipas de chopp me fariam adormecer sem aquela sensação ruim de fim de domingo. O samba era no Estephanios e fui para lá logo após o jogo no Maracanã. Era ponto de encontro dos amigos. Eu bebia sentado com a turma, já pensando em ir para casa ver os gols do fantástico quando Martha chegou e sentou se com o grupo.
Como prometido anteriormente, falarei mais sobre Martha nesse momento. Ela era uma moça simples, não tinha um corpo de academia, nem era daquelas de chamar a atenção na rua. Clarinha, cabelos curtos no ombro, cheios, castanhos e pesados, estilo Chanel. Olhos amendoados e levemente puxados, sobrancelhas marcantes, pouca maquiagem e de brincos sempre discretos. Os encantos de Martha eram outros, ela era aquela mulher que encantava os homens pela personalidade e pela inteligência. Formada em sociologia, trabalhava na UERJ. Conhecia tudo sobre musica, muito sobre história e sobre o comportamento humano. Tinha um olhar firme, seguro e só era desiludida com os homens porque comeu o pão que o diabo amassou com seu último namorado. Tem mulher que tem dedo podre e esse parecia ser o caso de Martha. Havia se apaixonado por um playboy, músico desempregado, que largou os estudos para cantar em uma banda e fumar baseado nas horas vagas. Sustentado pelo pai, bom de papo e encantava as meninas pelo charme que o palco e as luzes exercem sobre os reles mortais. Martha sofreu por três longos anos com Ricci, desde então estava há dois anos sem se envolver com ninguém.
Lá estava ela sentada ao meu lado. Pediu um chopp, acendeu um Free e soprou a fumaça em meu rosto perguntando: Ainda apaixonado querido? Crueldade pura da Martha. Mais uma de suas características, crueldade, sagacidade. Martha me conhecia, e sabia que sua chegada e seu olhar para mim eram quase fatais, principalmente após olhar minha comanda e ver que já estava no sétimo chopp.
Eu sorri para ela tentando fugir da pergunta, mas seu olhar não me dava alternativas. Disse a ela que não era paixão, apenas uma sensação diferente talvez originada pelo mist´reio por trás do sorriso de Lully. Ela deu de ombros soprou a fumaça pro alto e disparou o tiro de misericórdia. Dirigiu-se à roda de Samba e cochichou um pedido no ouvido de Bia, uma de nossas amigas do grupo que tocava. Sentou-se e disse, pedi uma musica para você meu amigo, se você acertar quando a musica tocar ( faltava ainda mais uma hora de samba), vai ganhar um presente especial. O papo continuou animado por mais um tempo quando o grupo entoou a celebre obra prima de Cartola:
“...Tive, sim
Outro grande amor antes do teu
Tive, sim
O que ela sonhava eram os meus sonhos e assim
Íamos vivendo em paz
Nosso lar, em nosso lar sempre houve alegria
Eu vivia tão contente
Como contente ao teu lado estou...”
Na primeira frase olhei para Martha com um olhar cúmplice, e ela sorriu confirmando que eu havia acertado em cheio. Bebeu o chopp da minha tulipa e beijou-me ainda com chopp na boca. Meu fim de domingo foi realmente surpreendente e compensador. Martha sabia como me seduzir. Saímos de fininho sob os olhares risonhos do grupo, alguns admirados, outros condescendentes e outros um tanto quanto intrigados com nosso pseudo romance.
Tomamos um belo café da manhã segunda feira e dessa vez deixei Martha na UERJ e me dirigi ao Centro da cidade. Dessa vez confesso que com a cabeça ainda lembrando dos encantos soberanos de Martha. No caminho pensei o quanto Ricci era idiota.
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